Repasse da Odebrecht e relação com Geddel na mira

23/08/2017

 

 

Doleiro promete explicar entrega de R$ 10 milhões acertada em reunião

 

-BRASÍLIA- Nas tratativas iniciais com vistas ao acordo de delação premiada, o doleiro Lúcio Funaro se comprometeu a falar sobre sua suposta participação na entrega de dinheiro no escritório do advogado José Yunes, amigo e ex-assessor especial do presidente Michel Temer. Ele também falaria sobre as relações que mantinha com o ex-ministro Geddel Vieira Lima, responsável pela interlocução entre Temer e o empresário Joesley Batista, dono da JBS.

Os dois casos estão relacionados ao presidente. Pelas investigações da Operação LavaJato, Funaro teria participado do repasse de parte dos R$ 10 milhões que a Odebrecht transferiu para o PMDB após uma conversa entre Temer, o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, Marcelo Odebrecht, ex-presidente da construtora, e Cláudio Melo Filho, ex-diretor de Relações Institucionais da empreiteira. O encontro aconteceu no Palácio do Jaburu, em maio de 2014.

Num depoimento à Polícia Federal, logo depois de começar a negociar a delação, Funaro disse que Geddel, um dos ministros mais fortes no início do governo Temer, era mesmo o interlocutor de Joesley Batista no governo. Quando o ex-ministro saiu de cena, o posto ficou com Rodrigo Rocha Loures, outro ex-assessor especial de Temer, preso depois de filmado recebendo uma mala de dinheiro de Ricardo Saud, um dos operadores da propina da JBS.

 

MESADA DE JOESLEY

Funaro deverá explicar ainda a razão dos repasses que recebia de Joesley Batista, mesmo depois de ter sido preso. Na delação premiada, Joesley disse que fazia pagamentos para manter o silêncio de Funaro e de Cunha. O empresário até menciona o caso da conversa que teve com Temer, no Jaburu, na noite de 7 de março deste ano, ponto de partida da delação que atingiu o presidente, o senador Aécio Neves (PSDBMG) e outros políticos.

Após a formalização da delação, o material, incluindo os anexos em que o doleiro promete apresentar provas sobre crimes de que teve conhecimento ou participação, será enviado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao Supremo Tribunal Federal (STF) para que o acordo seja homologado.

Antes mesmo de ser concluída, a delação de Funaro já teve consequências práticas. Foi a partir de um depoimento dele que a Justiça Federal decretou a prisão de Geddel. O ex-ministro está hoje em prisão domiciliar em Salvador. Geddel é acusado de telefonar várias vezes para a mulher do doleiro para sondar a disposição dele em firmar o acordo de delação.

O globo, n.30697 , 23/08/2017. PAÍS, p. 5