Aécio e Tasso tentam mostrar consenso, após crise interna

MARIA LIMA

23/08/2017

 

 
 
Almoço tenta estabelecer paz no PSDB, abalado com programa de TV

“Ninguém me pediu nada e nem eu entreguei nada (sobre as demandas da ala governista do PSDB)”

Tasso Jereissati

Presidente interino do PSDB

 
Ao final de uma semana de disputa que abriu um racha há muito não visto no partido, o presidente interino do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), aumentou ainda mais o tom de desafio com a ala governista da sigla ontem pela manhã. Ao longo do dia, no entanto, os tucanos se esforçaram para acalmar os ânimos e pacificar o clima. Os principais nomes do partido se reuniram em um almoço, onde Tasso esteve lado a lado com o senador Aécio Neves (MG).

A ordem agora, segundo os presentes, é evitar debater o assunto publicamente, tocar as convenções e preparar a escolha do candidato ao Planalto ano que vem. Amanhã, Tasso reunirá os 27 presidentes de diretórios estaduais para definir o calendário de convenções e discussão de mudanças programáticas para “reconectar o partido com as ruas”.

— Ninguém me pediu nada e nem eu entreguei nada — disse Tasso na saída do encontro.

Desde a veiculação do programa de TV com críticas contundentes ao “presidencialismo de cooptação”, a ala governista cobrava a retirada do senador do comando da legenda. Logo pela manhã, Tasso desafiou Aécio, presidente licenciado, a atender ao apelo dos governistas para retirá-lo do cargo. Depois do almoço ao lado de Aécio, no entanto, tentou se criar um clima de pacificação.

De manhã, Tasso havia partido para o ataque. Ao ser questionado sobre a decisão do grupo de governistas tucanos de lhe enviar uma carta pedindo que entregue a interinidade para outra pessoa, reagiu duramente:

— O que é a ala majoritária? Eles que vão ao Aécio e digam: “Aécio, tira o homem, que ele não nos representa". E provem que são majoritários. Se não tivesse um presidente efetivo, tivesse que ir para a Executiva, aí seria mais complicado. No nosso caso, é simplérrimo.

Deputados e os governadores do Pará, Simão Jatene, e de Goiás, Marconi Perillo, também participaram do almoço.

— Foi sensato. Estava muito ruim. O assunto de afastar Tasso está morto. O partido vai olhar para adiante, fazer seu planejamento, cuidar do seu projeto e preparar para a escolha do nosso candidato a presidente — disse o senador Eduardo Amorim (PSDB-SE).

Coube a Tasso, durante o almoço, tocar no assunto do programa e na repercussão que gerou. Mais uma vez, repetiu que a intenção não foi fazer crítica direta ao presidente Michel Temer ou aos ministros, mas sim falar das dificuldades para a governabilidade no sistema presidencialista. O secretário geral do PSDB, deputado Sílvio Torres (SP) , disse que não há força interna capaz de afastar Tasso:

— O pessoal todo no almoço estava querendo acalmar o ambiente. O programa foi um rato que pariu uma montanha, nada tão grave que justificasse a retirada de um presidente. Agora é deslocar a discussão sobre ficar ou não no governo para segundo plano.

 

Tasso já conquistou o apoio de dois pré-candidatos do PSDB a presidente: o prefeito de São Paulo, João Doria, e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.

O globo, n.30697 , 23/08/2017. PAÍS, p. 4