Após TSE, Planalto se volta para o Congresso

Vera Rosa

10/06/2017

 

 

Vaivém do PSDB abre espaço para ‘baixo clero’ do Centrão crescer no governo Temer

 

Depois do julgamento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a estratégia montada pelo Palácio do Planalto é uma ofensiva contra o procurador- geral da República, Rodrigo Janot, e os rumos da Lava Jato. Para “desconstruir” Janot e também o ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), Temer espera contar com o Congresso, na tentativa de impedir o avanço de provável denúncia contra ele.

A absolvição do presidente pelo TSE não significa o fim da crise. O governo precisará de pelo menos 172 votos na Câmara para barrar a esperada acusação do Ministério Público. Em conversa reservada, um ministro próximo do presidente disse ao Estado que a maioria dos deputados, com receio da Lava Jato, não vai fortalecer Janot nem Fachin nessa ‘‘batalha’’. Temer é investigado por corrupção passiva, obstrução de Justiça e participação em organização criminosa.

Com a ameaça do PSDB de deixar a base aliada, o bloco conhecido como Centrão se reaglutinou e agora cerra fileiras em defesa de Temer, apresentando- se como “alternativa” aos tucanos. O grupo reúne cerca de 150 deputados e pode ser o fiel da balança para salvar o presidente de eventual cassação do mandato.

O PSDB parece cada vez mais próximo do desembarque, mas a decisão final sobre a permanência ou não no governo será tomada somente na próxima segunda- feira, em reunião do Diretório Nacional. Formado por partidos de médio porte, como o PP, PR, PTB, PRB e PSC e abrigando muitos parlamentares do “baixo clero”, o Centrão enxergou nessa turbulência a oportunidade para oferecer um “ombro amigo” ao presidente.

“Na crise, orai; na bonança, cantai louvores. E eu quero cantar louvores”, disse o presidente do PTB, Roberto Jefferson, que na quarta-feira levou a bancada para um encontro com Temer.

“Eleição direta só para presidente não dá. Por acaso o escolhido iria se ajoelhar para esse Congresso que está aí? Qualquer que seja o nome, não terá força para impor nada”, afirmou o senador Telmário Mota (PTB-RR).

Cargos. Grupo do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o Centrão praticamente se desintegrou após a prisão do peemedebista na Lava Jato, no ano passado. Com o cerco se fechando em torno de Temer, porém, o bloco ganhou importância e está de olho em vagas hoje controladas pelo PSDB.

É o caso, por exemplo, do Ministério das Cidades, ocupado pelo deputado licenciado Bruno Araújo (PSDB) e cobiçado pelo PP, que hoje comanda a Saúde.

A garantia de governabilidade dada pelo bloco a Temer espera, ainda, recompensa com cargos em estatais e diretorias de bancos. Mesmo que o PSDB não deixe a base agora, o Centrão promete ficar ao lado de Temer, à espera do melhor momento para ampliar o seu espaço.

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‘Crise não será mais forte do que nós’, diz almirante

Tânia Monteiro

10/06/2017

 

 

Ao lado do presidente Michel Temer, o comandante da Marinha, almirante Eduardo Bacelar Leal Ferreira disse ontem que “por mais grave” que a crise se apresente, ela “não será mais forte do que nós”. A fala do almirante foi durante as comemorações do Dia da Batalha Naval do Riachuelo, em Brasília.

Ao mesmo tempo em que ocorriam as comemorações no Grupamento de Fuzileiros Navais, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) reiniciava a sessão de julgamento da ação contra a chapa Dilma-Temer – que acabou absolvendo os dois e mantendo o mandato do presidente.

No seu discurso, o almirante afirmou que “vivemos tempos difíceis e incertos”, mas pediu aos militares que mantenham “hierarquia e disciplina”. Ferreira disse ainda que a Marinha junto com Exército e Aeronáutica “cumprirão rigorosamente os deveres constitucionais”.

O almirante fez também uma comparação entre a vitória do almirante Barroso na batalha de Riachuelo, durante a Guerra do Paraguai, com as “condições adversas” enfrentadas hoje no País. Segundo disse, é preciso “enfrentar as dificuldades do presente com coragem”.

Mais tarde, questionado pelo Estado sobre esse paralelo, o almirante declarou que não opinaria sobre a crise política de hoje, pois “não lhe compete”.

Ao abordar as dificuldades vividas no Brasil, Ferreira aproveitou para fazer um apelo para que sejam mantidos os recursos da Marinha. Segundo ele, para que possam continuar defendendo o País, “a despeito dos problemas internos”.

Base aliada. Em entrevista, ao final da cerimônia, o ministro da Defesa, Raul Jungmann, disse que o PSDB vai continuar com o governo. Questionado sobre o futuro de Temer, ameaçado também pelo possível desembarque dos tucanos, Jungmann disse que o ministro da Secretaria de Governo, Antônio Imbassahy, lhe “confidenciou” que isso não acontecerá.

“Ele (Antônio Imbassahy) disse que teve numerosas conversas e que a tendência do partido é continuar na base do governo”, declarou. A permanência do PSDB na base do governo será discutida em reunião do Diretório Nacional do partido, na próxima segunda-feira.

Sobre a ação que o Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, ameaça apresentar na semana que vem, Jungmann respondeu que “há independência dos poderes”, mas ressalvou que é preciso que haja “respeito ao devido processo legal, aos processos, à instância, à figura do presidente da República e, sobretudo, à Constituição”.

O ministro não quis responder, no entanto, se achava que havia perseguição de Janot a Temer. “Não acho nada”, observou. Indagado se considerava que o presidente Temer teria força para seguir governando, o ministro respondeu que Temer tem mantido a governabilidade.

“Eu sempre tive visão de que este governo, pela forma como se deu, seria um governo difícil, não seria um governo fácil. Nunca me iludi a este respeito. E essas dificuldades, vocês todos sabem, não adianta nos iludir, têm se intensificado. Mas, no meu modo de entender, o governo continua e tem tido até aqui a capacidade de se manter governando e tem mantido a governabilidade, e isso é o que importa para o Brasil.” Jungmann voltou a repetir a mensagem de respeito à Constituição.

“Dentro da Constituição, tudo, fora da Constituição, nada”, reiterou ele. “As Forças Armadas têm missão de Estado e constitucional, por isso não nos cabe entrar neste tipo de debate (político)”, emendou.

 

O Estado de São Paulo, n. 45161, 10/06/2017. Político, p. A10