Maia busca apoio na base e até do PT

Pedro Venceslau / Ricardo Galhardo / Igor Gadelha / Vera Rosa

02/06/2017

 

 

Presidente da Câmara adota postura de ‘não candidato’, mas costura alianças com o objetivo de disputar uma eventual eleição indireta

 

 

Primeiro na linha sucessória caso o presidente Michel Temer deixe o Planalto, o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara, tem negado em público que esteja se articulando para disputar em uma eventual eleição indireta.

Mas o deputado do DEM tem buscado apoios na base aliada e até mesmo do PT.

Entre outros movimentos, Maia aproximou-se de partidos de oposição e teria, segundo petistas, tentado abrir um canal de diálogo com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Lula porém, abortou a iniciativa, pelo menos por ora.

A avaliação dele é que qualquer conversa sobre eleição indireta agora soaria como um conchavo no momento que o PT defende a bandeira das diretas já. Mesmo assim, o ex-presidente disse a aliados que, se Temer cair, Maia tem chance de ser o próximo presidente.

“Se o Temer cair ele (Maia) vai assumir interinamente por um mês. Depois que sentou ali é difícil tirar. Os deputados não vão pensar duas vezes entre votar em outro deputado ou em alguém de fora”, disse o deputado Zé Geraldo (PT-PA).

O PT, que realiza até amanhã seu 6° Congresso Nacional, deve aprovar o boicote da bancada de 58 deputados do partido a um eventual colégio eleitoral.

Mas há na legenda, e no campo da oposição no Congresso, defensores da tese pragmática de que Maia manteria pontes com os partidos de esquerda.

Parlamentares oposicionistas relatam que Maia mantém discrição total mesmo nas conversas mais reservadas e não se coloca abertamente como postulante.

Mas isso não seria necessário.

O deputado do DEM adotou agora o mesmo figurino de “não candidato” do ano passado, quando negou até o último momento que estava na disputa pelo posto mais alto da mesa diretora.

 

Jantar. Em outra frente, lideranças do PCdoB, PDT, PSB e Solidariedade começaram a articular nos bastidores a candidatura do ex-ministro Aldo Rebelo (PCdoB) a vice-presidente da República na chapa de Maia em caso de eleição indireta.

A estratégia teria sido discutida em pelo menos dois jantares com a presença de parlamentares e dirigentes desses partidos no apartamento do líder do PDT na Câmara, deputado Weverton Rocha (MA). O presidente da Câmara, dizem parlamentares ouvidos pelo Estado, esteve no primeiro encontro.

O segundo aconteceu na terça- feira, 30, e teve presenças como a do próprio Aldo; do presidente do Solidariedade, deputado Paulo Pereira da Silva (SP); do presidente do PDT, Carlos Lupi; e do secretário-geral do PSB, Renato Casagrande.

Maia nega tudo: as conversas, a aproximação com o PT e a articulação com Rebelo. “Não pedi e não fui procurado pelo presidente Lula. Nunca tratei de nenhuma eleição com o Aldo Rebelo.

Aliás na reunião divulgada esta semana eu não estava presente e duvido que Aldo tenha tratado disso”, disse o deputado ao Estado.

Ele também garante que não está conversando com PP, PR e PSD, como dizem, em caráter reservado, deputados das três legendas que orbitam na órbita do chamado “centrão”.

Os adversários de Rodrigo Maia contestam a negativa.

“Ele está negando e jurando lealdade ao Temer para ter os votos do PMDB, que já detectou esse movimento pró - campanha”, disse o deputado Júlio Delgado (PSB-MG).

Por vias da dúvidas, o presidente da Câmara trocou as grades da entrada da residência oficial por chapas de ferro. Dessa forma, fica impossível saber quem entra e quem sai.

