Título: Investidores querem trem-bala e rodovias
Autor: Ribas, Sílvio
Fonte: Correio Braziliense, 09/02/2012, Economia, p. 12
Diante do sucesso da privatização dos aeroportos de Brasília, Guarulhos e Viracopos, capital nacional e estrangeiro pressionam o governo para acelerar a concessão de projetos que mudarão a cara do Brasil
O sucesso dos leilões de três aeroportos deixou governo e analistas otimistas em relação à disputa, ainda este ano, por outras concessões na área de infraestrutura. A expectativa é de que o processo se acelere sob o impacto dos R$ 24,5 bilhões obtidos com a transferência à iniciativa privada dos terminais de Brasília, Guarulhos (SP) e Campinas (SP), com ágio médio de 347%. Segundo especialistas, os números aliviam a desconfiança de investidores estrangeiros e encurtam o tempo de elaboração de editais para aeroportos, rodovias e ferrovias e das análises do Tribunal de Contas da União (TCU).
O primeiro beneficiado deverá ser o trem de alta-velocidade (TAV) entre São Paulo, Rio de Janeiro e Campinas, que está desde 2007 incluído no Programa Nacional de Desestatização (PND) e já teve um leilão frustrado após vários adiamentos. A esperança do Planalto é que o baixo crescimento das economias da Europa, do Japão e dos Estados Unidos — aliado ao crescente interesse pelo Brasil — viabilize de vez seu projeto de R$ 40 bilhões.
O presidente da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Bernardo Figueiredo, declarou que, apesar das peculiaridades dos negócios aéreos, a privatização dos terminais consolida a imagem do Brasil como terra de oportunidades. Neste sentido, vê como positiva a decisão de dividir a concessão internacional do trem-bala em duas etapas: uma para escolher o operador estrangeiro, dono da tecnologia; outra para as empreiteiras. Estão no páreo Alstom (França), Siemens (Alemanha) e Hitachi (Japão), além de consórcios da Coreia do Sul e da Espanha.
Copa e Olimpíadas "Os fornecedores de locomotivas e sistemas veem o TAV como uma vitrine para seus produtos e serviços, de olho em outros empreendimentos como a Ferrovia Transnordestina", disse o advogado Fábio Cunha, do escritório FHCunha, especializado em infraestrutura. Estudos mostram que o trem-bala pode responder por 53% do tráfego de cargas e pessoas no eixo Rio-São Paulo. Há também potencial para atender 67% dos atuais usuários de ônibus e 50% dos passageiros da ponte aérea, além de reduzir em 47% as viagens de automóveis.
Anderson Correia, especialista em infraestrutura aeroportuária, acrescentou que só o desenvolvimento esperado para o aeroporto de Campinas já torna atraente uma ligação ferroviária com o de Congonhas, em São Paulo. Ele também aposta no sucesso da segunda rodada de concessões de terminais, esperada para o segundo semestre, começando pelo Galeão (RJ) e por Confins (MG). "O potencial da economia brasileira e as pressões por uma resposta rápida às necessidades da Copa do Mundo (2014) e das Olimpíadas (2016) continuarão atraindo a atenção mundial", ressaltou. Só a malha rodoviária, dominada por grupos nacionais, não deverá alvo prioritário do capital estrangeiro.
Olavo Henrique Furtado, professor da Trevisan Escola de Negócios (SP), vê um horizonte ainda mais próspero para o investidor, pois considera os leilões dos aeroportos a retomada, com grande visibilidade, do esforço privado de melhoria da infraestrutura brasileira, que foi relegada ao atraso nos últimos anos. "A exemplo das concessões rodoviárias nos anos 1990, a abertura atual não pode parar nem ser vista apenas como abertura motivada pela Copa", disse. O economista aplaude a criação de títulos negociados pelo mercado financeiro e voltados à capitalização dos projetos de infraestrutura, até como opção de poupança a longo prazo.
Na avaliação do advogado Fábio Cunha, o governo aprendeu muito com os leilões realizados na última segunda-feira, devendo corrigir falhas e aplicar regras que resultaram em mais participantes e mais concorrência. "Uma das mudanças acertadas foi a inversão de fases, realizando o leilão antes da avaliação de garantias técnicas", afirmou. Caso os vencedores do leilão dos aeroportos sejam desclassificados no dia 23, estarão sujeitos a multas de R$ 37 milhões a R$ 123 milhões. No caso de Brasília, especificamente, a multa fixada foi de R$ 37 milhões.
Pressionada pelas críticas de que seu lance vencedor por Campinas foi exagerado, a Triunfo avisa que sua necessidade de investimento será 32% inferior à prevista pelo governo ao longo da concessão. O presidente da companhia, Carlo Botarelli, prevê desembolsos de R$ 7,8 bilhões no aeroporto de Viracopos e não de R$ 11,5 bilhões, como estima o edital.