Partidos da base evitam tomar posição

Raphael Di Cunto e Marcelo Ribeiro

28/06/2017

 

 

À espera da repercussão entre os eleitores da denúncia feita pelo procurador-geral da República (PGR), Rodrigo Janot, contra o presidente Michel Temer, a base aliada na Câmara dos Deputados praticamente ignorou as acusações. Nenhum partido governista anunciou posição a favor da denúncia e só o PR divulgou que votará contra a aceitação.

O argumento mais ouvido dos líderes da base é que não houve tempo para ler o conteúdo da denúncia, um documento de 64 páginas que ainda está com o ministro Edson Fachin, relator do processo no Supremo Tribunal Federal (STF), mas que já foi amplamente divulgado pela imprensa e circula entre os parlamentares. Evitaram se manifestar antecipadamente os líderes de PSDB, DEM, PP, PSB, PRB e Podemos.

O líder do PR na Câmara dos Deputados, José Rocha (BA), foi o único a defender o arquivamento da denúncia. "Qualquer processo nesse nível só faz piorar a situação do país do ponto de vista econômico. O partido será contra a denúncia", afirmou.

A Câmara precisa autorizar, com apoio de pelo menos 342 dos 513 deputados, o STF a julgar a denúncia de que Temer cometeu crime de corrupção passiva ao indicar o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) como intermediário para resolver "pendências" da JBS com o governo. Loures teria intercedido no Cade a favor da empresa contra a Petrobras, o que renderia suposto pagamento de propina de R$ 500 mil por semana. Ele foi filmado recebendo o dinheiro em uma mala. Para a PGR, Temer receberia parte do dinheiro. Os pemedebistas negam as acusações.

Parte da base defendeu que é preciso, antes de um posicionamento, aguardar o rito do STF sobre a tramitação e analisar não apenas o conteúdo da denúncia, mas também os impactos na economica e no cenário político. Líder do PP na Câmara, o deputado Arthur Lira (AL) disse que a votação "está um pouco acima do mérito". "A questão política e econômica tem que ser analisada também, o que aconteceu, o que pode acontecer. O TSE [Tribunal Superior Eleitoral] leva isso em conta, o Supremo leva isso em conta. A gente, mais do que ninguém, tem que levar isso em conta", afirmou.

O líder do PPS, deputado Arnaldo Jordy (PA), marcou reunião hoje para que a bancada se manifeste, mas disse que a tendência é que o partido seja a favor da autorização, como ocorreu em outras investigações. Da tribuna, ele defendeu que Temer renuncie. "Não é mais uma questão técnica, sobre pedaladas. É uma denúncia gravíssima de crime, incompatível com o cargo", disse. O partido abriu mão do Ministério da Cultura, mas continua a frente da Defesa.

Já o presidente do Solidariedade, deputado Paulinho da Força (SP), considerou a denúncia "fraca", sem "fatos novos", e que o conteúdo não prova que o dinheiro era para Temer. "Pode ser para ele mesmo [Loures]", disse.

Para a oposição, só haverá apoio para afastar Temer caso a população saia às ruas - o que tem grande peso em ano pré-eleitoral e contra um governo aprovado por apenas 7% da população. "Sem a rua ele não vai sair", admitiu o deputado Silvio Costa (PTdoB-PE), que reconhece que as mobilizações populares devem ser menores do que as do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff por um descrédito geral com a política.

A estratégia de não antecipar um posicionamento na base também servirá para o esvaziamento da sessão da Câmara para votar a denúncia. Temer pode registrar zero votos contra a autorização, caso mais de 171 deputados faltem, porque a "responsabilidade" de colocar votos é da oposição.

Contra esse plano, a oposição articula duas frentes: pediu ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que a sessão seja domingo, igual ao que ocorreu com o impeachment de Dilma, e estuda não dar quórum no dia em que a denúncia for votada em plenário até que a base registre presença. Assim, constrangiria os deputados a votarem ou seriam cobrados por darem presença e "se esconderem".

Maia recebeu a oposição ontem e prometeu discutir o rito de tramitação com eles, mas não se comprometeu a seguir as regras do impeachment. Defendeu, por exemplo, "ter dificuldade" em realizar a votação durante o fim de semana por se considerar menos adepto da "espetacularização", o que, em sua avaliação, era comum ao seu antecessor no cardo, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

No Senado, Jader Barbalho (PMDB-PA) atacou o Ministério Público e STF. Criticou a delação da JBS, defendeu o ex-presidente Lula contra uma "conspiração para tira-lo da sucessão presidencial" e que o STF não tem autoridade para afastar o senador Aécio Neves (PMDB-MG). "Conclamo a todos, senhoras e os senhores: vamos tomar juízo! Vamos nos respeitar, antes que seja tarde demais, porque esse processo vai liquidando partido a partido, grupo a grupo, liderança por liderança". (Colaborou Vandson Lima)

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4285, 28/06/2017. Política, p. A7.