Licenciado, Aécio é acusado de destituir dirigente tucano

Renan Truffi / Pedro Venceslau

03/07/2017

 

 

Substituída no TSE antes do fim do mandato, liderança do Acre fala em ‘golpe’; senador diz desconhecer mudança e diretor assume troca

 

 

Impedido de exercer atividades parlamentares pelo Supremo Tribunal Federal até sexta-feira passada, o senador Aécio Neves (MG) não deixou de fazer política partidária. Embora o tucano esteja licenciado da presidência do PSDB, sua assinatura aparece como a responsável por interromper o mandato de um deputado federal do partido como presidente da sigla no Acre para colocar um aliado no poder no Estado. É o que acusa Major Rocha, agora ex-presidente local da sigla.

Em meio ao pior momento da carreira política de Aécio, no dia 11 de junho, um domingo, às 15h12, foi alterado na Justiça Eleitoral o mandato de toda a Executiva estadual no Acre. Foram destituídos de seus cargos 14 tucanos e o presidente Rocha.

A mudança foi registrada pelo Sistema de Gerenciamento de Informações Partidárias (SGPI) do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Na ocasião, o senador Tasso Jereissati (CE) já havia assumido interinamente o comando do PSDB.

O Estado teve acesso ao documento da Justiça Eleitoral que sacramenta o término do mandato de todo o Diretório Estadual.

Segundo o documento, o prazo foi alterado de 31 de maio de 2018 para 17 de junho de 2017. Uma consulta no site do TSE informa que, antes dessa, a última alteração tinha sido realizada dois meses antes, no dia 7 de abril, quando o mandato de todos os membros do Diretório fora prorrogado por um ano.

As mudanças no Diretório Estadual do Acre são assinadas eletronicamente por Aécio Neves da Cunha (mais informações no quadro ao lado). A assessoria de imprensa de Aécio, no entanto, informou que o senador está afastado das funções partidárias e só tomou conhecimento do caso pela reportagem.

Rocha integra o grupo conhecido como “cabeças pretas”, ala do PSDB na Câmara que pede o desembarque do partido da base aliada do governo Michel Temer. Ele também tem sido uma das vozes tucanas que pedem a convocação de uma convenção nacional para que os filiados possam eleger um novo presidente para a sigla.

 

‘Golpe’. Por causa disso, o deputado acriano acusa Aécio de ter dado um “golpe” para beneficiar o ex-deputado federal Marcio Bittar, tucano do mesmo Estado que almeja ser candidato a senador pelo PSDB em 2018. “O que vivenciamos no partido, infelizmente, foi uma tentativa de golpe. Veja que nos dias 13 e 19 alguém entrou no site do TRE e simplesmente apagou a atual Executiva. No dia 19, tentaram inscrever outra Executiva.

O que mais me chamou atenção foi que quem fez isso, segundo o TRE, foi o Aécio, alguém que está afastado da presidência. Informei o presidente, Tasso Jeiresatti, que ficou preocupado e tentou resolver esse problema”, disse o deputado federal ao site AC24horas do Acre.

Rocha se negou a comentar o assunto com a reportagem, mas o Estado apurou que o deputado ameaçou entrar com um mandado de segurança na Justiça. A situação fez com que a cúpula tucana agisse para controlar a crise interna. O líder do PSDB na Câmara, Ricardo Tripoli (SP), conseguiu evitar que Rocha levasse a situação à tribuna do Câmara dos Deputados na semana passada.

 

Desempenho. Procurado, Bittar disse que o assunto é uma questão interna do PSDB e não tem relevância nacional. Ele argumentou que o mandato de Rocha tinha período de dois anos e expirou. A justificativa oficial do PSDB para a interrupção do mandato de Rocha é o fraco desempenho do partido no Acre nas eleições de 2016. Isso porque, em janeiro de 2017, quando Aécio aprovou a prorrogação do mandato de todas as Executivas, incluindo o seu, a direção do PSDB havia estabelecido metas de desempenho para o pleito terminado meses antes.

Pela resolução do partido, apenas os Estados que tivessem atingido um desempenho mínimo poderiam ter os mandatos das Executivas prorrogados. Ao todo, seis Estados não conseguiram atingir a meta de candidatos recomendada pela direção nacional. Os comandos de cinco outros Estados conseguiram negociar a extensão do mandato, somente o Acre teve sua Executiva destituída.

Procurado pela reportagem, João Almeida, diretor de Gestão Corporativa do PSDB, disse que foi ele quem usou login e senha de Aécio para alterar a composição da Diretório Estadual do Acre. Segundo ele, o login é cadastrado em nome do presidente do partido, por isso a assinatura de Aécio na movimentação realizada. Almeida ainda argumentou que o Acre não ultrapassou a linha de corte pelo pífio desempenho nas eleições municipais do ano passado.

 

De volta. Na sexta-feira passada, ministro do STF devolveu funções parlamentares a Aécio

 

PONTOS-CHAVE

PGR diz que líder pediu R$ 2 milhões

Gravação

Em 17 de maio, é divulgada a informação de que o senador Aécio Neves (PSDB) teve conversa gravada em que pedia R$ 2 mi a Joesley Batista, dono da JBS.

