Para Temer, resultado foi melhor que o esperado

Eduardo Rodrigues / Fernando Nakagawa / Lorenna Rodrigues / Tânia Monteiro

02/06/2014

 

 

ECONOMIA NO AZUL / Ministros foram orientados a exaltar alta do PIB, para tentar amenizar crise política

 

 

A retomada do crescimento econômico foi motivo de festa no governo, abalado por uma grave crise após a delação dos controladores da JBS. O presidente Michel Temer afirmou que o Brasil “venceu a recessão” e a economia teve desempenho superior ao esperado pelos analistas.

Para o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, o crescimento é um fato e “não adianta lutar contra isso”.

Apesar da comemoração, o ministro reconheceu que pode haver acomodação no segundo trimestre. “Não há trajetória reta, nem todo trimestre é igual ao outro.” Minutos depois do anúncio do crescimento de 1% da economia no primeiro trimestre, Temer usou as redes sociais para comemorar. “Acabou a recessão!”, celebrou. “O Brasil voltou a crescer. E, com as reformas, vai crescer mais ainda.” Horas depois, o presidente gravou um vídeo para seguir no assunto.

“O Brasil venceu a recessão. Estamos crescendo e é uma taxa superior ao que boa parte dos analistas previam”, disse. Analistas ouvidos pelo Projeções Broadcast esperavam uma alta de 0,90%.

Meirelles, em nota, classificou o dia como “histórico”.

“Depois de dois anos, o Brasil saiu da pior recessão do século”, citou. O ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira, também divulgou nota para comemorar e atribuiu o crescimento a um “conjunto de ações de política econômica que tem sido implementado nos últimos 12 meses”.

O governo tentou aproveitar os números do PIB para criar uma onda positiva e reverter o quadro negativo vivido na política, que recrudesceu desde que foram divulgadas as delações dos dirigentes do grupo J&F, que levaram a abertura de inquérito contra o presidente Temer no Supremo Tribunal Federal, por suspeitas de obstrução à Justiça e corrupção. Temer orientou os ministros a divulgarem o “expressivo” crescimento para ajudar a tentar contaminar a política com dados mais positivos na economia.

 

Acomodação. Apesar da comemoração, o ministro da Fazenda reconheceu que o curto prazo pode trazer números ruins, antes da retomada mais consistente. “Há expectativa de acomodação”, disse, ao citar a perspectiva para o segundo trimestre.

“Não é a perspectiva de volta da recessão. Ninguém está falando em volta da recessão”, reforçou.

Meirelles argumenta que “é normal” que haja acomodação na saída da recessão. Segundo o ministro, em momentos de retomada do crescimento ou início de recessão, é comum que trimestres seguidos tenham comportamento não linear. Ou seja, há uma tendência em um trimestre e movimento contrário em seguida.

A indústria foi citada como exemplo. Após o crescimento considerado “forte” no primeiro trimestre, os dados de abril mostraram acomodação. “É absolutamente esperado. As companhias aumentaram o estoque e fizeram ajuste”, disse Meirelles.

O ministro manteve a previsão de que a economia crescerá 0,5% neste ano e terminará o quarto trimestre com ritmo de expansão de 2,7% na comparação com igual período de 2016.

 

Foco. Para Meirelles, curto prazo pode trazer números ruins

 

 

O Estado de São Paulo, n. 45153, 02/03/2017. Economia, p. B3.