PP LEVA CARGO NA SAÚDE E INDICA INVESTIGADO POR IMPROBIDADE

LETICIA FERNANDES

MARIA LIMA

16/08/2017

 

 

João Salame é ex-prefeito de Marabá e também foi citado na delação da Odebrecht

A pedido de deputados do centrão, que pressionam por mais espaço no governo, saiu no Diário Oficial da União de ontem a nomeação do ex-prefeito de Marabá João Salame Neto para assumir o departamento responsável pelas políticas de atenção básica do Ministério da Saúde. A pasta é controlada pelo ministro Ricardo Barros, do PP, e a indicação foi feita pelo deputado federal Beto Salame (PP-PA), irmão do ex-prefeito.

Salame Neto foi nomeado diretor do Departamento de Atenção Básica da Secretaria de Atenção à Saúde do Ministério, uma das áreas mais sensíveis da política pública no setor.

Na Lava-Jato, o ex-prefeito foi citado por delatores da Odebrecht como tendo recebido parte do R$ 1,5 milhão doados, na eleição de 2014, a ele e ao ministro Helder Barbalho (Integração Nacional). Em 2016, ele chegou a ser afastado do cargo de prefeito de Marabá por conta de uma dívida de R$ 14 milhões com a Previdência dos servidores municipais, retornando ao cargo por decisão do ministro Ricardo Lewandowski, do STF. Neste caso, ele é investigado por improbidade administrativa.

Segundo dirigente do partido, que pediu anonimato, a nomeação era um pleito antigo do PP e nega que teria ocorrido para recompensar deputados que votaram a favor do presidente Michel Temer na denúncia por corrupção, rejeitada pelo plenário da Câmara dos Deputados. Irmão do ex-prefeito, o deputado Beto Salame votou a favor de Temer e contra a possibilidade de o presidente ser julgado e, por consequência, afastado do cargo que ocupa desde que a ex-presidente Dilma Rousseff sofreu o impeachment.

O PP é um dos partidos que pressionam para que o centrão, que em grande medida garantiu a vitória de Temer na Câmara, seja mais bem representado no governo, com cargos não só no segundo e terceiro escalões, como também com mais ministros. O governo, no entanto, não deu qualquer garantia de que vá entregar ao grupo mais ministérios, muito menos os ocupados pelo PSDB.

Após encontro com o presidente do Senado, Eunício de Oliveira, o ministro da Saúde, Ricardo Barros, do PP, defendeu a nomeação e garantiu que Salame já explicou as acusações. O ministro da Saúde disse que o ex-prefeito será empossado sem nenhuma pendência. Disse que, antes da nomeação, o nome de Salame passou pelo crivo da pesquisa de nada consta feita pela Abin.

Segundo Ricardo Barros, o correligionário explicou o seu afastamento da prefeitura.

— Não há nada contra ele. Respondeu ao processo, provou sua inocência e retornou.

O globo, n.30690 , 16/08/2017. PAÍS, p. 6