Loures sugeriu ‘Edgar’ para pegar R$ 500 mil

Luiz Vassallo e Julia Affonso

08/06/2017

 

 

GOVERNO SOB INVESTIGAÇÃO / Gravações entre o ex-assessor de Temer e Ricardo Saud, da JBS, mencionam novo operador do PMDB; Antagonista revelou sua identidade ontem

Gravações entre Ricardo Saud, do grupo J&F, e Rodrigo Rocha Loures (PMDB), preso desde sábado em Brasília, mostram que o ex-assessor do presidente Michel Temer sugeriu um “Edgar” para a retirada de R$ 500 mil já que “todos os outros caminhos estavam congestionados”.

No áudio, colhido pela Polícia Federal, Loures diz: “Vou pedir para o Edgar primeiro, consultar com ele e ver se o procedimento pra ele. Ele fica em São Paulo e faz a gerência”.

O “Edgar” também apareceu na 47.ª das 82 perguntas da PF enviadas na terça-feira passada a Temer: “Vossa Excelência tem alguém chamado ‘Edgar’ no universo de pessoas com quem se relaciona com certa proximidade?”, perguntou a PF.

Sua identidade foi revelada ontem pelo site Antagonista.

Trata-se de Edgar Santos Neto, citado na delação do ex-diretor da Odebrecht José de Carvalho Filho como o operador do PMDB que recebeu propina destinada a Eliseu Padilha, ministro da Casa Civil. Segundo Carvalho Filho, Edgar Santos, “ligado ao partido (PMDB)”, foi indicado para receber R$ 2 milhões.

Para não retirar o dinheiro em espécie, Loures sugeriu a emissão de notas fiscais, mas Saud disse que não poderia deixar rastros. “O negócio está bom. Semana que vem, tem um milhão e meio. Podemos fazer a nota, mas quanto ia dar de imposto? 300 paus. Ou então, pra mim, se esse Edgar for um cara confiável, o melhor jeito sabe qual é? Ele vai lá no estacionamento.

Já foi lá, né?” O estacionamento fica na escola de um projeto social da J&F. No mesmo lugar, a irmã do corretor Lúcio Funaro foi filmada retirando R$ 400 mil do porta- malas de um carro.

Saud indaga: “É o Edgar que trabalha para o presidente? Bom, se é da confiança do chefe, não tem problema”. E Loures responde: “Você não conhece e ele também não te conhece”.

Apesar das indicações, o então deputado encontrou-se com Saud em São Paulo. No vídeo, gravado em ação controlada pela PF, Saud afirmou a Loures: “Já tenho 500 mil. E semana tem mais 500. Então você tem um milhão aí. Isso é toda semana.

Vê com ele”.

O advogado de Loures, Cezar Bitencourt, afirmou que vai se manifestar após ter acesso ao material da PF. O Palácio do Planalto não respondeu ao Estado.

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Alves recebeu propina da OAS via conta de Michel Temer, diz MP

Julia Affonso e Luiz Vassallo

08/06/2017

 

 

Empreiteira realizou repasses ilícitos de R$ 500 mil para a conta de campanha do então vice-presidente em 2014

O Ministério Público afirma que a empreiteira OAS pagou propina de R$ 500 mil a Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), em 2014, via conta da campanha do então vice-presidente Michel Temer. A acusação está no pedido de prisão do ex-deputado e ex-presidente da Câmara, deflagrada anteontem na Operação Manus, da Polícia Federal.

De acordo com a investigação, em 11 de setembro de 2014, foi feito o repasse de R$ 500 mil “ilícitos”, em forma de doação. O dinheiro teria saído da OAS para a conta de Temer. No mesmo dia, a soma foi transferida para o diretório estadual do PMDB no Rio Grande do Norte e, de lá, para a conta de Alves.

A transação ocorreu no mesmo ano em que o aliado de Temer e ex-ministro de Dilma e Temer foi candidato derrotado ao governo do RN. Segundo o MP, sua campanha recebeu aportes, via caixa 2 e propinas, das empreiteiras OAS e Odebrecht. Foram identificados 206 telefonemas entre Alves e Léo Pinheiro, presidente da OAS.

Alves foi preso por suspeita de fraude de R$ 77 milhões na obra da Arena das Dunas, em Natal. A OAS é a responsável pelas obras do estádio, construído para a Copa de 2014.

A operação, desdobramento da Lava Jato, mira ainda em outro ex-presidente da Câmara, o também peemedebista Eduardo Cunha (RJ), preso desde outubro de 2016.

Segundo o MP, mesmo depois do fim do mandato como deputado federal, em 2015, e da saída do Ministério do Turismo, em 2016, Alves “continua a exercer intensa atividade política em âmbito nacional”.

“Durante as investigações, colheram- se dados, especialmente da empresa aérea Avianca, que indicam que, desde junho de 2016 até no mínimo abril de 2017, ele, apesar de não ter nenhum cargo no governo federal, viaja constantemente, com periodicidade praticamente semanal, entre Natal (RN) e Brasília (DF)”, aponta o MP.

Os constantes deslocamentos do aliado de Temer indicam, segundo o MP, que Henrique Alves “persiste atuando na mesma esfera de atividades na qual foram praticados os crimes ora investigados”.

“O quadro se mostra mais preocupante se considerar que, exatamente em 2016, até os dias de hoje, o partido político de Henrique Eduardo Lyra Alves, o PMDB, assumiu a Presidência da República, após processo de impeachment da anterior chefe do Executivo nacional”, afirma a Procuradoria. / J.A. e L.V.

Detido. Ex-ministro de Dilma e Temer, Henrique Alves foi preso anteontem em Natal

 

O Estado de São Paulo, n. 45159, 08/06/2017. Política, p. A11