Título: Franco vai para a Casa da Moeda
Autor: Correia, Karla ; Hessel, Rosana
Fonte: Correio Braziliense, 09/02/2012, Economia, p. 13

Planalto aloja escolhido pelo ministro da Fazenda na presidência da estatal. Ordem é esvaziar denúncias contra o governo

O Ministro da Fazenda, Guido Mantega, seguiu as recomendações da presidente Dilma Rousseff e escolheu o sucessor de Luiz Felipe Denucci na presidência da Casa da Moeda. O objetivo foi minimizar o impacto das denúncias de corrupção que se abateram sobre a estatal. O novo comandante da empresa, que fatura quase R$ 3 bilhões por ano, será Francisco de Assis Leme Franco, considerado homem de confiança do ministro, que teve a imagem arranhada ao ser divulgada a suspeita de que Denucci, então seu subordinado, teria recebido US$ 25 milhões em propinas.

Mantega garantiu que a escolha de Francisco Franco, como é conhecido na Esplanada dos Ministérios, foi totalmente técnica. "Ele não tem filiação partidária", assegurou um assessor do Palácio do Planalto. Formado pela Academia Militar das Agulhas Negras, Franco é servidor de carreira e especialista em políticas públicas e gestão governamental. Foi de secretário executivo adjunto de Mantega de 2007 a 2010 e, atualmente, estava em uma das diretorias da secretaria executiva do Planejamento. "Esperamos que, com essa nomeação, cessem as pressões sobre o ministro da Fazenda", acrescentou o mesmo assessor.

O decreto presidencial com a nomeação do futuro presidente da Casa da Moeda será publicado nos próximos dias no Diário Oficial da União. Assim, não haverá a necessidade de o nome de Franco passar pelo crivo dos parlamentares, o que daria munição à oposição para atirar em Mantega, cuja permanência no cargo passou a ser questionada pelo mercado financeiro. Segundo o Planalto, as mudanças na estatal não devem se restringir à presidência. A intenção do governo é trocar toda a diretoria do órgão e colocar lá pessoas "fichas limpas". A seleção dos nomes está a cargo do secretário executivo da Fazenda, Nelson Barbosa.

Longo silêncio Apesar de a demissão de Denucci ter sido anunciada na segunda-feira da semana passada, Mantega manteve um longo silêncio sobre o assunto. Somente na sexta-feira última, depois de levar uma bronca da presidente Dilma, se dispôs a falar. Mesmo assim foi desastrado ao dizer que não conhecia Denucci quando o nomeou e que somente havia atendido a um pedido do PTB, partido da base aliada do governo. Representantes da legenda disseram exatamente o contrário: Denucci era escolha pessoal de Mantega, que havia pedido ao partido para avalizá-lo. O disse me disse foi parar no Congresso, mexeu com a base aliada e levantou o risco de o governo ter problemas na retomada dos trabalhos da Casa.

As lideranças petistas asseguraram, porém, que o ministro está blindado e o Planalto avisou que não cogita a saída dele. A oposição, no entanto, tenta perfurar o escudo em torno de Mantega. No Senado, o líder do PSDB, Alvaro Dias (PR), encaminhou dois requerimentos para que o chefe da Fazenda e Denucci compareçam à Comissão de Assuntos Econômicos (CAE). A votação está marcada para a próxima terça-feira. "Estou tentando negociar apoio com o PMDB, mas está difícil", disse. Na Câmara, por falta de quórum, a Comissão Mista de Orçamento adiou a sessão que votaria o convite ao ministro. Eram necessárias as presenças de seis deputados e dois senadores para a apreciação do requerimento. Compareceram sete deputados e nenhum senador. Nem mesmo o presidente da comissão, senador Vital do Rego (PMDB-PB), deu as caras.