Rossi indicou avião, diz Temer a aliados
Tânia Monteiro / Carla Araújo / Gustavo Porto
09/06/2017
GOVERNO SOB INVESTIGAÇÃO / Presidente ‘acha’ que o ex-ministro da Agricultura foi o intermediário que ofereceu o jato da JBS para ele e sua família viajarem à Bahia
O presidente Michel Temer disse a aliados que “acha” que viajou de São Paulo a Comandatuba, na Bahia, em um jato da JBS por intermediação do ex-ministro da Agricultura Wagner Rossi (governos Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff). Temer e sua família usaram a aeronave em janeiro de 2011, quando ele já era vice-presidente.
Temer tem alegado que o episódio foi “há muito tempo” e não consegue se lembrar de todas as viagens que já fez. Quando veio à tona a informação de que o jato fora emprestado por Joesley Batista, o Palácio do Planalto primeiramente negou. A aliados, o presidente dizia que não se lembrava. “Isso tem mais de seis anos”, afirmou, segundo um de seus auxiliares.
A fim de esclarecer o episódio usado por Joesley para mostrar “proximidade” com Temer, o presidente solicitou uma pesquisa sobre suas viagens. Ele pediu também para sua assessoria repassar as informações à imprensa.
Segundo relato de auxiliares de Temer no Planalto, foi após conversar com sua mulher, Marcela, e com a checagem de sua assessoria dos voos realizados que o presidente pediu a correção da informação.
O Planalto emitiu uma nova nota confirmando o voo com duas informações consideradas “absolutamente desnecessárias” pelos interlocutores de Temer: o desconhecimento sobre o proprietário do jato e o fato de a viagem ter sido realizada como um “favor”. De acordo com eles, esses fatores deram uma proporção muito maior do que esperavam ao episódio.
Apesar disso, o Planalto tenta minimizar a repercussão. Assessores do presidente alegam que não há irregularidade no “favor” e a prática seria comum no meio político. Tentam justificar ainda que a viagem foi realizada logo nos primeiros dias que ele chegou à Vice-Presidência, quando ainda não estava familiarizado com as formalidades de sua nova posição.
O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), seguiu essa linha de argumentação.
“Não vejo nada demais.
Não é um tipo de irregularidade ir a um evento de empresários em um avião. Não vejo nenhum problema, a não ser o alarde político por causa do momento.
Esse é um assunto menor diante dos problemas que o País está vivendo”, afirmou o senador.
De acordo com Jucá, o presidente pegou uma carona, “como diversas autoridades pegam carona em avião”. Ele alegou que Temer usou a aeronave para ir a um evento público, um encontro do Grupo de Líderes Empresariais (Lide). Entretanto, o presidente não usou o jato para o evento, mas para uma viagem particular de sua família.
Amigo. A família de Wagner Rossi informou que ele não vai se manifestar sobre a possível intermediação que teria feito no empréstimo do avião para o uso particular do então vice-presidente.
Wagner Rossi é pai do líder do PMDB na Câmara, deputado Baleia Rossi (PMDB-SP). Em maio, após ser citado na delação de Joesley por ter recebido R$ 100 mil por mês de “mensalinho” por um ano, Wagner Rossi admitiu conhecer o empresário e tê-lo apresentado a Temer. O ex-ministro, porém, refutou o fato de ter recebido “mesada” da companhia e afirmou que prestou “colaboração remunerada” à J&F, holding dona da JBS, após deixar o cargo e passar pelo período de quarentena. / COLABOROU ISABELA BONFIM
O CASO
Delator
Joesley Batista entregou à Procuradoria-Geral da República um diário de voo (foto) do jatinho da JBS sobre viagens de Michel Temer. De acordo com os documentos, Temer, então vice-presidente, viajou com Marcela em uma aeronave da JBS em janeiro de 2011
Trajeto
O casal Temer saiu de São Paulo com destino a Comandatuba (BA) em 12/1/11. A volta, segundo o registro, ocorreu dois dias depois. Primeiro, o Planalto disse que Temer usou avião da FAB. Depois admitiu que ele usou o jato da JBS, mas que não sabia a quem pertencia a aeronave.
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Após delação, Petrobrás extingue contrato com empresa da J&F
Fernanda Nunes
09/06/2017
Denúncia feita por Ricardo Saud de desvios envolvendo o contrato com a petrolífera motiva o rompimento
A Petrobrás recorreu à Lei Anticorrupção para romper contrato de fornecimento de gás natural para uma empresa do grupo J&F, de Joesley Batista, que denunciou o envolvimento do presidente Michel Temer em esquemas de desvio de recursos.
