Fábio Serapião
01/06/2017
Em negociação de delação premiada com os procuradores da Operação Carne Fraca, Daniel Gonçalves Filho, apontado pela Polícia Federal como chefe do esquema de corrupção na unidade do Ministério da Agricultura no Paraná, cita pagamentos, “normalmente em espécie”, de empresas do setor alimentício para o ex-ministro da Justiça e deputado federal Osmar Serraglio (PMDB-PR).
O peemedebista voltará à Câmara após recusar o convite de Michel Temer para assumir o Ministério da Transparência.
Serraglio, segundo Gonçalves Filho, seria um de seus “padrinhos” no cargo. Ao lado de Maria do Rocio Nascimento, ex-chefe do Serviço de Inspeção de Produtos de Origem Animal, Gonçalves Filho é apontado pela PF como responsável por arrecadar propinas de frigoríficos e empresas alimentícias.
A proposta de delação do fiscal está na Procuradoria-Geral da República (PGR). Como vai reassumir sua cadeira na Câmara, Serraglio pode ser investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), caso o acordo seja homologado pela Corte.
Por meio de sua assessoria, Serraglio negou irregularidades.
“Absolutamente impossível ele estar falando isso. Jamais, em momento algum, o deputado tratou com ele sobre qualquer tipo de recursos, menos ainda de qualquer tipo de ilicitude”, informou a nota.
Valores. O candidato a delator afirmou no documento para os procuradores que empresas do setor de carnes e processados pagavam valores para Serraglio e outros políticos. Gonçalves Filho afirmou em um dos anexos que ele mesmo entregava o dinheiro para o peemedebista.
Em março, um grampo da Carne Fraca capturou uma conversa de Serraglio com o fiscal agropecuário. No diálogo, Serraglio se refere a Gonçalves Filho como “o grande chefe”.
Segundo a decisão que deflagrou a operação, “em conversa com o deputado Osmar Serraglio, Daniel é informado sobre problemas que um frigorífico de Iporã estaria tendo com a fiscalização do ministério (o Frigorífico Larissa situa-se na mesma cidade)”.
Novo acordo. Maria do Rocio também deu início a uma negociação de delação premiada. Ela assinou o termo de confidencialidade com o MPF nos últimos dias. O Estado apurou que nas primeiras conversas com os investigadores, a funcionária pública confirmou os supostos pagamentos.
Em conversa telefônica interceptada pela Polícia Federal em 2016, com autorização judicial, a fiscal, que está presa preventivamente, cita o nome “Serraglio” como “o velhinho que está conosco”.
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01/06/2017
O ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), é o novo relator do inquérito que investiga o senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG) por suspeita de receber R$ 2 milhões em propina da JBS e tramar contra a Operação Lava Jato, com base na delação dos empresários do Grupo J&F, Joesley e Wesley Batista.
O inquérito foi redistribuído por sorteio eletrônico após o ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato na Corte, entender que a investigação não tem relação com a operação.
No curso das investigações sobre Aécio, que nega as acusações, foram presos na Operação Patmos sua irmã, Andrea Neves, seu primo Frederico Pacheco e o advogado Mendherson Souza Lima.
Após as decisões de Fachin de afastar Aécio da atividade de senador e prender os três investigados, caberá agora a Marco Aurélio analisar os recursos apresentados pelas defesas e também pela PGR – que insiste na prisão do tucano, negada por Fachin.
Marco Aurélio sinalizou que deverá levar os recursos ao plenário do Supremo. O ministro mostrou bom humor ao comentar o fato de ter sido sorteado eletronicamente. “Parece que o computador que opera a distribuição não gosta de mim.”
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Luiz Vassallo e Julia Affonso
01/06/2017
O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) – órgão ligado ao Ministério da Fazenda responsável por rastrear transações suspeitas – comunicou à Procuradoria-Geral da República (PGR) que o filho do senador Zezé Perrella (PMDB-MG), Gustavo Perrella, sacou R$ 103 mil no dia 13 de abril da conta da Tapera Participações e Empreendimentos Agropecuários, empresa da qual Gustavo é sócio.
O levantamento do dinheiro ocorreu um dia depois da entrega de mala de R$ 500 mil da JBS a um primo de Aécio Neves, Frederico Pacheco, que repassou o montante ao assessor de Perrella, Mendherson Souza. O órgão flagrou Mendherson provisionando a retirada do valor suspeito, em espécie, da conta da Tapera, em um banco, que foi sacado posteriormente por Gustavo.
A PGR suspeita de que a Tapera tenha sido a destinatária de parte dos R$ 2 milhões solicitados por Aécio a Joesley Batista, da JBS. O relatório do Coaf é mais um dos indícios levantados pelos procuradores de que o montante tenha ido parar na empresa do filho de Perrella.
O advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, que defende Gustavo e Perrella, afirmou que “há um erro evidente de interpretação” do Coaf. “Gustavo nunca fez nenhum saque e nenhum depósito na Tapera.”
O Estado de São Paulo, n. 45152, 01/06/2017. Política, p. A7