Temer ganha fôlego, mas crise segue, dizem aliados

Igor Gadelha

10/06/2017

 

 

Após vitória no TSE, líderes de partidos da base do governo afirmam que uma eventual denúncia da PGR se manterá como ameaça sobre o presidente

Líderes da base aliada avaliam que o resultado do julgamento da chapa Dilma Rousseff- Michel Temer no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a favor do presidente dá um fôlego, mas não traz tranquilidade ao governo. Governistas afirmam que Temer seguirá ameaçado por eventual denúncia que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, deve apresentar contra ele com base na delação da JBS.

“Não acaba com a crise. Temos que monitorar se houver instabilidade para o País com fatos relevantes”, afirmou o líder do PSDB na Câmara, Ricardo Tripoli (SP). Segundo ele, além da absolvição pelo TSE, a legenda vai levar em conta os “14 milhões de desempregados” que o País tem hoje, ao decidir sobre o desembarque ou não do governo. A decisão será tomada durante reunião marcada para esta segunda-feira.

Para o líder do PR na Câmara, José Rocha (BA), a absolvição de Temer pelo TSE é positiva para o governo, mas não encerra a crise política. “A cada dia podem surgir fatos novos. Estávamos na expectativa do TSE, agora da denúncia da PGR e continua a expectativa das delações, se o (doleiro Lúcio) Funaro vai delatar, se (o ex-assessor de Temer e suplente de deputado, Rodrigo) Loures, vai relatar”, afirmou Rocha.

O líder do PSD, deputado Marcos Montes (MG), avaliou que o resultado do TSE melhora o cenário Temer, mas não o faz “navegar em mares calmos”. Segundo ele, a decisão da corte dá a Temer uma “força relativa”. “Ele vai ficar na corda bamba, mas vai se equilibrar”, afirmou. Montes afirmou, porém, que dois fatos podem “afinar” a corda: o desembarque do PSDB e possíveis delações “bombásticas”.

Desembarque. A avaliação é a de que uma eventual saída dos tucanos da base aliada tem potencial para provocar um desembarque em cascata de outras legendas.

A bancada do PRB, por exemplo, já marcou reunião também para segunda-feira para avaliar o cenário pós-TSE/PSDB. “Hoje nossa posição é a de se manter no governo, mas aguardamos o desfecho das situações e estamos acompanhando movimento dos demais partidos”, disse o líder da sigla, deputado Cleber Verde (MA).

Líderes da base avaliam ainda que uma eventual denúncia da PGR hoje não passa na Câmara, mas, dependendo de seu teor, o cenário pode mudar. “Hoje não passa, mas se ela for pesada, complica muito mais. Não só o teor, mas as comprovações”, afirmou Montes. O parlamentar avaliou que o TSE julgou Temer mais em uma “linha eleitoral”, deixando, com isso, a parte criminal para que o Supremo analise.

PARA LEMBRAR

Presidente fez 2 indicações

O presidente Michel Temer fez duas indicações para o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) neste ano. Em março, o presidente assinou a nomeação do jurista Admar Gonzaga para entrar no lugar do ministro Henrique Neves, cujo mandato se encerraria em 16 de abril. Na época, Temer foi aconselhado a indicar Gonzaga antes de 4 de abril, quando o TSE começou a julgar o processo que pedia a cassação da chapa formada por ele e Dilma Rousseff na eleição de 2014.

A estratégia do presidente, ao anunciar a escolha de Gonzaga para a cadeira de Neves antes do prazo, teve o objetivo de pôr fim a comentários de que ele só estava indicando o jurista para protegê- lo da perda de mandato na corte eleitoral.

Em abril, Temer fez a segunda nomeação no TSE, com o jurista Tarcísio Vieira de Carvalho em substituição a Luciana Lóssio, cujo mandato terminou em 5 de maio. O nome de Vieira constava de uma lista tríplice feita pelo Supremo Tribunal Federal e enviada a Temer.

O advogado era ministro substituto do TSE desde 2014, tendo sido reconduzido ao cargo em 2016

 

O Estado de São Paulo, n. 45161, 10/06/2017. Política, p. A7