Título: Marta rechaça apoio do PSD em São Paulo
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Correio Braziliense, 10/02/2012, Política, p. 4

Senadora que disputou e perdeu a prefeitura paulistana nas eleições de 2008 não quer aderir à campanha de Fernando Haddad caso Gilberto Kassab formalize aliança com o PT

Os integrantes do Diretório Nacional do PT, que se reuniram ontem em Brasília para discutir as linhas gerais das eleições municipais, perceberam o incômodo que a proposta de aliança feita pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (PSD), tem provocado em setores importantes da legenda. Reticente a aderir à campanha de Fernando Haddad (PT) à prefeitura paulistana, a senadora Marta Suplicy (PT-SP) encontrou nessa parceria mais uma razão para adiar seu apoio formal. "Eu tenho que ser muito cautelosa em não me posicionar com engajamento antes da solução para a questão do PSD. Senão, corro o risco de acordar num palanque de mãos dadas com Kassab", afirmou Marta.

A questão divide opiniões e é vista com cautela não apenas por Marta. Pessoas próximas a ela reconhecem que é difícil para a senadora dividir um palanque com Kassab depois da dura campanha eleitoral de 2008, pautada, em diversos momentos, por questões pessoais. Além disso, muitos petistas lembram que as gestões de José Serra (PSDB) e de Kassab — duas eleições em que Marta foi derrotada (2004 e 2008) — "destruíram todas as conquistas sociais criadas pela administração petista".

A posição da senadora, contudo, não é apoiada por todos. Interlocutores do Planalto lembram que, no PT, a estratégia de "apertar o torniquete" quase nunca dá certo. Reconhecem que Marta teve um gesto de grandeza ao abrir mão da disputa nas prévias pela prefeitura paulistana. E que já foi compensada com o aval do palácio para continuar como vice-presidente do Senado, ganhando a disputa contra o senador José Pimentel (PT-CE). "Ela não pode cobrar mais nada", avaliou um integrante histórico do partido.

Petistas próximos ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva acreditam que, no momento certo, Marta vai participar da campanha de Haddad. Alegam que Lula não tem, pessoalmente, nada contra a senadora, e que a ação explícita para convencê-la a retirar a pré-candidatura tem motivações unicamente eleitorais. "Lula acha Marta uma boa candidata, mas com um teto de votos que não consegue superar. Por isso, a exemplo do que fez ao lançar Dilma Rousseff para presidente, optou por lançar um nome novo na política paulistana", afirmou um aliado do ex-presidente.

Arrogância Novo líder do PT na Câmara, o deputado Jilmar Tatto (SP) — que, a exemplo de Marta, também se viu obrigado a abdicar dos planos de concorrer à prefeitura e foi recompensado com a liderança da bancada — acha que o partido não pode "ser arrogante e recusar o apoio do PSD". Tatto, que já foi muito próximo politicamente de Marta e hoje alça voos mais distantes da antiga mentora, aposta na fidelidade partidária da senadora. "Ela é um quadro disciplinado. No momento certo, acredito que vai estar conosco na campanha", declarou o deputado.

O petista, contudo, acha que a premissa básica para discutir uma aliança com o PSD é "não rebaixar o programa do partido". Segundo Tatto, a campanha vai mostrar que São Paulo precisa passar por mudanças urgentes em diversas áreas, como transportes, saneamento, saúde, educação e segurança. Mas nega que o PT perderá essa possibilidade aliando-se a Kassab — o atual gestor da prefeitura ostenta índices pífios de aprovação. "O Lulinha paz e amor nos ensinou que não devemos fazer uma campanha falando mal dos outros. Devemos, sim, mostrar o que vamos fazer melhor", completou o líder do PT.

O presidente nacional do PT, Rui Falcão, disse ainda que o Diretório Municipal de São Paulo só discutirá a política de alianças no encontro que ocorrerá em junho. Segundo ele, até o momento, as regras válidas são as definidas no congresso nacional do partido. "Só estão formalmente proibidas as alianças de cabeça de chapa com PSDB, DEM e PPS", disse Falcão.