Maioria do Conselho de Ética é contra a cassação

Julia Lindner

03/06/2017

 

 

Senadores de PMDB, PT, PP, PMDB e DEM consideram votar contra pedido de sanção a Aécio para evitar a abertura de precedentes na Casa

 

 

Conselho de Ética do Senado deve optar por manter o senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG) no cargo. Levantamento feito pelo Estado revela que PMDB, PT, PP, PSDB e DEM, com 9 dos 15 integrantes do órgão, consideram votar contra o pedido de cassação para evitar a abertura de precedentes na Casa.

Aécio foi alvo de representação por quebra de decoro parlamentar apresentada pelo PSOL e pela Rede há cerca de duas semanas, mas o pedido não foi analisado até agora porque a instalação do conselho tem sido adiada desde o início do ano. O documento é baseado na abertura de inquérito contra Aécio no Supremo Tribunal Federal (STF) por suspeita de recebimento propina e obstrução de Justiça.

A consulta aos senadores foi feita antes de a Procuradoria-Geral da República (PGR) apresentar denúncia contra o senador ontem, mas nos bastidores os parlamentares dizem que somente a prisão do tucano poderia justificar eventual cassação.

O pedido de prisão do senador pelo procurador-geral Rodrigo Janot foi rejeitado pelo ministro Edson Fachin, do STF, que determinou o afastamento de Aécio do cargo parlamentar. Após o desmembramento do processo no Supremo, o recurso da PGR reforçando o pedido de prisão foi redistribuído para o ministro Marco Aurélio Mello, novo relator, que não tem prazo para analisá-lo.

Autor da representação contra Aécio no conselho, Randolfe Rodrigues (Rede-AP) comparou a situação do tucano com a do senador cassado Delcídio Amaral (ex-PT-MS). Em 2015, o então petista chegou a ter a prisão autorizada pelo Senado por causa de uma gravação em que aparecia tentando obstruir a Justiça. “O senador (Aécio) não foi preso circunstancialmente, mas também ficou caracterizado o crime”, disse.

Cotado para a presidência do conselho, o senador João Alberto Souza (PMDB-MA) diz que o caso Delcídio foi uma exceção e que o ex-petista só foi cassado porque perdeu o apoio do partido e consequentemente do restante da Casa.

Anticandidatura. Uma ala minoritária do conselho tentará emplacar o senador Antonio Carlos Valadares (PSB-SE) como presidente do colegiado. Eles dizem acreditar que, caso João Alberto seja reconduzido à função pela sexta vez consecutiva, o colegiado ficará parado.

 

 

O Estado de São Paulo, n. 45154, 03/06/2017. Política, p. A7.