Cunha recebe ‘romaria’ de advogados na prisão

Julia Affonso

04/06/2017

 

 

GOVERNO SOB INVESTIGAÇÃO / Maior número de visitas dos profissionais foi registrado entre 17 e 18 de maio, quando foi deflagrada Operação Patmos, que atingiu Michel Temer

O deputado cassado e ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preso no Complexo Médico-Penal em Pinhais, região metropolitana de Curitiba, recebeu uma “romaria” de advogados que não constam do rol de sua defesa e a visita da mulher de um operador de propina do partido já condenado na Lava Jato. Os registros foram obtidos pelo Estado por meio da Lei de Acesso à Informação.

Entre janeiro e o dia 23 de maio, Cunha recebeu 36 visitantes em 71 encontros. Do total, 29 entraram no CMP como advogados.

Os dias mais movimentados foram 17 e 18 de maio, quando O Globo revelou partes da delação de Joesley Batista e a Procuradoria- Geral da República deflagrou a Operação Patmos, respectivamente, que teve como um dos alvos o presidente Michel Temer. Sete advogados visitaram Cunha nesses dias.

Cunha foi condenado pelo juiz federal Sérgio Moro a 15 anos e 4 meses de prisão em março deste ano por receber propina entre 2010 e 2011. Luciana Henriques, mulher de João Augusto Henriques, condenado como operador de propinas para o PMDB, foi recebida no dia 10 de janeiro. Ela usou o cadastro de advogada para visitar Cunha .

Os registros apontam a entrada e saída de quatro advogados em 17 de maio e cinco no dia seguinte. A portaria do CMP registrou, porém, apenas duas entradas de um dos advogados de Cunha em maio. Até 17 e 18 de maio, no máximo três defensores haviam visitado Cunha.

Um desses encontros ocorreu em 2 de março, data em que o juiz Vallisney de Souza Oliveira, 10.ª Vara Federal de Brasília, autorizou o envio de 19 perguntas para Temer em ação penal sobre a liberação de recursos do FIFGTS em troca de pagamento de propina. A outra visita foi em 29 de março, quando a Operação O Quinto do Ouro prendeu cinco dos sete conselheiros do Tribunal de Contas do Estado do Rio. O conselheiro afastado Jonas Lopes apontou, em delação, acerto de propina com Cunha.

O advogado de Cunha, Ticiano Figueiredo, criticou a divulgação das informações. “Absurdo, criminoso o vazamento dos advogados que visitam Eduardo Cunha.

Espanta a Ordem dos Advogados do Brasil não tomar qualquer tipo de providência”, afirmou, em nota. Segundo ele, “é prerrogativa de qualquer advogado” contatar uma parte do processo.

Família e pastor. Além da mulher de Henriques, Cunha recebeu a mulher, a jornalista Cláudia Cruz, os filhos e um pastor. Davi Secundo de Souza, da Assembleia de Deus Ministério de Madureira, em Curitiba, visitou o ex-deputado em quatro oportunidades.

A filial da igreja em Campinas foi citada na Lava Jato. Souza não foi localizado.

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Mulher de operador visita peemedebista

Julia Affonso

04/06/2017

 

 

Preso no Complexo Médico-Penal de Pinhais, condenado a 15 anos e 4 meses por crimes na Lava Jato, o deputado cassado e ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) recebeu a visita da mulher de um operador de propinas de seu partido, também já condenado pelo juiz federal Sérgio Moro.

Luciana Rezende Henriques, mulher de João Augusto Rezende Henriques, acusado de repassar propina da compra pela Petrobrás do campo de petróleo em Benin, na África, em 2011, usou seu cadastro de advogada para visitar Cunha no dia 10 de janeiro, de acordo com relatório obtido pelo Estado por meio da Lei de Acesso à Informação.

Ela foi sócia do marido na Trend Empreendimento. Segundo a Lava Jato, a Trend recebeu pelo menos R$ 20,2 milhões de empresas do cartel que partilharam obras na Petrobrás, pagando propina a agentes públicos, políticos e partidos.

Em seu interrogatório a Moro, em fevereiro deste ano, o deputado cassado declarou ter “convivência quase que diária” com Henriques no CMP, desde que chegou lá em dezembro. Cunha declarou, no entanto, ter anteriormente encontrado o condenado por operar propina para o PMDB “uma única vez”.

“Se eu tive duas vezes na vida, foi muito. Não tive relação. Eu fui apresentado a ele, porque era o candidato que o (ex-deputado) Fernando Diniz estava defendendo na bancada para ser diretor da Petrobrás”, afirmou Cunha. Ele disse também que “nunca soube” que o dinheiro da conta na Suíça havia sido depositado por Henriques.

O advogado de Cunha, Ticiano Figueiredo, em nota, criticou a divulgação. Ele reclamou do “silêncio da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil)”. “Que já deveria ter se manifestado na mesma velocidade que se manifestou sobre o impeachment (de Michel Temer).” Ele disse que “Luciana está lá todos os dias para estar com João Henriques”. Segundo Figueiredo, o registro “pode ser um equívoco”. Luciana e a defesa de Henriques não foram localizados pela reportagem. / J.A.

Curitiba. Cunha em outubro de 2016, após ser preso

 

O Estado de São Paulo, n. 45155, 04/06/2017. Política, p. A9