Rabello quer elevar desembolsos para R$ 100 bi esse ano

Estevão Taiar

27/06/2017

 

 

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) pretende até dezembro aumentar para R$ 100 bilhões o volume de desembolsos anuais. Em maio, no acumulado de 12 meses, esse número estava em R$ 84,138 bilhões. Em 2016, os desembolsos somaram R$ 88,2 bilhões, queda de 35% ante 2015 e o menor patamar desde 2007.

"Mas não queremos colocar três ou quatro grandes operações bilionárias [para atingir os R$ 100 bilhões] ", disse ontem o presidente do banco, Paulo Rabello de Castro. As declarações foram dadas após o lançamento do Canal do Desenvolvedor MPME, plataforma que pretende facilitar o acesso de micro, pequenas e médias empresas às linhas de crédito do banco. De acordo com Rabello, o objetivo da instituição é "pulverizar" o crédito no Brasil.

O BNDES pretende, por exemplo, que micro, pequenas e médias empresas, com faturamento anual de até R$ 300 milhões, recebam aproximadamente 50% dos recursos emprestados. Hoje, essa proporção está em 38%. Segundo o presidente do BNDES, a estimativa é factível justamente por causa do Canal do Desenvolvedor MPME. Sem a plataforma, esse número iria, no máximo, a 41%, de acordo com Rabello.

Presente no mesmo evento, o diretor da área de operações indiretas, Ricardo Ramos, afirmou que o BNDES tem o objetivo de "em 10 ou 12 meses" fazer operações diretas com micro, pequenas e médias empresas, sem a intermediação de outras instituições financeiras. Ele não detalhou como podem ser realizadas essas operações, mas afirmou que elas devem contar com a participação de "fintechs" - startups de crédito que apostam intensivamente na tecnologia para baratear custo de empréstimos.

Rabello lembrou que a criação do Canal de Desenvolvedor MPME começou na gestão de sua antecessora, Maria Silvia Bastos Marques. Nos bastidores, ela vinha sofrendo críticas de empresários e membros do próprio governo, que a acusavam de ter 'fechado a torneira' do caixa da instituição. Rabello, que é próximo do presidente Michel Temer e comandava o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foi chamado para presidir a instituição após a saída de Maria Silvia.

Segundo Rabello, o Canal do Desenvolvedor tem o objetivo de contribuir com o desenvolvimento do negócio do "pequeníssimo empreendedor". "É nesta etapa que o banco quer estar", disse.

Mesmo prometendo foco nas companhias desse porte, ele garantiu que o BNDES "com certeza" também está aberto a fazer novos empréstimos para obras e empresas no exterior. Ele minimizou as perdas que o banco vem tendo com projetos em países como Angola e Moçambique, conforme divulgado no sábado pelo jornal "Folha de S. Paulo".

"O caso de Moçambique é um assunto normal para qualquer banco, não afeta as contas do BNDES", disse. "É algo lateral", afirmou ele, para quem não há problemas no fato de a instituição correr riscos, desde que esse risco seja devidamente analisado. "O BNDES quer conviver mais com o risco. As micro, pequenas e médias empresas também trazem riscos, mas eles precisam ser tratados com a tipologia adequada", disse ele.

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4284, 27/06/2017. Brasil, p. A5.