Base aliada admite que reforma da Previdência deve ficar para o 2º semestre

Igor Gadelha e Lorenna Rodrigues

06/06/2017

 

 

Projeto. Para líderes de partidos da base do governo, com a atual instabilidade política, risco de proposta ser rejeitada é grande; ministro da Fazenda disse acreditar em votação ainda no 1º semestre, mas que não trará ‘problemas fiscais’ se ficar para agosto

Diante da forte turbulência causada pela delação da JBS, líderes de partidos da base aliada e interlocutores do governo na Câmara defendem que a reforma da Previdência só comece a ser votada no plenário da Casa em agosto, após o recesso parlamentar.

A avaliação é de que, pela impopularidade da matéria, seria um risco pautá-la agora, em meio à instabilidade que vive o governo Michel Temer.

A opinião dos líderes é mais pessimista do que a do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Ambos defendem aprovação da proposta antes do recesso. Em teleconferência ontem com investidores, Meirelles disse esperar aprovar a reforma em junho ou julho deste ano, “no máximo em agosto”. Segundo ele, a aprovação da matéria até agosto não traz problemas fiscais.

“Chance nenhuma de votar antes do recesso. A reforma da Previdência é um objetivo que todos nós buscamos. Não podemos correr o risco de não aprová- la”, afirmou o líder do PSD, Marcos Montes (MG), que comanda a sexta maior bancada da Câmara, com 37 deputados.

Para ele, a proposta só pode ser votada com um governo politicamente forte. “O que, infelizmente, não temos nesse momento de instabilidade”, disse.

Montes lembrou que os deputados só aceitarão votar a reforma da Previdência após o Senado aprovar a reforma trabalhista, o que está previsto para o fim de junho. Nos últimos tempos, deputados demonstram resistência em aprovar matérias impopulares, sob o argumento de que, muitas vezes, o Senado não as leva adiante, deixando o ônus apenas para a Câmara.

Diante disso, cobram um aceno concreto dos senadores com a reforma trabalhista.

Vice-líder do governo na Câmara e responsável pelo mapeamento dos votos da reforma da Previdência, o deputado Beto Mansur (PRB-SP) também prevê que a matéria só deve começar a ser votada na Casa a partir de agosto, após o recesso. “Não é descartado ficar para o segundo semestre. Não é o fim do mundo esperar mais um mês para votar, até pelas coisas que estão acontecendo no País”, afirmou.

Mansur reconheceu que hoje o governo não tem os 308 votos mínimos necessários para aprovar a reforma na Câmara. Ele contabiliza 255 votos favoráveis, ante cerca de 270 votos que calculava antes da delação.

Ele pondera, contudo, que o governo tem uma margem de 100 indecisos com os quais pode trabalhar.

“Estamos tocando a articulação, mas não temos pressa.

O importante agora é resolver a reforma trabalhista no Senado”, afirmou.

À frente do quinto maior partido da Câmara, com 39 deputados, o líder do PR, José Rocha (BA), avaliou que, enquanto não houver “certa calmaria”, é muito arriscado pautar a reforma.

“Acho que vai ser votada mais para o segundo semestre, após o recesso. Até lá, os ares da Justiça poderão estar bem mais calmos”, afirmou Rocha

 

O Estado de São Paulo, n. 45157, 06/06/2017. Economia, p. B1