BNDES da Rússia cobra contrapartida de bancos

Maria Cristina Fernandes

21/06/2017

 

 

O VEB, banco estatal de desenvolvimento, congênere russo do BNDES, está disposto a financiar investimentos daquele país no Brasil desde que os bancos privados brasileiros se comprometam a dividir o risco do negócio. Vice-presidente do VEB, Sergey Vasiliev disse ontem, durante o fórum empresarial promovido pelo governo brasileiro em Moscou, que a falta de interesse do setor financeiro do país restou como o maior empecilho às linhas de financiamento. O outro entrave, a bitributação dos investimentos entre os dois países, foi superada com a aprovação de acordo pelo Congresso Nacional.

O presidente do VEB citou o setor de ferrovias, de interesse da estatal russa Uralvagonzavod, como um dos primeiros beneficiários de um entendimento entre o banco de desenvolvimento russo e bancos privados brasileiros. Acrescentou ainda que investimentos em energia podem vir a ser facilitados pelo entendimento.

O fim do monopólio da Petrobras sobre o gás fornecido pela Bolívia, previsto para 2019 e que foi alvo das traficâncias do empresário Joesley Batista, é um dos principais focos de interesse dos investidores russos no Brasil. O tema mobiliza duas das maiores estatais russas com investimentos no país, a Gazprom e a Rosneft. A primeira tem um escritório no Rio desde 2011 e a segunda, detém blocos de exploração de petróleo na Bacia do Solimões no qual acena com investimentos até 2019.

Nenhuma das duas empresas mandou representantes ao encontro de ontem, a despeito das cartas enviadas aos seus presidentes pela Embaixada brasileira em Moscou. O auditório reservado para o encontro ficou lotado, mas, como já havia sido previsto, sem a presença de CEOs. O presidente da Câmara de Comércio Brasil-Rússia, Gilberto Ramos, no entanto, garantiu que dirigentes da Gazprom em Houston, no Texas, onde está concentrada a operação internacional da gigante estatal russa, já participaram de reuniões no Rio onde manifestaram o interesse em prospectar o setor.

O setor de petróleo e gás, em função das rodadas de licitação de novos blocos de exploração ainda este ano, foi o de maior interesse do seminário, mas encontro atraiu ainda executivos interessados em energia renovável, como aqueles da Renova, grupo privado russo. Até 2014, dado mais recente divulgado pelo Banco Central, o estoque de investimentos diretos da Rússia no Brasil somava US$ 247 milhões.

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4280, 21/06/2017. Política, p. A12.