Longe do consenso

SILVIA AMORIM

MARIA LIMA

22/08/2017

 

 

Alckmin e FH defendem autocrítica e comando de Tasso, contra articulação de grupo de Aécio

Pressionado desde a divulgação da propaganda de TV em que o PSDB reconhece erros e ataca o que chama de “presidencialismo de cooptação”, o senador Tasso Jereissati (CE) recebeu ontem o apoio público do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e teve reafirmada a aliança com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Depois do aval de FH sobre o programa partidário, ontem Alckmin defendeu sua permanência à frente da Executiva até as eleições internas, marcadas para dezembro deste ano.

— O programa fez uma autocrítica adequada. Ela não é dirigida pessoalmente a ninguém, mas ao modelo político. Algum brasileiro está satisfeito com o modelo político que nós temos? — comentou o governador, após participar de um evento na capital paulista, antes de completar: — O PSDB tem presidente. É o Tasso Jereissati.

O governador e o ex-presidente foram consultados por Tasso na semana passada sobre a linha do programa partidário. A propaganda colou no governo Michel Temer o rótulo de fisiológico. Alckmin e FH confirmaram ao GLOBO terem sido consultados sobre a linha do programa antes dele ir ao ar. FH foi quem fez a sugestão do uso da expressão “presidencialismo de cooptação”.

 

DORIA PEDE PARA ANTECIPAR CONVENÇÃO

Com boas relações com Temer, o prefeito João Doria evitou comentar o programa de TV. Reservadamente, ele diz concordar com o conteúdo que foi ao ar, mas acredita que a crítica poderia ter sido feita em outro momento. O prefeito pediu ontem antecipação da eleição interna como uma saída para a disputa entre tucanos, embora a ideia de Doria seja rechaçada por Alckmin.

— O partido precisa de serenidade, acalmar um pouco os ânimos, antecipar (a convenção nacional) de dezembro para outubro e permitir uma oxigenação na executiva, abrindo espaço para prefeitos eleitos em 2016, parlamentares novos. Um time jovem, compondo com figuras históricas. Numa nova eleição, ele (Aécio) não estará disputando. É preciso ter renovação também no PSDB — disse Doria, em entrevista à Rádio Bandeirantes, pontuando que “não quer mal a Tasso e Aécio”.

A ala governista do PSDB até intensificou ontem as articulações para a substituição imediata de Tasso, mas, temendo o previsível desgaste de se apresentarem contra a renovação das práticas da legenda, não sabe como retirá-lo do cargo sem provocar uma reação da opinião pública e de setores expressivos do partido que o apoiam. Para evitar um gesto que poderia ser interpretado como uma retaliação, em vez de o presidente licenciado Aécio Neves (MG) reassumir e indicar um outro presidente interino entre os vice-presidentes regionais, uma estratégia pensada foi encaminhar a Tasso uma carta pedindo que ele tome a iniciativa de entregar o cargo.

Antes mesmo de receber a carta, que seria redigida em uma reunião na casa do deputado aecista Paulo Abi-Ackel (MG), o senador cearense mandou avisar que não vai renunciar e que, se Aécio quiser retomar o cargo, pode fazê-lo quando quiser.

 

GRUPO DE AÉCIO QUER MARCONI NO COMANDO

Os tucanos contrários à orientação de Tasso afirmam que o senador adotou uma série de decisões, em três meses de interinidade, que estariam contrariando decisões coletivas. Uma delas, o programa partidário. Ontem à noite, deputados ligados ao governo e a Aécio se reuniram com alguns governadores para discutir uma saída para a substituição imediata de Tasso. Entre os convidados estavam os governadores Marconi Perillo (Goiás) e Reinaldo Azambuja (Mato Grosso do Sul).

O deputado Marcus Pestana (PSDB-MG) assumiu a função de porta-voz do grupo e apelou para que Tasso “faça um gesto” e tome a iniciativa de entregar o cargo para levar o partido até a convenção de 9 de dezembro. Na convenção, Pestana diz que o melhor candidato a suceder Aécio é o governador Marconi Perillo, de Goiás, porque ele dialoga com todas as correntes e tem experiência.

— Estamos brincando com fogo. Pode haver uma implosão no partido. O doutor Tasso está jogando lenha na fogueira. O partido nunca enfrentou crise tão grande em 29 anos. O ideal é que eles construam essa saída — pediu Pestana.

No impasse tucano em deixar o governo, o presidente Michel Temer afirmou ontem que os quatro ministros da sigla estão “bem” nos cargos. Temer voltou a negar intromissão em disputas internas do partido. (Colaboraram Eliane Oliveira, Eduardo Barreto e Tiago Dantas)

 

- REAÇÕES

Em linha com Tasso

 

“O PSDB tem presidente. É o Tasso Jereissati”

Geraldo Alckmin governador de São Paulo

 

“Se Aécio reassumir e afastar Tasso, eu não digo que seja um gesto tão corajoso, mais parece suicídio”

Ricardo Ferraço (ES) senador

 

“Como havia uma crítica ao presidencialismo de coalizão, eu corrigi, dizendo que a crítica deveria ser ao ‘presidencialismo de cooptação’”

Fernando Henrique ex-presidente

 

“É lógico que apoio. Estou aqui ao lado dele entre outras razões por causa disso. Tasso é um homem sério e de respeito. Gosto dele, um homem capacitado, um dos melhores homens públicos que o Brasil produziu em todos os tempos e tenho o privilégio de ser amigo dele e respeitá-lo por aquilo que ele fez e por aquilo que faz”

João Doria prefeito de São Paulo

 

“A postura do Tasso está cada vez mais consolidada com o que diz o próprio PSDB, com o que o PSDB quer, espera e com o que o eleitor do PSDB espera. O Tasso está conectado com a sociedade, e a maioria da bancada federal concorda com o trabalho que ele vem fazendo”

Ricardo Trípoli (SP) líder do PSDB na Câmara

 

“Tasso tem a coragem e a garra de um garoto. Nunca tinha visto um programa de partido falar a verdade de forma tão explícita”

Daniel Coelho (PE) deputado federal

 

Em linha com Aécio

“O PT, do Lula ao mais modesto dos seus aderentes, deve estar dando gargalhadas diante desse enorme tiro que a direção interina do PSDB desferiu no nosso próprio pé”

Aloysio Nunes Ferreira ministro das Relações Exteriores

 

“O doutor Tasso está jogando lenha na fogueira. Seria melhor que ele fizesse esse gesto para contribuir com a unidade partidária. Que converse com outras lideranças importantes e construa essa alternativa. Nestes três meses em que ele está na interinidade, o PSDB nunca enfrentou crise tão grande em 29 anos de existência. O ideal é que eles construam essa saída”

Marcus Pestana (MG) deputado federal

 

“O vídeo foi um desastre total. Atingiu os ministros, fundadores do partido, muita gente da ala jovem e principalmente o Tasso. Houve muitos pedidos de ponderação para que o programa não fosse nessa linha. A insistência dele indica um desajuste com o desejo da maioria de que essa transição fosse uma oportunidade para pacificar o partido”

Paulo Abi-Ackel deputado e relator do parecer pró-Temer na denúncia de Janot

 

“O programa do PSDB demonstrou uma posição do presidente Tasso e não do partido. E essa não é a primeira vez que ele se comporta dessa forma. Tasso tem dificuldade de contabilizar o sentimento da maioria. Acredito que ele perdeu as condições de comandar o partido. Esse é o meu sentimento e de parte da bancada”

Rogério Marinho (RN) deputado

O globo, n.30696 , 22/08/2017. PAÍS, p. 3