Funaro analisa acordo de delação, afirma advogado

Julia Affonso e Fausto Macedo

08/06/2017

 

 

GOVERNO SOB INVESTIGAÇÃO / Apontado como operador de Eduardo Cunha, corretor pode revelar em colaboração premiada esquemas que comprometeriam Planalto

O advogado Cezar Bitencourt admitiu ontem que o corretor Lúcio Funaro, preso desde 1.º de julho de 2016,“está interessado” em fazer acordo de delação premiada. Funaro é apontado como operador de propinas do ex-presidente da Câmara e deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que está preso em Curitiba.

Cezar Bitencourt deixou ontem defesa de Funaro, alegando “conflito de interesses” porque ele também defende o “homem da mala”, o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), ex-assessor especial do presidente Michel Temer.

Loures está preso desde sábado passado após perder a prerrogativa de foto privilegiado.

A possível delação de Funaro com a Procuradoria-Geral da República apresenta riscos a Temer e também ao ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco. Em negociação com o Operação Lava Jato, Funaro teria indicado que pode comprovar o uso de recursos ilegais em campanhas de Temer e do PMDB paulista, na campanha de Gabriel Chalita à Prefeitura de São Paulo.

Funaro está preso em Brasília desde junho do ano passado após a Polícia Federal deflagrar a Operação Sépsis. Ele é réu com Cunha por esquema de desvios na Caixa. É ainda alvo de inquéritos no STF que apuram o envolvimento de políticos peemedebistas no esquema de corrupção na Petrobrás com articulação na Câmara. Caso faça a delação, Funaro pode elevar a crise no Planalto.

Irmã presa. A PF também prendeu a irmã de Funaro, Roberta Funaro. Ela foi detida na Operação Patmos, desdobramento da Lava Jato, em 18 de maio deste ano. Atualmente, está em prisão domiciliar. Roberta foi filmada pela PF recebendo valores do grupo J&F em nome do irmão.

Os pagamentos, segundo os delatores da J&F, seriam uma forma de comprar o silêncio de Funaro e evitar que ele assinasse um acordo de colaboração premiada com o Ministério Público Federal. O corretor foi citado na delação de Fabio Cleto, ex-vice presidente de Fundos e Loterias da Caixa.

Segundo a delação de Cleto, Funaro atuava em nome de Cunha no recebimento de propina para liberação de aportes milionários do fundo de investimento do FGTS para grandes empresas, entre elas, a Eldorado Celulose, do grupo J&F.

Alvo da Operação Patmos, Roberta Funaro tem uma filha de três anos. Em 1.º de junho, o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, autorizou que a irmã do corretor fosse para prisão domiciliar.

Para o ministro Fachin, a filha de três anos sustenta a possibilidade de prisão domiciliar desde que atendidas algumas providências. Entre elas, estão o uso de tornozeleira eletrônica, a entrega do passaporte e a proibição de contato com os demais investigados na operação em que foi presa.

Como Roberta também é responsável pela sua mãe, internada em hospital de São Paulo por causa de um acidente vascular cerebral (AVC), Fachin liberou que ela se encaminhe até o hospital pelo período de até quatro horas semanais.

Acusação. Corretor é réu por esquema de desvios na Caixa

 

O Estado de São Paulo, n. 45159, 08/06/2017. Política, p. A12