Tucanos tendem a votar a favor de denúncia na CCJ

Marcelo Ribeiro e Raphael Di Cunto

14/06/2017

 

 

Com divergências entre a cúpula e a ala mais jovem do partido, o PSDB não desembarcou do governo do presidente Michel Temer na segunda-feira, mas indicou ontem que não deve articular para impedir que uma eventual denúncia da Procuradoria-Geral da República contra o pemedebista seja acatada pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) da Câmara dos Deputados.

O líder do partido na Casa, deputado Ricardo Tripoli (SP) afirmou ao Valor PRO, serviço de notícias em tempo real do Valor, que não fará alterações na composição do colegiado, mesmo que se conclua que a maioria dos tucanos integrantes da comissão é favorável a admitir a denúncia contra o presidente. Nos bastidores, dos sete integrantes do PSDB na CCJ, seis seriam favoráveis ao recebimento da peça de acusação.

Os deputados Betinho Gomes (PSDB-PE), Elizeu Dionizio (PSDB-MS), Fábio Sousa (PSDB-GO), Jutahy Junior (PSDB-BA), Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG), Rocha (PSDB-AC) e Silvio Torres (PSDB-SP) são os titulares do partido na comissão. Cautelosos, eles evitaram fazer prognósticos sobre como devem votar caso a PGR apresente uma denúncia contra o presidente ao Supremo Tribunal Federal (STF).

Fábio Sousa foi o único que não escondeu estar mais inclinado a votar para que a denúncia seja encaminhada para votação no plenário da Câmara dos Deputados. "A princípio, votarei pela admissibilidade", disse.

Diante da expectativa de que a maioria dos tucanos votaria pela admissibilidade, Tripoli descartou ao Valor PRO fazer alterações na composição da bancada na CCJ. "Não acredito que a cúpula do partido me pressionará a fazê-lo", afirmou o líder do PSDB na Câmara.

As divergências internas não são exclusividade do PSDB. Primeiro partido a desembarcar da base, o PSB vê o seu presidente Carlos Siqueira trabalhar para retomar o controle da bancada na Câmara, hoje alinhada ao governo e ao ministro de Minas e Energia, Fernando Filho (PSB-PE). O partido, que abriu processo de expulsão dos parlamentares que votaram a favor da reforma trabalhista, filiou dois deputados com posição próxima à cúpula.

A estratégia é usar o comando dos diretórios que tiveram os presidentes destituídos por apoiarem o governo Temer e as reformas para atrair novos parlamentares. O deputado Odorico Monteiro deixou o Pros para assumir o comando do PSB no Ceará - antes presidido pelo deputado Danilo Forte.

Hoje, o deputado Valtenir Pereira (PMDB) se filiará para controlar o diretório do Mato Grosso no lugar do destituído deputado Fábio Garcia.

Segundo um pessebista, o partido só não filiou ainda ninguém no Mato Grosso do Sul e Roraima porque não encontrou deputados dispostos e que atendam a linha da legenda, de votar contra a reforma da Previdência, a favor da emenda das eleições diretas e da autorização para que o Supremo Tribunal Federal (STF) julgue se torna o presidente Michel Temer réu.

No Mato Grosso do Sul, a presidente era a atual líder da bancada na Câmara, deputada Tereza Cristina. A expectativa é de que, com as filiações e saída de parte dos deputados, a cúpula volte a ter maioria na bancada e realinhe o partido na oposição ao governo Temer.

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4276, 14/06/2017. Política, p. A7.