Título: Brasil promete manter estabilidade política
Autor: Craveiro, Rodrigto
Fonte: Correio Braziliense, 02/02/2012, Mundo, p. 20

Dilma leva ao país mais pobre da América Latina a oferta de cooperação com a formação de tropas e iniciativas para recuperar a infraestrutura e a saúde pública. Presidente ataca os exploradores da imigração ilegal e anuncia liberação de visto a 1.200 famílias por ano

Porto Príncipe — O Brasil está determinado a garantir a segurança e a estabilidade política do Haiti, além de auxiliar no desenvolvimento da infraestrutura, após o início da retirada das tropas de paz. Em março, serão retirados do país 2.150 capacetes azuis da Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti (Minustah), entre eles 288 brasileiros. Atualmente, o contingente das forças internacionais é de 8.940 militares de 18 países e 4.391 policiais de 64 nações.

O governo de Dilma Rousseff também colocou à disposição do colega Michel Martelly a capacidade da Polícia Federal (PF) para treinar cerca de 100 oficiais no Brasil. O estudo de viabilidade técnica e de impacto ambiental para a construção de uma hidrelétrica no Rio Artibonite foi concluído e as obras devem começar em breve. Quando concluída, a usina será responsável por 10% da capacidade energética do Haiti. No campo da saúde, uma parceria entre Cuba e Brasil vai reestruturar o sistema público, com recursos brasileiros e mão-de-obra dos dois países.

Além de anunciar essas iniciativas, Dilma aproveitou a primeira visita ao Haiti como presidente brasileira para explicar as medidas adotadas por seu governo para conter a imigração ilegal de haitianos, explorada pelos coiotes. "Devemos combater as redes criminosas de intermediários", alertou. Um visto permanente, sem necessidade de comprovação de uma relação formal de trabalho, permitirá que 1.200 famílias de haitianos migrem para o Brasil a cada ano. O documento terá validade de cinco anos.

No trajeto de cerca de 10km entre o Aeroporto Internacional Toussaint L"Ouverture e o Palácio Nacional, milhares de pessoas se reuniram nas calçadas para observar a comitiva presidencial. Barracas brancas ainda se estendem por vários pontos de Porto Príncipe e alojam cerca de 500 mil desabrigados pelo terremoto devastador de 12 de janeiro de 2010. Dilma chegou a Porto Príncipe às 9h53 (12h53 em Brasília). Foi recebida, ao pé da escada do avião presidencial, por Martelly, pelo premiê Garry Conille e pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Laurent Lamothe. "Bem-vinda, Dilma, aqui é a sua casa", era a frase estampada em faixas, no terminal e no trajeto para a sede do governo.

O primeiro compromisso da visitante foi no Palácio Nacional em ruínas. No pátio interno, tendo ao fundo o prédio destruído, a presidente voltou a ouvir o Hino Nacional e cumprimentou as autoridades locais. Ela estava acompanhada dos ministros Antonio Patriota (Relações Exteriores), Celso Amorim (Defesa) e Fernando Pimentel (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior), além dos secretários Marco Aurélio Garcia (assessor especial para Assuntos Internacionais) e Maria do Rosário (Direitos Humanos) e do governador Jacques Wagner.

No aeroporto, o jornalista haitiano Jude St. Fleur disse ao Correio que estava satisfeito com a missão das Nações Unidas no país. "Dilma é hoje uma protagonista internacional. O Brasil se tornou uma potência econômica, é uma nação onde alguns haitianos têm buscado entrar ilegalmente", declarou. Ele contou ter perdido o cunhado na catástrofe de 2010.