Joesley volta ao Brasil e vai depor à PGR

André Guilherme Vieira e Alda do Amaral Rocha

14/07/2017

 

 

De volta ao Brasil desde domingo, o sócio da J&F, Joesley Batista, deverá prestar novas informações à Procuradoria-Geral da República (PGR) em Brasília a partir de hoje, conforme apurou o Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor. O empresário fará esclarecimentos adicionais sobre o suposto envolvimento do presidente da República Michel Temer no que seria um esquema de pagamento de propinas a políticos com contrapartidas ao grupo empresarial.

Joesley confrontará a versão apresentada por Temer, afirmando inclusive que o presidente sabia que o jato em que ele voou para Comandatuba (BA) com a primeira-dama Marcela, em 2011, pertencia à JBS. Temer é investigado por supostos crimes de obstrução à Justiça, corrupção passiva e organização criminosa em inquérito que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF). O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, deverá denunciar Temer como sendo o líder de uma suposta organização criminosa que envolveria políticos do núcleo duro do pemedebista, como o agora ex-deputado federal Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR).

Loures foi preso preventivamente pelo recebimento de mala com R$ 500 mil em dinheiro em 28 de abril, entregue pela JBS e que teria o presidente como destinatário final, segundo a PGR. A entrega dos valores, realizada em São Paulo, foi filmada pela Polícia Federal (PF) durante uma ação controlada conduzida pelos policiais e autorizada pelo ministro Edson Fachin, relator da Lava-Jato no STF.

De acordo com nota divulgada ontem à noite por Joesley, por meio de sua assessoria, o empresário "se ausentou do Brasil nos últimos dias para proteger a integridade de sua família, que sofreu reiteradas ameaças desde que ele se dispôs a colaborar com o Ministério Público".

Ainda conforme o comunicado, "Joesley Batista estava na China - e não passeando na Quinta Avenida, em Nova York, ao contrário do que chegou a ser noticiado e caluniosamente dito até pelo presidente da República".

A nota diz também que Joesley "está pessoalmente à disposição do Ministério Público e da Justiça brasileiros para colaborar de forma irrestrita no combate à corrupção".

Na segunda-feira, Joesley Batista e o ex-diretor de Relações Institucionais da JBS e também delator Ricardo Saud prestaram depoimento ao Ministério Público Federal (MPF) em Brasília, em um procedimento investigativo criminal (PIC) sigiloso aberto pelos investigadores na semana passada, com o objetivo de apurar fatos narrados pelos sete delatores ligados à JBS e que são relacionados à Operação Bullish.

Os dois falaram por cerca de três horas, do fim da manhã até o meio da tarde de anteontem. Eles foram ouvidos sobre supostos pagamentos de propinas de até R$ 150 milhões que teriam sido destinadas ao PT em contas no exterior. O suposto esquema teria contado com a intermediação ex-ministro da Fazenda de Dilma Rousseff, Guido Mantega, que nega envolvimento em crimes.

Deflagrada em 12 de maio, a Bullish apura supostas fraudes e desvios de R$ 8 bilhões em aportes do braço de investimentos do BNDES, o BNDESpar, de 2007 a 2011.

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4276, 14/06/2017. Política, p. A8.