Título: Fidel decifra Dilma
Autor: Craveiro, Rodrigo
Fonte: Correio Braziliense, 02/02/2012, Mundo, p. 21

O comandante estudou biografia para receber a presidente brasileira. O encontro teve troca de presentes

Havana — Uma conversa sobre o humano e o divino, foi como o assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência, Marco Aurélio Garcia, classificou o encontro da presidente Dilma Rousseff com o ex-presidente cubano Fidel Castro, na tarde de segunda-feira. Durante cerca de uma hora e meia, os dois falaram sobre política e sobre a saúde do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Fidel estava bem documentado. Ele tinha lido uma parte de um livro sobre Dilma", revelou Garcia, que esteve presente na reunião, além do chanceler Antonio Patriota e do governador da Bahia, Jacques Wagner. "Fidel perguntou sobre Lula e mandou-lhe um abraço", contou o secretário. Durante o encontro, foram servidos chá e água.

Dilma presenteou o comandante da Revolução Cubana com chocolate. Fidel retribuiu o agrado com um livro de dois volumes chamado Fidel, o guerrilheiro do século, e escreveu uma dedicatória para a presidente. Segundo Garcia, o ex-presidente cubano estava com três dos filhos e com a mulher, em uma "casa boa". "Assim que ela (Dilma) chegou, ele disse: "Ah, você é mais alta do que parecia"", relatou. A mandatária brasileira tinha estado antes com Fidel uma única vez, em 1982, durante um congresso de economistas. "É claro que ele não se lembrava dela", disse o assessor.

Garcia contou que Fidel, 85 anos, caminha com certa dificuldade, resultado de uma queda sofrida antes de ele ser diagnosticado com uma hemorragia intestinal, em 2006, e se afastar dos cargos de presidente e primeiro-secretário do Partido Comunista de Cuba — ambos, agora, exercidos pelo irmão Raúl, 80 anos. Questionado pelo Correio se o tema dos direitos humanos esteve na pauta da conversa de anteontem entre Dilma e Fidel, o assessor internacional negou: "O ministro Patriota já havia conversado sobre essa questão, antes de vir para cá". O embargo americano à ilha também ficou de fora da pauta.

De acordo com Garcia, o encontro informal concentrou-se principalmente nos projetos econômicos, incluindo a obra da expansão do Porto de Mariel, a 45km de Havana. O etanol não foi discutido pelos dois líderes, mas Garcia admitiu que existe a possibilidade de Cuba vir a apostar nos biocombustíveis. "A Odebrecht vai assumir uma usina de açúcar na região de Cienfuegos, que está com a economia muito deprimida", relatou.

A presidente comunicou Fidel Castro sobre os planos de firmar um intercâmbio entre empresas farmacêuticas de Cuba e do Brasil. "É claro que ele tem interesse nos temas científicos, mas foi um bom momento de conversa na reunião privada que tivemos antes", afirmou o secretário. Ainda não foi assinado nenhum acordo sobre essa parceria, mas Garcia acredita que a perspectiva é bastante promissora. A intenção é fazer com que farmacêuticas brasileiras enviem cientistas a Cuba para utilizar a tecnologia da ilha socialista, produzir medicamentos contra o câncer e revendê-los no Brasil.