Título: Se você anistiar, vira um país sem regra
Autor: Amado, Guilherme
Fonte: Correio Braziliense, 10/02/2012, Política, p. 2/3
Presidente Dilma condena a paralisação dos policiais na Bahia, avalia que o movimento deixa a população com medo e considera inadmissível qualquer tentativa de evitar punições aos militares que praticaram crimes durante o motim
A presidente Dilma Rousseff criticou ontem a greve de policiais militares na Bahia e aproveitou para mandar um recado aos PMs de todo o país, defendendo que a greve armada não é considerada pelo governo um caminho legítimo de reivindicação. Afirmando ser contra a anistia para policiais que cometeram crimes durante a paralisação, Dilma se disse "estarrecida" com as gravações telefônicas divulgadas na noite de quarta-feira, em que lideranças combinam atos de vandalismo e acertam a radicalização do movimento, inclusive, para outros estados.
"Não consideramos que seja correto instaurar o pânico, instaurar o medo, criar situações que não são aquelas compatíveis com uma democracia. Eu não considero que o aumento de homicídios na rua, queima de ônibus, entrar encapuzados em ônibus, seja a forma correta de conduzir o movimento", avaliou a presidente, durante visita às obras na Ferrovia Transnordestina, na cidade pernambucana de Parnamirim.
Dilma afirmou que não considera admissível anistiar quem comete crimes durante uma greve. "Por reivindicação, eu não acho que as pessoas têm que ser presas, nem de ser condenadas. Agora, por atos ilícitos, por crimes contra o patrimônio, crimes contra as pessoas e crimes contra a ordem pública não podem ser anistiados", defendeu a presidente. "Se você anistiar (todos os casos), vira um país sem regra", completou.
A presidente defendeu a postura de seu governo em relação à greve dos policiais. Segundo Dilma, o governo federal participou "ativamente", por meio do Exército e da Força Nacional da Segurança. A intenção, de acordo com a presidente, é que os governadores sejam apoiados sempre que a ajuda for pedida. "Não podemos entrar sem a solicitação do governo. Em os governos solicitando, como ocorreu no Maranhão, no Ceará, nós teremos a presença garantida do governo federal", afirmou.
As declarações de Dilma foram dadas pouco depois da desocupação da Assembleia Legislativa da Bahia pelos grevistas, com a prisão de dois líderes do movimento. A voz de um deles, o ex-policial Marco Prisco, aparece nas gravações citadas pela presidente conversando com um grevista que promete queimar uma patrulha e duas carretas na estrada Rio-Bahia.
Prejuízos Ontem, a greve dos PMs na Bahia chegou ao 10º dia. De acordo com a Secretaria de Segurança estadual, um terço dos 31 mil PMs estão parados. Em meio ao medo de que a paralisação prejudique o carnaval, a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas divulgou em nota ontem que, em 10 dias, os comerciantes baianos tiveram prejuízo estimado de R$ 400 milhões. A Associação Brasileira de Bares e Restaurantes também criticou a paralisação, afirmando que o resultado é "desesperador". Em nota, a entidade se disse assustada com o "prejuízo da imagem e as terríveis consequências para o turismo e economia da cidade".
Viagem ao Nordeste A presidente Dilma Rousseff terminou ontem a viagem pelo Nordeste, em que visitou obras estratégicas tocadas pelo governo federal na região. Ontem, reuniu-se com diretores da Transnordestina Logística, ferrovia de 1.728km de extensão, que deve ser concluída em dezembro de 2014. Na quarta-feira, Dilma já havia visitado as obras de transposição do Rio São Francisco.