Emílio cita pedidos de contribuição de Lula

Ricardo Brandt, Julia Affonso, Fausto Macedo e Luiz Vassallo

06/06/2017

 

 

Patriarca da Odebrecht é ouvido por Moro; petista recorre ao TRF4, que vê cerceamento

O patriarca do Grupo Odebrecht, Emílio Odebrecht, disse ontem ao juiz federal Sérgio Moro que, nas reuniões que mantinha com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, “houve pedido” de “contribuições” para as campanhas eleitorais do PT. Um dos 78 delatores da empresa, Emílio relatou encontros com o petista para pedir ajuda em negócios de seu interesse, como solicitação de interferência no Ministério da Fazenda.

O empreiteiro foi ouvido como testemunha de acusação do Ministério Público Federal no processo em que Lula é acusado de receber R$ 12 milhões em propinas da Odebrecht. O dinheiro, segundo a acusação, teria sido ocultado na compra de um terreno para sede do Instituto Lula, em São Paulo, e de um apartamento no edifício onde mora o petista, em São Bernardo do Campo. O ex-presidente nega.

Emílio disse que dava duas orientações. “A primeira delas é que as contribuições ao PT fosse atendidas”, afirmou, ao ser questionado pela procuradora da República Isabel Groba, da força-tarefa da Lava Jato, se o petista tinha pedido “ajuda financeira” nos encontros.

Habeas corpus. O patriarca da Odebrecht terá, no entanto, de prestar novo depoimento. O desembargador Gebran Neto, relator da Lava Jato no Tribunal Regional Federal da 4.ª Região, acolheu ontem habeas corpus dos advogados do ex-presidente que alegaram cerceamento de defesa porque não tiveram acesso aos vídeos das delações do patriarca da empreiteira.

O desembargador Gebran tomou a decisão depois que os depoimentos eles já tinham sido tomados por Moro. Também por causa do habeas corpus, o ex-executivo da empreiteira Alexandrino de Salles Ramos de Alencar terá de ser ouvido por Moro mais uma vez.

No depoimento de ontem, Emílio Odebrecht relatou que solicitava “ajuda” em interesse da empresa no governo. “Houve, como todos os presidentes, daqui do Brasil como do exterior, pedidos de ajuda. Existia uma relação cerimoniosa, apesar da relação de confiança, apesar de uma relação até de amizade, por longa data que nos conhecíamos, não existia efetivamente algo onde a gente conversasse sobre valores”, afirmou Emílio Odebrecht.

“Ele (Lula) indicava quem seria a pessoa dele e eu indicava quem seria a minha pessoa, para ver como nós ajudávamos. E eu orientava o meu responsável, que em uma época foi Pedro Novis e em outra Marcelo (Odebrecht), que eles encontrassem uma forma de atender e procurasse compatibilizar alguns fatores.” O patriarca confirmou conteúdo de sua delação, em que afirmou que todo contato da Odebrecht com Lula era feito por ele.

O advogado de Lula, Cristiano Zanin Martins, afirmou ontem que o depoimento “mostra o caráter irreal da acusação”, pois o Ministério Público Federal tenta atribuir ao petista “um imóvel que ele jamais solicitou ou recebeu”.

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Em depoimento a Moro, Corrêa exibe fotos com ex-presidente

Luiz Vassallo, Ricardo Brandt e Julia Affonso

06/06/2017

 

 

Ex-deputado, condenado na Lava Jato, depôs ao juiz em ação na qual Lula é acusado de liderar esquema na Petrobrás

O ex-deputado Pedro Corrêa (PP-PE) afirmou ontem ao juiz Sérgio Moro que não é “um desconhecido” do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como o ex-presidente havia dito em depoimento no processo sobre o triplex no Condomínio Solaris, no Guarujá (SP).

Em depoimento por videoconferência ao juiz federal, o ex-parlamentar mostrou fotos, segundo ele, de diversos encontros com Lula à época em que o petista era presidente da República.

Corrêa depôs como testemunha de acusação no âmbito de ação penal na qual o ex-presidente é acusado de liderar um esquema irrigado por propinas pagas pela Odebrecht.

“Gostaria inclusive de anexar depois essas fotografias para mostrar no processo que eu não era um desconhecido do presidente Lula, como ele afirmou que não tinha nenhuma relação comigo. Eu vivia no Palácio do governo. Porque eu era presidente do partido e, consequentemente, participava, pelo menos duas vezes por mês, das reuniões do conselho político”, afirmou.

Parte da denúncia do Ministério Público Federal se refere ao suposto comando e conhecimento do ex-presidente Lula sobre os esquemas de corrupção na Petrobrás, por meio de indicações à diretoria da estatal.

Os valores teriam chegado a R$ 75 milhões em oito contratos com a Petrobrás e incluíram terreno de R$ 12,5 milhões supostamente destinado a abrigar a sede do Instituto Lula e cobertura vizinha à residência de Lula em São Bernardo do Campos de R$ 504 mil.

Em uma outra ação, sobre supostas propinas de R$ 3,7 milhões da OAS para reforma e ampliação do imóvel do Guarujá, Lula foi interrogado por Moro e disse que “não sabia” se a indicação de Paulo Roberto Costa à Diretoria de Abastecimento da Petrobrás teria participação de Pedro Corrêa. “Esse cidadão era pernambucano, eu tive o prazer de conhecê-lo uma vez, em uma reunião no Palácio do Planalto, para discutir Medidas Provisórias.” Ontem, Corrêa disse a Moro que o Partido Progressista negociou junto ao governo Lula a nomeação de Paulo Roberto Costa à Diretoria de Abastecimento da Petrobrás.

