Nenhum partido da base já fechou apoio a Temer

Isadora Peron / Daiene Cardoso

03/07/2017

 

 

PRESIDENTE ACUSADO / Às vésperas do recesso e com denúncia contra o presidente por corrupção passiva na Câmara, legendas ainda discutem posicionamento sobre aceitação de abertura de ação

 

 

Nenhuma bancada entre os dez principais partidos da base aliada do governo fechou apoio ao presidente Michel Temer contra a denúncia apresentada pela Procuradoria- Geral da República (PGR). Líderes marcaram reuniões nesta semana para tentar definir o posicionamento que devem adotar em relação ao caso na Câmara. Apesar de as lideranças afirmarem que há maioria na Casa para derrubar o processo, o clima é de incerteza.

A defesa de Temer terá dez sessões para entregar os argumentos contra a denúncia por corrupção passiva protocolada pelo procurador-geral Rodrigo Janot. O presidente é acusado com base na delação de executivos do Grupo J&F – controlador da JSB –, dos irmãos Joesley e Wesley Batista. Os advogados dizem que até o fim desta semana devem apresentar a defesa (mais informações nesta página).

O Congresso está às vésperas do recesso parlamentar.

Das principais legendas da base, que reúnem pelo menos 327 parlamentares, nem mesmo o PMDB decidiu fechar questão, o que significaria que o deputado teria de seguir a posição definida pela sigla para não sofrer uma sanção. Partido de Temer, o PMDB tem 63 deputados federais.

A Câmara é composta por 513 parlamentares.

“O fechamento de questão não foi discutido. Mas nem será necessário, a bancada está unida. Não há nenhum fato concreto que possa incriminar o presidente”, disse o líder do PMDB na Câmara, Baleia Rossi (SP).

O caso mais crítico para Temer é o PSDB. Seis dos sete deputados integrantes da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) – onde ocorre a primeira tramitação na Casa – devem votar pela aceitação da denúncia.

Líder do partido, o deputado Ricardo Tripoli (SP) disse que vai reunir a bancada – 46 parlamentares – durante esta semana.

A expectativa é de que a pressão pelo desembarque do governo aumente. Os tucanos têm ainda a discussão interna sobre antecipar ou não a convenção nacional com o objetivo de eleger uma nova Executiva e definir a situação da presidência do partido.

Até mesmo o líder do DEM, Efraim Filho (PB), evitou fazer uma defesa enfática do presidente.

Segundo ele, o partido vai reunir a bancada para tirar uma posição somente após Temer apresentar a sua versão dos fatos. “Até agora, é conhecida apenas a versão da acusação por meio da denúncia enviada pela PGR”, disse.

O DEM é a legenda do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ), primeiro na linha sucessória, que assumiria o cargo caso a denúncia seja aceita. Reportagem publicada ontem pelo Estado mostrou que Maia se descolou do Palácio do Planalto nos últimos dias.

 

Termômetro. O líder do Podemos, antigo PTN, Alexandre Baldy (GO), também disse que ainda “é muito cedo” para ter um termômetro da situação. O partido tem 14 deputados. Já em partidos como o PSD, PP, PR e PTB, o discurso predominante é o de que a denúncia não traz provas concretas contra Temer. Juntas, as quatro legendas do chamado Centrão formam um grupo de cerca de 140 deputados.

Para o líder do PR, deputado José Rocha (BA), o governo terá maioria na CCJ e no plenário, pois os parlamentares vão avaliar que falta pouco mais de um ano para a eleição presidencial.

“Você acha que o País tem condições de suportar duas eleições?”, questionou Rocha. Já o líder do PTB na Câmara, Jovair Arantes (GO), também usou o princípio da estabilidade para defender a permanência de Temer. “O País não merece mais uma ruptura neste momento”, afirmou.

 

Distanciamento. O processo contra Temer deve selar o afastamento do PSB do governo. A líder Tereza Cristina (MS) é próxima a Temer, mas admite que a maioria da bancada, de 36 deputados, deve optar por votar pelo seguimento da denúncia.

O assunto será discutido amanhã. No mesmo dia, o presidente da CCJ, Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), deve anunciar o nome do relator da denúncia na comissão. A denúncia contra Temer chegou à Câmara na quinta-feira passada. Após a defesa se manifestar, haverá cinco sessões para o deputado que for designado relator apresentar seu parecer.

Em seguida, o processo vai ao plenário. Para que o STF dê seguimento ao caso, são necessários os votos de 342 deputados.

 

Investigação. Para que o Supremo Tribunal Federal dê seguimento ao caso, são necessários os votos de 342 deputados

 

Questão

“O fechamento de questão (com relação à denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República contra o presidente Michel Temer) não foi discutido. Mas nem será necessário, a bancada está unida. Não há nenhum fato concreto que possa incriminar o presidente.”

Baleia Rossi (SP)

LÍDER DO PMDB NA CÂMARA DOS DEPUTADOS

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No Jaburu, presidente discute estratégias

André Borges / Lu Aiko Otta

03/07/2017

 

 
Temer se reuniu ontem com aliados e ministros; presidente da CCJ da Câmara apresenta amanhã nome de relator

 

 

O presidente Michel Temer se reuniu ontem com aliados e ministros no Palácio do Jaburu para discutir a estratégia política desta semana, quando começa a contar o prazo para a defesa contra a denúncia apresentada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Estiveram na residência de Temer os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e o tucano Antonio Imbassahy (Secretaria de Governo), além de parlamentares.

A intenção do presidente é entregar o mais rápido possível a defesa na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara. Anteontem, ele viajou a São Paulo, onde se encontrou com o advogado Antônio Claudio Mariz de Oliveira. Aliados defendem a apresentação dos argumentos contra a denúncia por corrupção passiva até amanhã.

Seria no mesmo dia em que o presidente da CCJ, Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), deve apresentar o nome do relator. Pacheco tem se mostrado independente em relação ao governo, o que o levou o Palácio do Planalto a sinalizar com cargos.

Temer tem até dez sessões para protocolar a defesa na Câmara. Depois, a Casa terá outras cinco para analisar o caso.

Temer tem conversado pessoalmente com deputados para tentar garantir os votos necessários contra a denúncia. Hoje, por exemplo, o único compromisso em sua agenda é uma reunião com o deputado Jorge Tadeu Mudalen (DEM-SP), às 14h30.

 

Barreira. Para dificultar a identificação de quem entra e sai do Jaburu, onde Temer e sua família moram, foram enfileirados vasos de plantas em uma das laterais da estrutura coberta que liga a área de desembarque dos carros até a entrada principal do prédio.

Com essa “barreira”, a visão ficou encoberta e dificulta imagens dos convidados. 

 

Bloqueio. Vasos impedem visão da entrada do Jaburu

 

 

O Estado de São Paulo, n. 45184, 03/04/2017. Política, p. A4.