Mercado supervaloriza Palocci, avalia investigador

André Guilherme Vieira

28/06/2017

 

 

Um investigador que atua na Operação Lava-Jato avalia que o mercado está valorizando excessivamente a proposta de delação premiada do ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil nos governos do PT, Antonio Palocci, que tenta fechar acordo com o Ministério Público Federal (MPF) e tem prometido fazer revelações sobre bancos, agentes financeiros e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

"Me parece que o pessoal está supervalorizando a delação do Palocci. Eu acho que existe, logicamente, a possibilidade de uma colaboração premiada contribuir com investigações que estão em curso. Mas uma investigação não pode depender de uma colaboração", diz o investigador ouvido pelo Valor reservadamente.

Ele menciona a fase da Lava-Jato que investiu sobre as empreiteiras, a 'Juízo Final', deflagrada em novembro de 2014, para fazer um paralelo com as expectativas criadas pela negociação entabulada por Palocci com o MPF na tentativa de conseguir uma delação premiada.

"Eu tenho muita ressalva a esse tipo de argumento apocalíptico do tipo 'ah, se acontecer isso vai acabar o mundo'. Veja as próprias empreiteiras investigadas em 2014. 'Se os empreiteiros forem processados o Brasil vai para o buraco', muitos afirmaram na época. E veja só, o país não foi para o buraco. Logicamente que se perderam empregos, mas outros foram conquistados. Empresas saíram de um ambiente promíscuo de ilícitos e a vida segue", diz.

Na opinião desse investigador, o "clima apocalíptico" criado a partir da divulgação de que Palocci contratou escritório de advocacia para buscar delação foi ampliado pela fala do ex-ministro, durante interrogatório prestado ao juiz federal Sergio Moro, em abril. Ouvido em ação penal a que responde por corrupção e lavagem de dinheiro, Palocci abriu mão do direito de ficar em silêncio e disse ao juiz que se colocava à disposição para "revelar nomes e operações de interesse da Lava-Jato".

"Uma colaboração como essa [a que Palocci negocia] é algo que demora. Não é simples. Se eventualmente vier a ser feita não será da noite para o dia. E é algo que exige uma série de provas de corroboração. Afinal de contas, trata-se de um altíssimo [ex-]agente [público] que circulou e, segundo já foi revelado por diversos colaboradores, participou de grandes esquemas ilícitos", conclui o investigador.

Palocci foi condenado a 12 anos, 2 meses e 20 dias de prisão, anteontem, pelo juiz federal Sergio Moro, titular dos inquéritos e ações penais da Lava-Jato relacionados à Petrobras na primeira instância da Justiça Federal do Paraná. A sentença se deu em processo penal em que o petista é réu por suposta atuação no interesse da Odebrecht nos governos do PT, e por envolvimento em esquema de corrupção que estaria vinculado à criação da Sete Brasil - empresa constituída fora do balanço da Petrobras e com recursos da estatal, de bancos e fundos para a construção de 28 sondas destinadas à exploração de petróleo na camada pré-sal.

Na sentença, Moro tomou como "ameaça" a disposição de Palocci em fazer delação. Para o magistrado, o aceno tratou-se de " ameaça para que terceiros o auxiliem indevidamente para a revogação da [prisão] preventiva, do que propriamente como uma declaração sincera de que pretendia naquele momento colaborar com a Justiça". Palocci está encarcerado desde setembro de 2016.

De acordo com a Lava-Jato, Palocci gerenciaria uma espécie de conta corrente da Odebrecht com R$ 200 milhões que se destinaria ao pagamento de propinas para ele, o ex-presidente Lula e o PT.

Palocci também responde à outra ação penal que tramita na 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba sobre suposta propina de R$ 12 milhões paga pela Odebrecht e da qual o ex-presidente Lula seria beneficiário. O processo trata da promessa de vantagem indevida que teria envolvido a aquisição de imóvel pela construtora para a instalação de uma nova sede para o Instituto Lula. A intermediação do negócio, que não se concretizou, contou com a interveniência de Palocci, segundo o MPF.

Procurada, a defesa do ex-ministro não foi localizada até o fechamento desta edição.

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4285, 28/06/2017. Especial, p. A16.