Congresso define pauta em semana tensa

Cristian Klein

27/06/2017

 

 

A apresentação da denúncia contra o presidente Michel Temer, pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, independentemente do resultado, aumentará o desgaste da relação entre o PMDB e o PSDB. Abre janelas e largas portas de oportunidade para traições e para os tucanos, finalmente, desembarcarem do governo.

O custo de ficar na base aliada da administração federal mais impopular em 28 anos sobe cada vez mais para o PSDB conforme se aproxima 2018. Temer está pendurado pelo bico dos tucanos, que não conseguem voar na corrida presidencial. O peso a se carregar é tão grande ou maior que o da mala de R$ 500 mil que Joesley Batista diz ter enviado a Temer, por meio do ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR). As provas da delação da JBS incluem imagens do braço-direito de Temer saindo afobado com a bagagem de dinheiro de um restaurante de São Paulo.

Em contraste, candidatos da oposição ganham discurso e decolam. Não é à toa que Lula e Bolsonaro lideram as pesquisas ao Planalto, como apontou ontem o Datafolha.

Fatiada, a denúncia de Janot procura pôr Temer sobre pressão permanente. Fica prejudicada - ou terá que ser adaptada - a estratégia do pemedebista de mobilizar os aliados para barrar o processo na Câmara de modo tão apressado quanto a corridinha de Loures.

Com a expectativa de mais duas denúncias - além de corrupção passiva, há suspeita por formação de quadrilha e obstrução de Justiça - a PGR pretende cercar e sangrar Temer. Novos fatos podem contribuir para uma hemorragia. Como a decisão da Câmara de autorizar a abertura do processo é política, o fator mais importante para eventual queda do presidente é a debandada do PSDB.

O partido está desnorteado, não sabe se vai ou se fica no governo. Seu principal líder, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, escreve artigos defendendo a realização de eleições diretas. Para não tensionar mais o conflito interno, FHC fala pra fora e apela agora ao "bom senso" do pemedebista, para que ele tome a decisão de encurtar o próprio mandato. As reações de Temer e de seu escudeiro e presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), logo na sequência, deram ontem uma amostra de onde a animosidade pode chegar.

É a decisão tucana que tem o condão de acelerar o desfecho. A participação do PSDB no governo Temer, há muito, deixou de ser uma carona oportuna. O taxímetro não só está rodando como o motorista conduz o automóvel ao precipício eleitoral.

No entanto, para os demais partidos da base, que não têm projeto presidencial, a situação é menos dramática. Há mais margem para defender Temer contra a denúncia de Janot. A prioridade é a eleição de seus candidatos na Câmara e no Senado. Na medida em que a disputa no ano que vem se dará sem doações empresariais, desfrutar das benesses do governo federal para atender redutos eleitorais é a estratégia dominante das legendas fisiológicas.

O PSDB precisa de cargos, emendas parlamentares, mas sobretudo discurso. Tanto melhor se o movimento vier com a demonstração de liderança que seria provocar um efeito manada com sua saída. Antes da aprovação das reformas, porém, os tucanos sabem que dificilmente serão seguidos. Talvez mesmo depois, dada a dependência das siglas da base em relação ao governo. É nisso que Temer confia para evitar os 342 votos na Câmara que podem abrir caminho para que o Supremo Tribunal Federal transforme, pela primeira vez, um presidente em réu.

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4284, 27/06/2017. Política, p. A10.