RAQUEL DODGE ANUNCIA NOVA SECRETARIA PARA LAVA-JATO

VINICIUS SASSINE

23/08/2017

 

 

Futura procuradora-geral da República escolhe Raquel Branquinho para cargo estratégico

  Anunciada ontem, a 27 dias da posse, a equipe da futura procuradora-geral da República, Raquel Dodge, revela trocas estratégicas em postos-chave relacionados aos trabalhos da Lava-Jato.

Raquel fez três movimentos, que demonstram a intenção em marcar diferença em relação a Rodrigo Janot e seu entorno: será criada uma nova secretaria, de Função Penal Originária no Supremo Tribunal Federal (STF), que vai abarcar o grupo da Lava-Jato; secretarias decisivas à operação trocam de mãos; e o grupo da Lava-Jato será capitaneado por dois procuradores experientes em casos rumorosos, como os mensalões petista e mineiro e a Operação Zelotes, sem relação com o grupo montado por Janot.

Raquel é conhecida entre colegas por não compartilhar suas decisões internamente, numa estratégia para evitar contestações. No fim de julho, escalou os cinco procuradores que a auxiliam na transição até a posse, marcada para o próximo dia 18. Ontem, ela divulgou o primeiro organograma da ProcuradoriaGeral da República (PGR) sob seu comando. Estão na equipe os cinco nomes da transição e mais sete procuradores. Outros ainda serão anunciados.

A nova procuradora-geral anunciou como titular da secretaria a ser criada a procuradora regional Raquel Branquinho, que tem um histórico de atuação em casos de corrupção. Um dos mais jovens do grupo anunciado é o procurador regional José Alfredo de Paula Silva. Ele estará à frente do grupo de trabalho da Lava-Jato, ao lado do procurador regional Alexandre Espinosa. Os dois estarão subordinados à nova secretaria.

 

MENSAGEM A JANOT

A expectativa na PGR é que Branquinho faça uma coordenação jurídica da operação e Alfredo e Espinosa, a operacional à frente das investigações. Em ofício a Janot, Raquel reforçou convite para que os nove integrantes do grupo de trabalho da Lava-Jato permaneçam. Desde o início, porém, a maioria já não tinha intenção de continuar, assim como estava claro o desejo da nova gestão por renovação. Apenas quatro procuradores têm manifestado a intenção de ficar.

Na Secretaria de Cooperação Jurídica Internacional, entrará Cristina Romanó. O procurador da República Pablo Barreto será o novo secretário de Pesquisa e Análise, unidade fundamental para a operação.

O vice-procurador-geral da República será o subprocurador-geral Luciano Mariz Maia, reconhecido por seus colegas pelo trabalho na área de direitos humanos e na Academia. O novo vice-procurador-geral eleitoral, Humberto Jacques, também tem atuação acadêmica.

 

O time da nova procuradora

RAQUEL BRANQUINHO. Vai liderar secretaria a ser criada, que abarcará o grupo da Lava-Jato. Auxiliou o então procurador-geral Antônio Fernando de Souza no processo do mensalão. Hoje, é a chefe administrativa da Procuradoria Regional da República da I Região e atua no núcleo de ações originárias, que investiga prefeitos.
 
JOSÉ ALFREDO DE PAULA SILVA. Apesar de jovem, tem menos de 40 anos, já está desde 2003 no Ministério Público e estará à frente do grupo de trabalho da Operação Lava-Jato. O procurador acompanhou a parte final do processo do mensalão. É descrito por colegas como “prático”, “operacional” e “discreto”.
 
ALEXANDRE ESPINOSA. Tal como Branquinho e José Alfredo, auxiliou o ex-procurador-geral Antônio Fernando no caso do mensalão e atua no núcleo de ações originárias. Será um dos protagonistas da área operacional da equipe de Raquel Dodge e vai estar à frente das investigações da Lava-Jato junto com José Alfredo.
 
CRISTINA ROMANÓ. Foi escolhida para comandar a Secretaria de Cooperação Jurídica Internacional, que ganhou projeção em razão do caráter transnacional da Lava-Jato. Cristina tem vasta experiência na área internacional e já integrou o quadro de promotores do Tribunal Penal Internacional para a Antiga Iugoslávia, em Haia.
 
O globo, n.30697 , 23/08/2017. PAÍS, p. 6