O Estado de São Paulo, n. 45189, 08/07/2017. Política, p. A7.

 

Incerteza é 73% maior que no impeachment

Daniel Bramatti

08/07/2017

 

 

Há mais deputados que não declaram voto da denúncia contra Temer do que no caso de Dilma

 

 

A denúncia por corrupção passiva apresentada pela Procuradoria- Geral da República contra Michel Temer é de conhecimento público há quase duas semanas, mas 57% dos deputados ainda não se posicionam a favor ou contra a transformação do presidente em réu. Essa “taxa de incerteza” é muito maior agora que na época da tramitação do pedido de impeachment de Dilma Rousseff, em 2016.

Quando o placar do impeachment de Dilma começou a ser publicado pelo Estado, no início de abril de 2016, 169 deputados evitavam revelar sua posição (um terço do total). Agora, quando o jornal começa a publicar o placar da denúncia, o número de parlamentares “no muro” é 73% maior: 293.

No placar atual, há 162 deputados a favor do acolhimento da denúncia, e 57 declaradamente contrários. A aprovação depende de 342 votos. Se isso ocorrer, Temer será afastado do cargo.

Cenários. Para o cientista político Carlos Melo, as diferenças nos cenários de Temer e Dilma têm diversas causas: a ausência de um “comandante” da oposição, como Eduardo Cunha na época da petista, a pressão menor da opinião pública, a maior habilidade do atual governo ao negociar com deputados e, por fim, o fato de o “espólio” de cargos com o eventual fim do governo atual ser menor.

Melo considera que, em qualquer processo que pode culminar na derrubada de um presidente, há quatro grupos bem definidos no Congresso. O primeiro é o da oposição, que se declara de forma enfática logo de início, para responder ao seu eleitorado tradicional. O segundo grupo é o do mesmo partido ou da mesma base social do presidente – o PT, no caso de Dilma, e setores do PMDB e do Centrão, no caso de Temer.

Outra parcela numerosa é formada por parlamentares que preferem esperar por um posicionamento claro da maioria da opinião pública, ou ao menos de suas bases. “E tem um quarto grupo que vê nisso tudo a chance de levar vantagem”, afirma Melo. “São os deputados para os quais o governo tem de abrir o bolso.”

No atual momento, a maioria da Câmara integra o terceiro e o quarto grupos, segundo a análise do cientista político. Essa maioria não se formou no processo de impeachment de Dilma porque o contexto político era muito diferente. “Temer é tão impopular quanto Dilma, mas em 2016 a população estava nas ruas”, diz Melo. “Havia esperança de que a situação melhoraria com a saída dela. Hoje a opinião pública está desiludida.”

Melo observa que a ala fisiológica da Câmara também negociou benesses com Dilma, mas, no fundo, era fiel ao então presidente da Câmara, Eduardo Cunha – inimigo declarado do partido da presidente.

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Base governista troca titulares na comissão

Daiene Cardoso/ Isadora Peron/ Tânia Monteiro

08/07/2017

 

 

 

Diante da perspectiva de derrota na CCJ, a base governista prepara uma série de mudanças na composição do colegiado na próxima semana. O vice-líder da bancada do PMDB e membro da “tropa de choque” de Temer, Carlos Marun (MS), será alçado ao posto de titular no lugar de José Fogaça (PMDB-RS).

O PTB também pretende tirar Arnaldo Faria de Sá (SP), opositor do governo, da titularidade. Ele vai para suplência no lugar de Giovani Cherini (PRRS) e para a vaga de titular do PTB vai Nelson Marquezelli (PTB-SP). Na bancada do PSD, Evandro Roman (PSD-PR) substituirá Expedito Netto (PSD-RO) como titular – ao placar da denúncia, do Estado, Netto se declarou favorável à denúncia. Só o Solidariedade já fez quatro trocas nos últimos dias. A final, a titularidade da vaga ficou com Laércio Oliveira (SE), reconhecido governista.