Título: Prédio desocupado e uma nova proposta
Autor: Amado, Guilherme
Fonte: Correio Braziliense, 10/02/2012, Política, p. 2/3
Após desocuparem a Assembleia Legislativa da Bahia, na manhã de ontem, os policiais militares em greve há 10 dias no estado decidiram manter a paralisação, depois de o governador Jaques Wagner não aceitar uma nova proposta feita pelos manifestantes. Elaborado em um encontro que contou com dois mil PMs, o documento pedia ao governo a antecipação para março do pagamento da GAP 4 (Gratificação de Atividade Policial), previsto pelo governo para novembro, e para 2013 o da GAP 5, gratificação programada para ser quitada entre 2013 e 2015. O grupo também exigia a revogação do mandado de prisão de 12 líderes do movimento.
Às 6h25 de ontem, o primeiro grupo de grevistas deixou o prédio da Assembleia. Dois líderes, o ex-policial Marco Prisco e o policial Antonio Paulo Angelini, saíram presos, pelos fundos do prédio, para uma instalação da polícia do Exército. No fim da tarde, foram levados para a Cadeia Pública de Salvador, no Complexo Penitenciário da Mata Escura. Ao todo, 245 pessoas desocuparam a Assembleia e foram revistadas. A Polícia Federal fez uma varredura no edifício.
A saída dos manifestantes e as prisões ocorreram após a divulgação de conversas gravadas que combinam ações de vandalismo em Salvador. Prisco, líder da Associação de Policiais e Bombeiros e de seus Familiares (Aspra), foi flagrado em ao menos uma das ligações. O corte de água e energia elétrica no prédio da Assembleia e o impedimento por parte do Exército de que mantimentos fossem entregues também contribuíram para a decisão de desocupar o prédio.
O principal ponto que tem gerado impasse entre grevistas e governo é a reivindicação de revogação dos mandados de prisão dos 12 líderes presos. Uma comissão de deputados de partidos aliados de Jaques Wagner tentou um acordo político para amenizar as punições aos 12 líderes, mas só conseguiu manter a prisão preventiva em Salvador, e não em presídios federais, como queria o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo.
Risco Segundo o ex-deputado federal capitão Assunção (PSB-ES), há chance de policiais militares de sete estados entrarem em greve nas próximas semanas. Distrito Federal, Rio de Janeiro, Paraná, Alagoas, Espírito Santo, Mato Grosso e Rio Grande do Sul podem aderir à greve. "Estamos tentando negociar uma paralisação nacional. Mas isso vai depender do Rio de Janeiro. Só vamos avançar na paralisação nacional se o Rio aderir", afirmou Assunção. O capitão criticou a decisão de prender Prisco e o bombeiro Benevenuto Daciolo, que teve a prisão preventiva decretada ontem no Rio de Janeiro. "Eles criaram mártires. Entre os militares, isso é algo que mexe com todos", criticou.
No Rio de Janeiro, a Assembleia Legislativa aprovou projeto de lei para aumentar em 39% os salários dos policiais militares e civis, além de bombeiros e agentes penitenciários, até fevereiro de 2013. O projeto prevê ainda um novo reajuste em fevereiro de 2014, correspondente a duas vezes a inflação do ano, e um auxílio-transporte de R$ 100 por mês.
Em caso de greve, o Rio terá 14 mil homens do Exército à disposição do governo estadual. Segundo o comandante do Corpo de Bombeiros, coronel Sérgio Simões, 300 homens da Força nacional reforçarão a corporação em caso de paralisação. Simões colocou todos os quartéis de prontidão, incluindo bombeiros dos setores de administração. A decisão foi encarada como uma medida para esvaziar o encontro que policiais e bombeiros realizaram ontem, na Cinelândia, no Centro da capital fluminense. Na manifestação, policiais e bombeiros ameaçaram entrar em greve caso as reivindicações não fossem atendidas até a meia-noite de ontem. O grupo pedia que o bombeiro Daciolo fosse solto, além da adoção de um piso salarial de R$ 3.500, R$ 350 de auxílio-transporte e R$ 350 de auxílio-refeição.
No Ceará, em meio às críticas da presidente Dilma Rousseff à anistia, a Assembleia Legislativa do Ceará aprovou ontem a mensagem do governo estadual que acaba com a punição aos policiais que participaram do movimento grevista no Ceará, entre dezembro de 2011 e janeiro de 2012. A mensagem ainda reajustou o salário dos policiais em R$ 920,18. (GA)
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