O Estado de São Paulo, n. 45189, 08/07/2017. Política, p. A6.

Mercado quer manutenção de diretriz econômica

Alexa Salomão

08/07/2017

 

 

Na semana em que Michel Temer e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), dividiram as atenções nas articulações para eventual substituição na Presidência da República, quem também assumiu o protagonismo político no mercado foi a equipe econômica. Para analistas, economistas e empresários, mais importante que escolher entre Temer e Maia, é garantir a permanência do time comandado pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles.

Em retrospecto, quem acompanha o trabalho de reconstrução das contas públicas lembra que o País só recuperou o rumo porque soube selecionar um corpo técnico eficiente para tocar a economia. “A turma escolhida para ocupar o Tesouro Nacional, o Banco Central e a Fazenda salvou o País do desastre econômico no ano passado”, disse o presidente do Insper, Marcos Lisboa, que foi secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda.

Executivos de grandes empresas já assumiram a posição abertamente. “Independentemente do que acontecer, é fundamental manter a equipe econômica e continuar as reformas”, afirmou o presidente da Embraer, Paulo Cesar de Souza e Silva. Theo Van Der Loo, presidente da Bayer no Brasil, concorda. “A manutenção da atual equipe dará maior confiança e cria menos instabilidade.”

O setor financeiro tem leitura similar. O economista-chefe do Santander Brasil, Mauricio Molon, afirmou ontem, durante evento da instituição na Espanha, que o mercado precificou a permanência de Temer na Presidência, por causa da crise política, mas que uma mudança no time econômico jogaria o Brasil na instabilidade.

“O melhor para o País é que o quadro se defina o quanto antes, mas o mais importante é, seja lá quem venha a assumir, que a equipe econômica seja mantida”, disse o economista José Roberto Mendonça de Barros, sócio da MB Associados e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda.

Reformas. Consultorias e instituições financeiras já preveem a substituição de Temer por Maia, enfatizando que o mais importante é manter a agenda e a equipe econômica. Em análise distribuída a clientes, a XP Investimentos, uma das maiores corretoras do País, afirmou que garantir a atual política econômica faz parte do jogo de forças política neste momento, e citou o presidente da Câmara.

“Maia lançou seus compromissos de governo no Twitter. Com a manutenção da agenda econômica ele garante também a manutenção do time econômico. Vai ficando evidente que a assunção de Maia serviria para virar a pauta do País de volta para as votações no Congresso.”

Para o empresário Guilherme Paulus, fundador da CVC, a equipe econômica tem feito um “grande trabalho”. “Se o governo mudar mesmo, será muito importante manter a equipe econômica para que haja menos incertezas. É uma equipe muito consistente, tem satisfeito as ansiedades e Meirelles tem feito um grande trabalho.”

Paulus avaliou que, com consistência econômica, o País pode fazer a transição. “Abri a CVC há 45 anos, passei por inúmeros pacotes, planos, e sempre vamos em frente, indo atrás do dinheiro e consertando as burradas políticas. Os empresários brasileiros têm aprendido a não depender do governo.”

Base política. A possibilidade de Maia de assumir a Presidência é vista pela base como uma “continuidade” em relação aos espaços ocupados no governo e à agenda de reformas de Temer. Segundo interlocutores do presidente da Câmara, em uma sinalização ao mercado, Maia manteria a equipe econômica, especialmente Meirelles.

Apesar de divergências pontuais, o deputado tem defendido a agenda econômica iniciada por Temer e já atuou como “líder do governo” para aprová-la. Ontem, Maia usou as redes sociais para defender o andamento das reformas no Congresso. / COLABORARAM CLEIDE SILVA, CRISTIANE BARBIERI, LUCIANA DYNIEWICZ, ALINE BRONZATI, MÔNICA SCARAMUZZO, ISADORA PERON e DAIENE CARDOSO

 

- Confiança

“A turma escolhida para ocupar o Tesouro, o Banco Central e a Fazenda salvou o País do desastre.”

Marcos Lisboa

PRESIDENTE DO INSPER

 

“Independentemente do que acontecer, é fundamental manter a equipe econômica.”

Paulo Cesar de Souza e Silva

PRESIDENTE DA EMBRAER

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‘Botafogo’ recebeu caixa 2, dizem delatores

Luiz Vassallo Julia Affonso

08/07/2017

 

 

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), primeiro na linha sucessória de Michel Temer, também é alvo de inquéritos no Supremo Tribunal Federal.

Recaem sobre o “Botafogo”, como é chamado nas planilhas do “departamento de propina” da Odebrecht, citações de repasses, via caixa 2, nas eleições de 2008, 2010 e 2012.

O valor total dado pela empreiteira, às margens da lei eleitoral, é de R$ 1 milhão, segundo colaboradores disseram à Procuradoria- Geral da República.

Em um inquérito, Maia é citado como integrante de um grupo de deputados que teria ajudado, em troca de doações não contabilizadas, a Braskem (empresa do setor petroquímico pertencente à Odebrecht) com alterações no texto da Medida Provisória 613/2013, que tratava de benefícios fiscais a produtores de etanol por meio da redução de PIS/Pasep e Cofins.

O delator Cláudio Melo Filho, que era funcionário do “departamento de propinas” da Odebrecht, disse que, por supostamente ajudar com essa MP que beneficiaria a Braskem, “Botafogo” recebeu R$ 100 mil em 2013, por meio de caixa 2.

Em outro inquérito contra o presidente da Câmara dos Deputados, o mesmo delator relatou ter indicado pagamentos de R$ 350 mil, em 2008, quando Maia se candidatou, sem sucesso, à prefeitura do Rio, e R$ 600 mil em 2010, em sua campanha a deputado federal.

A Polícia Federal chegou a identificar mensagens de celular entre Maia e o empreiteiro Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS, que apontavam supostas propinas de R$ 1 milhão.

Segundo inquérito da PF, em troca dos valores, o parlamentar teria defendido interesses da empreiteira no Congresso, entre 2013 e 2014.

Maia, que nega as acusações, classificou as investigações, à época em que foram reveladas, de “um absurdo”.