Título: Menina de 2 anos recebe novo coração
Autor: Castro, Grasielle ; Abreu, Roberta
Fonte: Correio Braziliense, 09/02/2012, Brasil, p. 11

Transplante foi feito em hospital do Distrito Federal. O procedimento é o segundo da capital realizado em crianças. O órgão doado veio de São Paulo

Esperança contada a minutos marca a vida de uma família brasiliense. Às 5h45 de ontem, o Instituto Cardiológico do Distrito Federal (IC-DF) recebeu a notícia de que um coração em São Paulo compatível com o de uma menina de 2 anos que necessitava de transplante estava disponível. A família da criança e uma equipe médica do hospital foram mobilizadas. A expectativa se manteve alta por boa parte da noite. O procedimento acabou às 22h. Com os batimentos normais antes mesmo do fim do procedimento, a criança poderá se livrar da miocardite — doença que fez com que a atividade do coração antigo fosse reduzida a apenas 20%. O procedimento é o segundo realizado com crianças no Distrito Federal. O primeiro ocorreu em janeiro deste ano e beneficiou uma menina de 1 ano e oito meses, transplantada com um coração vindo do Rio de Janeiro.

Essa foi a segunda vez que a família da paciente, que fazia acompanhamento em um hospital da Ceilândia, foi mobilizada. No mês passado, um alarme falso encheu a família de esperança, mas o coração, doado pela família de uma criança que morreu afogada em Uberlândia (MG), entrou para a lista de órgãos perdidos por ter sofrido ataque cardíaco. A cardiologista que acompanha a criança, Cristina Afiune, acredita que o sucesso da cirurgia será comprovado após o primeiro ano. "Esse é um procedimento de risco, de um órgão que vem de longe, com o tempo de isquemia longo (período fora do corpo), mas estamos confiantes. As chances de dar certo após um ano são de 90%."

Segundo a diretora do IC-DF, Núbia Vieira, assim que esse novo doador faleceu na madrugada passada, decorrente de atropelamento em Itaquaquecetuba (SP), o órgão foi para a oferta de doação, passou pela lista estadual e, em seguida, para a nacional. "Não havia ninguém compatível em São Paulo. Mas aqui nós tínhamos uma menina com idade, altura e peso compatíveis", contou a médica. Segundo ela, a expectativa para esse tipo de cirurgia é enorme. "Organizamos a logística o mais rápido possível para não perder a oportunidade. A emoção é muito grande", afirmou.

Durante todo o dia, Núbia e a equipe que foi para São Paulo buscar o órgão mantiveram contato. "Quando eles entraram no avião para voltar, às 16h42, recebi uma mensagem no celular dizendo que podíamos descer com a menina para o centro cirúrgico", contou. Às 18h, o voo da Força Aérea Brasileira (FAB) aterrizou, às 18h05, a equipe médica entrou no helicóptero que os levou para o IC-DF e, às 18h17, o órgão entrou no centro cirúrgico. O transplante começou a ser feito às 19h30. Segundo o capitão aviador que pilotou o avião da FAB, Regis Barreto, a prioridade foi máxima, não houve nenhum contratempo e todas as aeronaves foram desviadas para agilizar o voo. "Toda missão é diferente, tem suas particularidades, levamos órgãos e enfermos. É uma alegria participar desse tipo de missão".