Cunha ataca empresário e menciona reunião com Lula

André Guilherme Vieira

20/06/2017

 

 

Em carta escrita no Complexo Médico Penal em Curitiba, onde está preso, o ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ) afirma que ele, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Joesley Batista se reuniram em 26 de março de 2016 - a pedido do petista - na casa do empresário, em São Paulo, "a fim de discutir o processo de impeachment ocorrido em 17 de abril" que retirou Dilma Rousseff da Presidência.

Nas duas páginas entregues à sua defesa, Cunha chama Joesley de "delinquente", "perigoso marginal" e o acusa de mentir em entrevista à revista "Época".

"Ele fala que só encontrou o ex-presidente Lula por duas vezes em 2006 e 2013. Mentira! Ele apenas se esqueceu que promoveu um encontro que durou horas, no dia 26 de março, sábado de Aleluia, na sua residência à rua França, 553, [Jardim Europa, em São Paulo] entre (sic) eu, ele e Lula, a pedido de Lula, a fim de discutir o processo de impeachment, ocorrido em 17 de abril, onde pude constatar a relação entre eles e os constantes encontros que mantinham", aponta Cunha, no texto.

Na carta, Cunha diz que a reunião com Lula e Joesley pode ser comprovada por agentes de segurança da Câmara que o acompanharam na época. O pemedebista menciona ainda o aluguel de veículo que teria sido usado por ele para ir até a casa do empresário.

No manuscrito, o ex-parlamentar qualifica a delação de Joesley de "bilionariamente premiada", e diz repudiar "com veemência" as acusações feitas pelo empresário. "E o desafio a provar", afirma Cunha.

"Lamento ter exposto a minha família à convivência com esse perigoso marginal, na minha casa e na dele, onde hoje fica claro que ele mente para obter benefícios para os seus crimes, ficando livre da cadeia, obtendo uma leniência fiada, mas desfrutando dos seus bilionários bens à vista, como jatos, iate, cobertura em Nova York, mansão em (sic) St. Barthy, além de bilhões de dólares no exterior, dentre outros". Joesley, seu irmão Wesley e outros cinco diretores da JBS fecharam acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República (PGR). A JBS firmou acordo de leniência com o Ministério Público Federal (MPF) em que se comprometeu a pagar R$ 10,3 bilhões no prazo de 25 anos.

Cunha diz ainda, na carta, que, por meio de seus advogados, ajuizou recurso no Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) pedindo a anulação da homologação da delação premiada de Joesley Batista, "já que a lei das delações (...) só permite ao Ministério Público não oferecer denúncia contra delator, se ele não for o líder da organização criminosa e for o primeiro a delatar, (sic) o que não se enquadra o meliante, que além de ser líder não foi o primeiro a delatar". Os acordos dos delatores da JBS foram homologados pelo ministro relator da Lava-Jato no STF, Edson Fachin. A homologação dá valor jurídico às delações, observando a espontaneidade dos depoimentos prestados. Mas a validação não leva em conta o mérito do material.

Cunha também faz defesa de Michel Temer, seu aliado político.

"É estranho que mesmo atacando o governo, ele [Joesley] ainda seja o maior beneficiário de medidas do governo, tais como a MP 783 do Refis [Programa Especial de Regularização Tributária], onde ele, como o maior devedor da Previdência no país, vai poder pagar os bilhões que deve em 15 anos, com descontos e ainda usando créditos podres e duvidosos, inclusive de terceiros".

Cunha encerra perguntando "de onde vem o poder" de Joesley, que segundo o pemedebista "mente, ataca o governo e ainda se beneficia dos atos do governo que o deixam mais rico e impune".

Em nota, Joesley Batista disse que Cunha lhe atribui afirmações que nunca fez. "O empresário reafirma que destacou dois encontros com o ex-presidente Lula, um em 2006, quando assumiu o comando da empresa, e outro em 2013. A partir de então, como já relatado por ele, não apenas esteve em outras ocasiões com o ex-presidente Lula como também intermediou encontros de dirigentes do PT com Eduardo Cunha".

Procurada, a assessoria de imprensa de Lula não retornou até o fechamento desta edição.

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4279, 20/06/2017. Política, p. A8.