 

Tucanos. Enquanto a cúpula do PSDB faz consultas no partido sobre uma eventual candidatura do senador Tasso Jereissati (CE) à Presidência em caso de eleições indiretas, parte da bancada e integrantes da executiva já questionam a viabilidade do tucano e avaliam que Rodrigo Maia seria a alternativa mais segura da base governista.

O partido está dividido. Preocupados com prejuízos eleitorais no ano que vem, muitos deputados defendem o rompimento o com Temer.

 

Cautela. Maia, dizem parlamentares, tem mantido discrição e não comenta abertamente sobre possível sucessão de Temer

 

PONTOS-CHAVE

Deputado assumiria por 30 dias

 

Renúncia

Em eventual renúncia de Michel Temer, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, assumiria o cargo e teria 30 dias para convocar um processo de eleições indiretas.

 

Candidatura

Maia poderia se candidatar estando no cargo. Com boa articulação no Congresso, circula bem no baixo clero, que ajudou a elegê- lo presidente da Câmara.

 

Reformas

Maia, em eventual sucessão de Temer, é visto como representante da continuidade das reformas. Contra ele pesa investigação no âmbito da Lava Jato.

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Aloysio afirma que ‘PSDB está no governo e sustentará o governo’

Cláudia Trevisan

02/06/2017

 

 

Ministro das Relações Exteriores, que está em Washington, reitera apoio a Temer e não vê risco de racha entre tucanos

 

 

O PSDB é um partido “que está no governo, que apoia o governo e que sustentará o governo”, disse ontem, em Washington, o ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira. Segundo ele, a posição dominante na legenda é se manter na base do governo Michel Temer.

Conforme mostrou ontem o Estado, cresce a pressão para que a sigla desembarque da administração federal até o início do julgamento da ação que pede a cassação da chapa Dilma Rousseff- Temer no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) – marcado para a próxima terça-feira.

Quadro histórico da sigla, o ministro afirmou que não vê risco de racha no PSDB. “O PSDB está no governo. O PSDB tem quatro ministros do governo. O PSDB é cioso de seus compromissos e o compromisso que o presidente assumiu conosco ao nos convidar para integrar o governo foi o compromisso de apoiarmos as reformas em curso.

Nós estamos no governo.” Segundo Aloysio Nunes, a turbulência política na qual o País está mergulhado não afetará a votação das propostas. “O presidente Temer, mais do que ninguém, tem hoje condições de angariar maioria parlamentar para aprovar as reformas.

Nós devemos votar já na próxima semana a reforma trabalhista no Senado e há uma série enorme de outras reformas que estão sendo implementadas por votações”, declarou, na sede da Organização dos Estados Americanos (OEA), depois de se reunir com o secretário-geral do organismo, Luis Almagro.

“Todos compreendem que nós estamos vivendo um momento de turbulência política no Brasil. Isso é inegável. Mas as instituições funcionam e é isso que conta nas relações externas dos países”, disse o ministro, que ontem fez a estreia na OEA.

Pelo menos 115 diplomatas e funcionários do Ministério das Relações Exteriores divulgaram ontem carta pública na qual manifestam preocupação em relação à crise brasileira.

 

Reunião. Ainda ontem, o presidente nacional do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), disse que o partido deve fazer uma reunião na próxima terça-feira, durante o primeiro dia do julgamento da chapa Dilma-Temer no TSE, para definir se a sigla permanece ou não na base aliada do governo Temer.

“Durante o período da votação (julgamento) nós temos que tomar uma posição definitiva.

Nós vamos formar a nossa opinião e qualquer decisão que venha a ser tomada vai ser definitiva”, afirmou Tasso a jornalistas.

“O País não pode ficar nesse suspense.” / COLABOROU JULIA LINDNER

 

Maioria

“O presidente Temer, mais do que ninguém, tem hoje condições de angariar maioria parlamentar para aprovar as reformas”

Aloysio Nunes Ferreira

MINISTRO DAS RELAÇÕES EXTERIORES

 

 

O Estado de São Paulo, n. 45153, 02/06/2017. Política, p. A6.