Além de cortar o gás da térmica Mário Covas, empresa do grupo operada pela Âmbar Energia e situada em Cuiabá, a Petrobrás cobra R$ 70 milhões pelo rompimento antecipado do contrato.
Em delação ao Ministério Público Federal, Ricardo Saud, da JBS, outra empresa do grupo J&F, disse ter prometido R$ 500 mil semanais a Rodrigo Rocha Loures, ex-assessor de Temer, em troca de favorecimento no acordo de fornecimento de gás pela Petrobrás.
A propina, que Saud chamou em sua delação de “aposentadoria” antecipada para o presidente e para Loures, serviria para retribuir uma decisão do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) que obrigasse a Petrobrás a cobrar menos – o preço que o gás natural é importado pela Bolívia – no contrato firmado com a Âmbar.
A Petrobrás e a JBS travam, há meses, uma disputa em torno do preço do gás. Em nota, o Cade afirmou que o caso ainda está sendo investigado e negou qualquer interferência política em suas decisões.
Após a delação de Saud, com denúncias de desvios de recursos envolvendo o contrato, porém, a Petrobrás resolveu encerrar o embate por conta própria.
Segundo a estatal, no contrato firmado com a Âmbar, a empresa do grupo J&F declara não ter pago ou oferecido qualquer vantagem indevida a qualquer autoridade pública, o que não foi cumprido, considerando a delação de Saud. A Petrobrás decidiu, então, encerrar o fornecimento que estaria garantido até 31 de dezembro deste ano e ainda pediu ressarcimento por isso.
O contrato havia sido assinado em 13 de abril de 2017.
A delação de Joesley Batista resultou em um acordo de leniência da J&F – no qual o grupo terá de pagar uma multa de R$ 10,3 bilhões – e garantiu o direito de continuar sendo contrata pelo poder público.
Resposta. A Âmbar Energia afirmou ter sido notificada pela estatal e disse que avalia o comunicado para decidir os próximos passos. “A empresa esclarece que não é nem nunca foi alvo de investigações de atos de corrupção.
Todos os fatos relatados na colaboração com a Justiça por executivos da J&F se dão no âmbito da holding, e não da Âmbar”, informou. A empresa disse que, pelo acordo de leniência assinado pela J&F com o Ministério Público, “todas as controladas da holding poderão desenvolver suas atividades empresariais normalmente, sem qualquer restrição, inclusive no relacionamento com empresas estatais”.
Cobrança
R$ 70 mi é o valor da multa que a Petrobrás cobra do grupo J&F pelo rompimento do contrato que venceria no dia 31 de dezembro de 2017 e havia sido assinado em 13 de abril do mesmo ano
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Investigação afirma que Cunha desviou R$ 80 mi em Furnas
Marcio Dolzan
09/06/2017
O deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) é suspeito de superfaturar a compra, por Furnas, de ações da Usina Serra do Facão, em Goiás. Deflagrada ontem pela Polícia Civil do Rio e o Ministério Público, a Operação Barão Gatuno suspeita que, após a aprovação de uma medida provisória proposta pelo expresidente da Câmara, o lote de ações da hidrelétrica, adquirido por R$ 7 milhões, em 2007, foi comprado, um ano depois, por R$ 80 milhões pela estatal.
Segundo o MP, em 2007, Furnas possuía 49,9% das ações da Serra do Facão, sendo o restante do Fundo Oliver Trust e outras empresas. Naquele mesmo ano, Furnas não pôde comprar a totalidade das ações por causa do impedimento legal – empresas ligadas à Eletrobrás não poderiam ter participação majoritária em sociedades que tivessem concessão ou autorização de geração de energia.
Com isso, os 50,1% da Oliver e de outras empresas foram vendidas para a Companhia Serra da Carioca 2 por R$ 7 milhões.
No entanto, em fevereiro de 2008, Cunha teria articulado, por meio de uma medida provisória, retirar o impedimento da lei, permitindo, meses depois, que Furnas adquirisse o lote de ações por R$ 80 milhões.
A investigação é oriunda da delação do senador cassado Delcídio Amaral, que relatou relações de Cunha, preso em Curitiba, com a diretoria de Furnas.
Foram cumpridos mandados de busca e apreensão no Rio e em São Paulo. Foi a primeira operação da Polícia Civil em decorrência da Lava Jato.
A defesa de Cunha não foi localizada pela reportagem.
O Estado de São Paulo, n. 45160, 09/06/2017. Política, p. A8.