Título: Ribeiro a caminho do Ministério das Cidades
Autor: Lyra, Paulo de Tarso ; Correia, Karla
Fonte: Correio Braziliense, 02/02/2012, Política, p. 4

Líder do PP na Câmara deve ser anunciado amanhã no comando da pasta. Atual titular, Negromonte pedirá demissão hoje

O ciclo de Mário Negromonte como ministro das Cidades termina hoje em uma reunião formal com a presidente Dilma Rousseff no Palácio do Planalto. O político que convenceu o PP a apoiar a petista na campanha presidencial de 2010 não resistiu às denúncias de irregularidades na pasta, à avaliação palaciana de incapacidade administrativa e a um processo de fritura movido pelo próprio partido, do qual já foi líder na Câmara e hoje é minoritário. A saída do cargo já foi anunciada por Negromonte aos aliados. Em seu lugar assumirá o deputado Aguinaldo Ribeiro (PB), atual líder pepista na Casa e pertencente ao grupo que dita as cartas na legenda.

Aguinaldo teve que agir para se viabilizar como uma alternativa para o ministério. Ele responde a dois processos no Supremo Tribunal Federal. Um deles, mais grave, por improbidade administrativa. Teria dispensado licitação para a compra de vacinas contra febre aftosa durante o período em que foi secretário estadual de Agricultura da Paraíba, entre 1998 e 2002.

Para se consolidar, o ministeriável gastou a sola do sapato nos gabinetes palacianos. Sem Dilma no Brasil — a presidente está desde segunda-feira em viagem a Cuba e ao Haiti —, ele apresentou sua defesa à chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann. Mostrou documentos comprovando que havia sido absolvido pelo Tribunal Regional Federal da 5ª Região, mas que, como o acórdão ainda não foi publicado, o processo ainda tramita no Supremo Tribunal Federal. "Os processos não são suficientes para inviabilizar a nomeação", confirmou ao Correio um interlocutor da presidente Dilma.

O nome de Aguinaldo Ribeiro cresceu na bolsa de apostas depois de a presidente desistir de indicar Márcio Fortes para as Cidades. A decisão de Dilma tem menos a ver com a rejeição de Fortes na bancada e mais com o raciocínio de que, se agisse dessa forma, teria que pensar em outro nome para comandar a Autoridade Pública Olímpica (APO).

Além disso, Ribeiro é visto no Palácio do Planalto como um bom líder parlamentar, que assumiu o cargo durante uma crise séria na bancada de deputados, mas que conseguiu assegurar o apoio ao governo, apesar da insatisfação com a truncada articulação política palaciana.

De saída O encontro no Planalto consolidará o pedido feito por Negromonte à presidente na segunda-feira, durante conversa antes da cerimônia de assinatura de ordem de serviço de revitalização da Bacia do Rio Camaçari. Ele ainda se considera inocente das acusações de reunir-se com lobistas ou estimular alterações em projetos de mobilidade urbana para a Copa do Mundo. Mas estava cansado do fogo amigo e não queria mais expor o governo ao desgaste. "Eu até entendo ser atacado por PT e PMDB, partidos que sempre cobiçaram essa pasta. Mas não dá para aguentar ser fritado pelo meu próprio partido", disse ele, a pessoas próximas. Ontem, a decisão de abandonar o ministério foi comunicada aos correligionários.

Negromonte já dava sinais de exaustão no cargo desde a semana passada, em conversa com aliados e parlamentares que se reuniram com ele no ministério. Ainda assim, o governador da Bahia, Jaques Wagner, viajou ao lado da presidente Dilma Rousseff para Cuba na última segunda-feira com esperanças de convencê-la a manter o aliado no comando da pasta. Durante as conversas, contudo, Dilma deixou claro que não havia mais espaço para Negromonte na Esplanada. Para preservar o canal de diálogo com a presidente, Wagner preferiu jogar a toalha.

A preocupação voltou-se, a partir de então, para costurar um acordo com o partido em torno de um nome capaz de manter a fidelidade do PP ao governo não só em sua bancada federal — composta por 34 deputados em exercício e cinco senadores —, mas também nas eleições municipais, cenário em que a legenda tem ensaiado uma relação de "independência" às candidaturas apoiadas pelo Palácio do Planalto. É o caso, por exemplo, da capital paulista, onde o deputado Paulo Maluf (PP) tem se aproximado do pré-candidato tucano à prefeitura Andrea Matarazzo.