Denúncia contra Temer não deve impulsionar atos

Cristiane Agostine

28/06/2017

 

 

Centrais sindicais e movimentos sociais relatam dificuldades para mobilizar a população para uma nova greve geral contra o governo Michel Temer, mesmo depois de o presidente ter sido denunciado por corrupção pela Procuradoria-Geral da República. Às vésperas de uma nova paralisação nacional, marcada para sexta-feira, entidades populares apontam a "exaustão da mobilização" depois de um semestre intenso de protestos contra Temer e as reformas trabalhista e da Previdência.

A paralisação do transporte em São Paulo, que foi um dos principais trunfos das centrais sindicais na greve geral de 28 de abril, não deve se repetir na sexta-feira. Os motoristas de ônibus não vão parar, nem a maior parte dos trabalhadores dos trens da CPTM e os metroviários vão decidir amanhã se vão paralisar as atividades ou não. Na semana passada o Sindicato dos Metroviários aprovou em assembleia um indicativo de greve, mas ontem a entidade afirmou que poderá recuar da paralisação total por um dia, como foi em abril. Segundo o sindicato, "não pode ser greve só dos trabalhadores do metrô", sem o apoio das demais entidades do setor de transportes.

O presidente do Sindicato dos motoristas de ônibus, José Valdevan de Jesus Santos, o Noventa, reforçou a dificuldade para mobilizar os trabalhadores. "Eles querem saber quem vai garantir o emprego deles se participarem da greve", disse Noventa. Para o dirigente sindical, a greve de sexta-feira "vai ser muito menor do que a anterior, de abril", considerada como a "maior greve da história" pelas centrais sindicais. "Vai ser um dia de luta, não uma nova greve geral. Não teve tempo para mobilizar as categorias e a maioria não vai participar", disse Noventa.

A unidade das centrais sindicais em torno da greve geral e em defesa do "Fora, Temer", como foi na paralisação de 28 de abril, se desfez na semana passada, quando a Força Sindical decidiu não apoiar, de forma institucional, a greve. Dias antes do recuo, o presidente da central, deputado Paulo Pereira da Silva (SD-SP), recebeu acenos de Temer às demandas da entidade.

A ameaça de greve de aeroviários e comissários de bordo e dos trabalhadores de portos, que aconteceu nas vésperas da paralisação de abril, não se repetiu. Nem a adesão de dezenas de escolas particulares - que entram na próxima semana em férias.

Dirigente da frente Brasil Popular, que reúne dezenas de movimentos sociais e sindicais, Raimundo Bonfim relata o esforço para levar milhares de pessoas às ruas novamente, contra as reformas e o governo Temer. "Percebemos uma certa exaustão da mobilização, depois de duas greves gerais, em março e abril, do ato em maio em Curitiba, quando Lula foi prestar depoimento e depois o ato em Brasília no fim de maio, contras as reformas. Estamos fazendo um esforço para manter a mobilização", disse Bonfim, que coordena também a Central de Movimentos Populares. "Os movimentos sociais estão em uma jornada prolongada. Mas continuamos na rua. A direita não continua".

O presidente da CUT de São Paulo, Douglas Izzo, disse que a expectativa da central é em relação a um ato dos trabalhadores na avenida Paulista, em protesto às reformas trabalhista e da Previdência. O sindicalista, no entanto, evitou usar o termo "greve geral". A CUT-SP afirmou que da Paulista os movimentos irão até a prefeitura protestar contra o prefeito João Doria (PSDB).

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4285, 28/06/2017. Política, p. A10.