 

Afastamento

O ministro Edson Fachin, do STF, impõe o afastamento de Aécio das funções de senador e nega pedido de prisão feito pela Procuradoria- Geral da República.

 

Licença

Pressionado, Aécio pede licença do comando nacional do PSDB e o cargo é ocupado interinamente pelo senador cearense Tasso Jereissati (foto).

 

Funções

Na sexta-feira passada, o ministro Marco Aurélio Mello determina a retomada das funções parlamentares de Aécio, que voltará ao Senado nesta semana.

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Senador deve fazer pronunciamento no plenário

Thiago Faria

03/07/2017

 

 

Autorizado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a retomar o mandato no Senado, Aécio Neves (PSDB-MG) avalia fazer amanhã um discurso no plenário para se defender das acusações da Procuradoria-Geral da República (PGR). O mineiro também pretende ouvir seus colegas de partido antes de decidir se reassume a presidência da legenda, ocupada interinamente pelo senador Tasso Jereissati (PSDB-CE).

Aécio estava afastado do mandato desde maio, após decisão do ministro Edson Fachin, do STF. Na ocasião, o senador também se afastou do comando nacional da legenda. Na sexta- feira, porém, o ministro Marco Aurélio Mello derrubou a decisão e autorizou a volta de Aécio ao Senado.

Na avaliação de tucanos ouvidos pelo Estado, caberá agora apenas a Aécio decidir sobre o retorno ao comando do partido, pois seu afastamento foi uma decisão unilateral.

“É um direito dele tomar essa decisão, que é muito pessoal.

Agora, evidentemente, há um abalo por tudo que aconteceu e é preciso ser levado em conta na hora de pensarmos o que é melhor para o partido”, afirmou o vice-presidente do PSDB Alberto Goldman, que é próximo ao senador José Serra (PSDB-SP).

Um dos que devem ser ouvidos será o líder da bancada tucana no Senado, Paulo Bauer (PSDB-SC), que indica preferir a permanência de Tasso. “Considero que o Tasso está sendo um presidente com um bom desempenho, conduzindo muito bem o partido”, afirmou. Bauer, no entanto, disse ainda não ter conversado com Aécio sobre o assunto, o que deve ocorrer hoje.

Para o presidente Michel Temer, o melhor seria a volta do senador mineiro ao comando da legenda. Aécio é um dos principais fiadores da permanência do PSDB na base, enquanto Tasso tem dado declarações mais alinhadas com a ala que defende o desembarque.

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Doria defende saída de presidente licenciado e eleição de Executiva

Pedro Venceslau

03/07/2017

 

 

Prefeito passa a pedir abertamente escolha de substituto para senador Aécio Neves no comando nacional do PSDB

 

 

Aliado do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, o prefeito João Doria passou a defender abertamente a antecipação da renovação de toda a Executiva do PSDB ainda neste ano e a realização de uma convenção partidária para eleger o substituto do senador Aécio Neves (MG) no comando nacional da sigla.

“Respeito o senador Aécio Neves, mas seria bom para o PSDB promover eleição para uma nova Executiva nacional para concluir esse mandato que se encerra em maio”, disse Doria ao Estado. O mandato da atual direção da legenda terminaria em maio, mas foi prorrogado por mais um ano por Aécio por meio de uma resolução de 15 de dezembro de 2016.

Na ocasião, aliados de Alckmin se colocaram contra a medida. O governador também defende a interrupção da prorrogação e a antecipação da convenção nacional para o segundo semestre.

A avaliação no Palácio dos Bandeirantes é de que o PSDB não pode esperar até quase metade de 2018, ano de eleições, para definir sua nova cúpula e o candidato à Presidência. Isolado da máquina partidária na gestão de Aécio, Alckmin ganhou projeção desde que o senador Tasso Jereissati (CE) assumiu a legenda interinamente em maio, quando o tucano mineiro se licenciou após a divulgação da gravação em que pede R$ 2 milhões a Joesley Batista, da JBS.

A estratégia dos “alckmistas” agora é mudar a configuração da Executiva para ampliar a influência do governador e assegurar sua candidatura à Presidência.

Na próxima reunião do colegiado, que deve ocorrer nesta semana, o secretário-geral do PSDB, deputado Silvio Torres (SP), dirá que a atual Executiva representa o resultado das eleições de 2014, sem levar em conta cenários posteriores, como as eleições de 2016 e a crise política.

“Governadores e prefeitos precisam estar representados formalmente na Executiva”, disse Torres. 

 

Antecipação. João Doria quer convenção ainda neste ano

 

‘Respeito’

“Respeito o senador Aécio Neves, mas seria bom para o PSDB promover eleição para uma nova Executiva nacional.”

João Doria (PSDB)

PREFEITO DE SÃO PAULO

 

 

O Estado de São Paulo, n. 45184, 03/07/2017. Política, p. A6.