Destino de Bolsonaro, Partido Ecológico Nacional já sondou Marina Silva e JBS

Eduardo Bresciani

28/08/2017

 

 

 

 

Eduardo Bresciani - O Globo

A legenda pela qual o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) pretende se candidatar à Presidência em 2018 já se ofereceu para abrigar Marina Silva e até um dos irmãos que controlam a JBS.

O Partido Ecológico Nacional (PEN), que mudará seu nome para Patriota, é comandado pelo ex-deputado Adilson Barroso e atende a interesses de caciques regionais país afora. Barroso sustenta que há identidade entre o PEN e Bolsonaro, que ele agora diz ser seu “chefe”. Já Bolsonaro afirma que o “casamento é daqui pra frente” e que, no meio político do país, não há “santo”.

A oferta da legenda para Marina em 2013 foi feita de forma pública. Mas ocorreu simultaneamente a negociações sigilosas com José Batista Júnior, o Júnior da Friboi, irmão de Joesley e Wesley Batista, que mirava o governo de Goiás. As conversas em paralelo mostram a dualidade da legenda, que dizia ser “ambientalista” para seduzir Marina e tentava filiar em seu quadro um empresário que enriqueceu com o agronegócio.

Adilson Barroso revelou as tratativas com Júnior da Friboi para se defender de uma acusação de Ricardo Saud, executivo da JBS que em sua delação premiada afirma que a empresa doou R$ 500 mil ao PEN para que a legenda apoiasse Aécio Neves (PSDB-MG) à Presidência em 2014.

O presidente do PEN disse ter acertado com Júnior em 2013 que ele seria seu candidato do partido ao governo de Goiás. Mas Júnior foi para o PMDB, onde seu nome não vingou. Com a eleição próxima, Barroso diz que aproveitou a ligação com Júnior para pedir dinheiro.

— Quando chegou o mês antes da eleição, a gente fazendo campanha no maior aperto e eu sabendo que a JBS tem limite para doar dentro da lei, eu pensei: “vou pedir pra ele uma mãozinha, porque pedir não é roubar”. Eu não aceito caixa dois, nem por fora. Passei uma mensagem pro Júnior. Aí me ligou um cara depois que deve ser... (Ricardo Saud). Até perguntei quanto que o Júnior tinha me arrumado. Quando ele falou que era R$ 500 mil, eu disse pra fazer logo, antes que ele se arrependesse — disse Barroso ao GLOBO, ressaltando que a doação não tinha nada a ver com o apoio dado a Aécio.

Barroso ofereceu a legenda em seguidas entrevistas quando Marina Silva enfrentou dificuldades no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para formalizar a Rede e disputar a eleição de 2014. Ele chegou até a propor uma fusão posterior com a Rede. Marina não deu abertura e acabou optando por se filiar ao PSB, do ex-governador Eduardo Campos, para ser vice dele na disputa presidencial.

O caráter de um partido sem uma linha de atuação se reflete na postura nas últimas eleições. O PEN só teve candidato próprio em três prefeituras de capitais em 2016: Florianópolis (SC), Macapá (AP) e Palmas (TO), sem ter destaque em nenhuma delas. Nas maiores cidades, fez alianças das mais variadas como, por exemplo, os apoios a Pedro Paulo (PMDB) no Rio, Celso Russomano (PRB) em São Paulo (SP), ACM Neto (DEM) em Salvador (BA) e Roberto Cláudio (PDT) em Fortaleza (CE).

 

DEPUTADO CONDENOU AÇÕES

Provável destino do deputado federal Jair Bolsonaro (RJ), de saída do PSC, o PEN fez, no passado recente, alianças que foram repudiadas pelo presidenciável.

Em 2016, PEN e PSC apoiaram Edivaldo Holanda Jr. (PDT) para a Prefeitura de São Luís (MA) em aliança com o PCdoB do governador Flávio Dino, principal patrocinador daquela candidatura. Bolsonaro apontou esse acordo como um dos motivos do rompimento com o PSC.

Outra atitude do PEN já gerou atritos com Bolsonaro. O parlamentar afirmou que só entraria na legenda se o partido desistisse de uma ação no Supremo que busca derrubar a regra da prisão em segunda instância, o que pode beneficiar condenados na Lava-Jato. Como a ação não pode ser mais retirada, o partido decidiu que vai destituir o advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, e indicar outro profissional para tentar derrotar a ação que a própria legenda propôs.

Bolsonaro diz não se incomodar com a vida pregressa do partido e as ofertas feitas pela legenda para políticos de espectros tão diferente. Ele afirma que há um acordo para promover mudanças profundas na legenda:

— É igual a casamento. É daqui pra frente. As ações do partido são daqui para a frente. O passado já era. Nesse meio político, você não vai achar nenhum santo.

Bolsonaro nega haver contradição em ter usado a aliança com o PCdoB como motivo para deixar sua atual legenda e ir para um partido que estava na mesma coligação:

— O problema com o Pastor Everaldo (presidente do PSC) é que eu estava no casamento, e o cara foi no Maranhão fazer a aliança. Aí eu questionei e ele manteve. Aí não dá! Agora é um casamento novo.

O deputado disse que Adilson Barroso chegou a lhe oferecer a presidência do partido, mas que preferiu a formação de uma nova executiva, na qual terá maioria. Segundo Bolsonaro, a alteração no estatuto da legenda e a mudança de nome para Patriota será feita nesta semana. Ele antecipou que o próximo passo é promover mudanças nos diretórios estaduais.

— Vamos mudar 90% do partido. O Adílson (Barroso) até queria me entregar a presidência, mas como as decisões são coletivas e teremos maioria na executiva, eu falei pra ele que não precisava. Não quero dar detalhe, mas vamos trocar mais da metade dos diretórios, vamos cortar muita cabeça.

O globo, n.30702 , 28/08/2017. PAÍS, p. 5