Temer muda versão spbre viagem em avião da JBS 

Carla Araújo, Tânia Monteiro e Fabio Serapião

08/06/2017

 

 

GOVERNO SOB INVESTIGAÇÃO / Presidente diz que desconhecia de quem era a aeronave e não pagou pelo serviço

Depois de negar o uso de um jato pago pelo empresário Joesley Batista em 2011, o presidente Michel Temer mudou ontem de versão e admitiu ter viajado com a mulher, Marcela, para Comandatuba, e disse que “não sabia a quem pertencia a aeronave e não fez pagamento pelo serviço”.

Em nota oficial, a Secretaria de Comunicação da Presidência da República retificou a informação dada na véspera de que Temer, então na Vice-Presidência, havia usado aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) para fazer uma viagem a Comandatuba (BA), para um evento, e Porto Alegre (RS).

Segundo o Planalto, “o então vice-presidente Michel Temer utilizou aeronave particular no dia 12 de janeiro de 2011 para levar sua família de São Paulo a Comand a t u b a , deslocand o - s e em seguida a Brasília, onde manteve agenda normal no gabinete”.

“A família retornou a São Paulo no dia 14, usando o mesmo meio de transporte. O vicepresidente não sabia a quem pertencia a aeronave e não fez pagamento pelo serviço”, conclui a nota.

Joesley entregou à Procuradoria- Geral da República um diário de voo de seu jatinho com informações sobre viagens de Temer. O caso foi revelado pelo site O Antagonista e confirmado pelo Estado. De acordo com os documentos do Learjet PR-JBS entregues pelo acionista do grupo J&F, Temer teria viajado com a mulher, Marcela, em 2011 em pelo menos duas oportunidades.

Na época, o peemedebista era vice-presidente de Dilma Rousseff. Uma das viagens do casal relatada no diário foi entre Comandatuba, na Bahia, e São Paulo. A outra foi para Porto Alegre. No diário de bordo consta a anotação “Família sr. Michel Temer”.

Ao entregar os diários de voo, segundo o jornal O Globo, Joesley disse aos procuradores que recebeu ligação de Temer para perguntar sobre o envio de flores à aeronave no retorno à São Paulo. O comandante da aeronave disse que as flores seriam um presente da mãe de Joesley.

Temer ligou para Joesley para questionar o envio das flores e, em seguida, teria telefonado para Flora Batista, mãe do empresário.

A assessoria do presidente disse que não houve telefonema sobre o flores.

Anteontem, questionado sobre as viagens, o Planalto havia informado que “o então vicepresidente Michel Temer não foi a Comandatuba em janeiro de 2011”. “Ele foi no mês de abril para compromisso com o grupo Lide e utilizou aeronave da FAB para seu deslocamento. Michel Temer também usou avião da FAB para deslocamento a Porto Alegre, no mês de janeiro.” A equipe do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, vai analisar as informações relativas ao jatinho para confirmar se as viagens foram realmente realizadas.

A apuração, que servirá apenas como prova de corroboração sobre a relação de Temer com Joesley, será feita dentro do inquérito já instaurado contra o presidente. O empresário entregou as informações sobre os voos para reforçar que mantinha “estreita relação” com Temer.

Reflexo. O Planalto tentou minimizar o desgaste causado pela mudança de versões. Nos bastidores do governo, o episódio foi classificado como “um erro”, causado pela pressa de fornecer uma resposta e, como não havia registro desse voo, a primeira reação foi negar, em nota oficial.

Desgate. No governo, episódio foi classificado como ‘erro’

_____________________________________________________________________________________________

Ex-assessor é transferido para a Papuda

Fabio Serapião, Julia Lindner e Breno Pires

08/06/2017

 

 

Rocha Loures tenta adiar depoimento e pede para não ter a cabeça raspada dentro do sistema prisiona

O ex-assessor do presidente Michel Temer, Rodrigo Rocha Loures, deixou ontem a Superintendência da Polícia Federal em Brasília com destino ao complexo penitenciário da Papuda. Flagrado correndo com uma mala com R$ 500 mil entregues por executivos do Grupo J&F, Rocha Loures estava preso na PF desde o sábado passado. O ex-assessor de Temer chega à Papuda enquanto sua defesa tenta postergar seu depoimento aos investigadores e evitar que seus cabelos sejam raspados na entrada do sistema prisional.

No caso do depoimento, o advogado Cézar Bittencourt conseguiu cancelar por mais um dia após protocolar um pedido no Supremo Tribunal Federal (STF) solicitando que o ex-deputado falasse somente após a defesa ter acesso à íntegra do processo.

Como o STF não decidiu, o encontro previsto para a manhã de ontem ainda não tem data confirmada para acontecer.

A defesa também entrou com um pedido para que fosse assegurada a “integridade física” de Rocha Loures e apontou a vontade dele de não ter os cabelos raspados “como fizeram no Rio de Janeiro com Eike Batista”.

Embora no sistema prisional carioca seja praxe raspar a cabeça, no Distrito Federal, assim como em Curitiba, os presos da Lava Jato não têm sido obrigados a cortar as madeixas.

Na Papuda, Rocha Loures terá como companheiro outro investigado na Lava Jato que promete complicar ainda mais a situação do presidente Temer. O corretor Lúcio Funaro está na penitenciária desde julho de 2016.

Mãe não quer depor. A mãe de Rocha Loures se recusa a prestar depoimento à PF como testemunha no inquérito. A defesa de Vera Lilia Santos da Rocha Loures diz que ela foi surpreendida ao ser informada, por telefone, de que a PF pretende ouvi- la. Segundo os advogados, ela “é mãe, do lar, não reside nem participa da vida quotidiana de seu filho” e não tem conhecimento da investigação. A defesa cita um trecho do Código de Processo Penal que diz que pais não são obrigados a depor “quando não for possível, por outro modo, obter-se ou integrar a prova do fato e de suas circunstâncias”.

“Diante disso, a requerente vem manifestar expressamente sua recusa em prestar depoimento”, diz Cezar Bitencourt, um dos 6 advogados que subscrevem o pedido da defesa. /F.S., JULIA LINDNER E BRENO PIRES

Detido. Loures deixa sede da PF em Brasília rumo à Papuda

Flagrante

R$ 500 mil estavam na mala entregue a Rocha Loures, que recebeu o montante de executivos do Grupo J&F; ex-deputado foi preso no último sábado

 

O Estado de São Paulo, n. 45159, 08/06/2017. Política, p. A10