PIB cresce e governo diz que recessão acabou, mas analistas pregam cautela

Daniela Amorim / Fernanda Nunes / Vinicius Neder

02/06/2017

 

 

ECONOMIA NO AZUL / Resultado de 1% de crescimento no primeiro trimestre foi puxado basicamente pela agropecuária, que teve um salto de 13,4% no período, e pela indústria extrativa, que subiu 9,7%; para economistas, só os próximos trimestres dirão se recessão chegou ao fim

 

 

Após o mais longo período de recessão da história, a atividade econômica voltou a crescer no primeiro trimestre do ano. Festejada pelo governo, a recuperação da economia foi recebida, porém, com cautela pelos economistas, que desconfiam de sua perenidade.

O Produto Interno Bruto (PIB) avançou 1,0% em relação ao quarto trimestre de 2016, depois de oito quedas seguidas, segundo os dados do IBGE. A supersafra de grãos foi a grande responsável pelo desempenho positivo no período. Os preços mais altos do minério de ferro e do petróleo também ajudaram, ajudado também pelos preços atraentes do minério de ferro e do petróleo. O resultado foi comemorado pelo governo do presidente Michel Temer.

“Acabou a recessão!”, escreveu o presidente numa rede social.

A tese de fim da recessão foi defendida unanimemente pelos ministros de seu governo, mas os analistas veem os números com prudência. Até porque, na comparação com o mesmo trimestre de 2016, o PIB encolheu pelo 12.º trimestre seguido: -0,4%.

A coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis, alertou que é preciso esperar os próximos resultados antes de afirmar que a recessão ficou para trás. Mesmo com o avanço do início do ano, disse, o PIB brasileiro permanece ainda no patamar do ano de 2010.

“Tivemos um crescimento no primeiro trimestre, até expressivo, só que em relação a uma base reduzida. Então, vamos ver o que virá aí pela frente”, afirmou Rebeca.

 

Incerteza. O economista Delfim Netto avalia que os dados do PIB indicam que a economia brasileira está começando a melhorar e pode ter crescimento moderado em 2017. Mas reconheceu que o Brasil passa por um momento de “absoluta incerteza” política, por conta da indefinição sobre o futuro do presidente Michel Temer após as delações da JBS. “A incerteza mata o espírito animal”, disse.

Se a crise se prolongar, a expansão do PIB pode ficar perto de zero em 2017, estimou o economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central. “O cenário está ameaçado pelo tipo de solução que vai se dar para a crise política”, disse.

Na avaliação do diretor para a América Latina da Moody’s Analytics, Alfredo Coutiño, se o imbróglio se estender, a economia sofrerá as consequências.

“A economia pode voltar para a recessão e não ver uma recuperação até o próximo governo, em 2019”, alertou. No primeiro trimestre, o salto de 13,4% no PIB da agropecuária em relação ao quarto trimestre de 2016 foi o maior avanço desde 1996. Na comparação com o primeiro trimestre do ano passado, a alta foi de 15,2%.

O impacto positivo no PIB do 1.º trimestre foi de 0,8 ponto porcentual. A indústria extrativa contribuiu com mais 0,2 ponto porcentual.

O efeito da parada de produção provocada pelo acidente de Mariana (MG) saiu da base de comparação no PIB da indústria extrativa e mineral do primeiro trimestre, que cresceu 9,7% ante igual período de 2016. Além disso, os preços internacionais estão favoráveis para os produtores de minério e petróleo e gás. “Significa que todo o restante (dos componentes do PIB) caiu 1,4%”, concluiu Rebeca. 

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Supersafra puxou números do agronegócio

02/06/2017

 

 

O setor agropecuário carregou a economia no primeiro trimestre deste ano, ancorado em uma supersafra de soja, milho e arroz. Na contramão dos demais segmentos, avançou 15,4% em relação a igual período de 2016 e 13,4%, comparado aos últimos três meses do ano passado.

A contribuição só não foi maior porque a agropecuária tem uma participação pequena no setor produtivo, dominado por serviços. O peso do campo na economia é de 5,5%, enquanto os serviços respondem por 73,3%.

Segundo a coordenadora das Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis, se o Brasil fosse exclusivamente agropecuário, teria crescido 0,8% de janeiro a março. Em vez disso, caiu 0,4%, na comparação com o mesmo trimestre de 2016.

“Infelizmente, voltamos a nos comportar como um País exportador de commodities. E não existe desenvolvimento nesses moldes”, afirmou o economista da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-SP) Nelson Marconi. Outras duas commodities – petróleo e minério de ferro – contribuíram com o desempenho da atividade.

Para o próximo trimestre, a expectativa é de que a economia ainda conte com um empurrão da agropecuária, de acordo com Palis. Mas o estímulo não terá a mesma intensidade do primeiro trimestre.

“O crescimento do PIB da agropecuária ficará concentrado nos dois primeiros trimestres do ano”, previu o sócio-diretor da Agroconsult, André Pessôa. O avanço deve ser puxado pela safrinha de milho.