Na videoconferência, Pedro Corrêa apontou os integrantes das reuniões em fotos “Estão aqui Zé Dirceu, Pedro Corrêa e Roberto Jefferson. Estão aqui Aldo Rebelo, Palocci, Lula, Zé Dirceu, Roberto Jefferson, Pedro Corrêa, Roberto Freire.”

Encontros públicos. A defesa do ex-presidente afirmou que o ex-deputado refez o depoimento para conseguir fechar o acordo de delação. Sobre as fotos exibidas no depoimento, o advogado de Luka disse que o ex-presidente participava desses encontros fazendo aparições para cumprimentar os presentes.

Cassado no escândalo do Mensalão, Pedro Corrêa foi condenado na Lava Jato a 20 anos e 7 meses na Lava Jato. O ex-parlamentar ainda tem pendente junto ao Supremo Tribunal Federal a homologação de sua delação premiada.

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MP investiga repasses de US$ 80 mi da JBS a petistas

Fabio Serapião

06/06/2017

 

 

Inquérito, baseado na delação de Joesley, apura supostas contas na Suíça; Lula e Dilma negam repasses ilícitos

Em mais um desdobramento da delação de Joesley Batista, o procurador da República Ivan Marx, do Distrito Federal, abriu ontem inquérito para investigar o suposto repasse em contas no exterior de US$ 80 milhões do Grupo J&F para abastecer campanhas dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, ambos do PT.

No acordo firmado com a Procuradoria- Geral da República (PGR), Joesley afirmou ter sido criada, em 2009, uma conta na Suíça destinada a Lula. No ano seguinte, a pedido de Guido Mantega, uma nova conta teria sido aberta para Dilma. Segundo o delator, os ex-presidentes sabiam da existência das contas.

Instaurado pela Procuradoria da República – por determinação do ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF) –, o inquérito se baseou na conexão dos fatos narrados pelos delatores com a Operação Bullish.

Deflagrada em 12 de maio, a operação da Polícia Federal mirou em aportes bilionários do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES) na JBS.

Em dezembro de 2010, afirmou Joesley, o BNDES adquiriu debêntures da empresa, convertidas em ações, no valor de US$ 2 bilhões, “para apoio do plano de expansão” da hoje maior processadora de carne do mundo.

Em troca desse aporte, a JBS teria depositado US$ 50 milhões em conta que beneficiaria Lula.

Joesley declarou ter conseguido um financiamento de R$ 2 bilhões, em maio de 2011, para a Eldorado Brasil, produtora de celulose e eucalipto da J&F, com a ajuda de Mantega, que “interveio junto a Luciano Coutinho (então presidente do BNDES) para o negócio sair”.

Por conta desse aporte e a “pedido de Mantega”, o empresário declarou ter depositado US$ 30 milhões em conta de Dilma, também na Suíça.

Defesa. Por meio de sua defesa, Lula disse que “só vai fazer comentário quando tiver acesso ao material, mas que reitera sua inocência”. A presidente cassada Dilma Rousseff afirmou, por meio de sua assessoria, que é “fantasiosa a versão de que seria beneficiária de conta na Suíça, ainda mais sob a titularidade do senhor Joesley Batista”. Dilma nega ter recebido qualquer benefício do empresário. Ela disse ainda que não “tratou ou solicitou de qualquer empresário nem de terceiros doações, pagamentos ou financiamentos ilegais para as campanhas eleitorais, tanto em 2010 quanto em 2014”.

Investigado. Lula é suspeito de se beneficiar de conta na Suíça

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Justiça Eleitoral nega novo pedido de prisão de Garotinho, ex-governador do Rio

RIO DE JANEIRO

A Justiça Eleitoral negou ontem o pedido de prisão do ex-governador do Rio Anthony Garotinho (PR). O Ministério Público Estadual em Campos dos Goytacazes, na última sexta, alegou que Garotinho estivesse usando seu blog para atacar testemunhas ainda não ouvidas no processo.

Na decisão, o juiz titular da 129.º zona eleitoral, Glaucenir Silva de Oliveira, afirma que não consegue “enxergar como o réu poderia usar matérias nada jornalísticas para atacar autoridades”. Suspeito de fraudar a eleição municipal de Campos no ano passado, Garotinho chegou a ser preso em novembro. Mas, após complicações de saúde, conseguiu habeas corpus em maio.

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STJ quebra sigilo do governador de SC

INVESTIGAÇÃO

O ministro do STJ Luis Felipe Salomão autorizou ontem a quebra de sigilo telefônico do governador de Santa Catarina, Raimundo Colombo (PSD), de 1.º de junho de 2012 a 28 de fevereiro de 2015. O político é investigado em um desdobramento da Lava Jato por supostamente ter recebido R$ 2 milhões em caixa dois da Odebrecht, na eleição de 2010. A assessoria do governo de Santa Catarina disse que Colombo “apoia integralmente a decisão da Justiça e que a medida é a melhor forma de esclarecer os fatos”.

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PGR vê indício de lavagem em empresas de Perrella

MINAS GERAIS

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, apontou para “fortes indícios” de lavagem de dinheiro em a empresas do senador Zezé Perrella (PMDB-MG). Para a PGR, a empresa foi a destinatária de parte dos R$ 2 milhões entregues pela JBS a Aécio. Defesa de Perrella diz que dinheiro foi entregue ao assessor, Mendherson Souza, e ao primo de Aécio, Fred, sem conhecimento do peemedebista

R$ 2 mi

FORAM DESTINADOS À EMPRESA DE PERRELLA, SEGUNDO INVESTIGAÇÃO

 

O Estado de São Paulo, n. 45157, 06/06/2017. Política, p. A9