Temer indica Raquel Dodge para a PGR

Andrea Jubé e Bruno Peres

29/06/2017

 

 

O presidente Michel Temer indicou ontem à noite a subprocuradora Raquel Dodge para assumir a Procuradoria-Geral da República a partir de setembro, quando expira o mandato de Rodrigo Janot. Com a escolha, Temer quebra a tradição de mais de uma década de indicação do nome mais votado em lista tríplice da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR). Do grupo adversário de Janot na instituição, Raquel foi a segunda mais votada na relação entregue ontem a Temer.

Raquel obteve apenas 34 votos a menos que o subprocurador Nicolao Dino, aliado de Janot e o primeiro da lista, numa disputa equilibrada. Ela se reuniu ontem no início da noite com Michel Temer, conduzida ao Palácio do Planalto pelo ministro da Justiça, Torquato Jardim. Além do apoio de Torquato, Raquel tinha o respaldo dos principais aliados de Temer, como o ex-presidente José Sarney, o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes e o ex-ministro da Justiça, Osmar Serraglio, além de lideranças do PMDB.

Uma de suas plataformas é atuar para preservar o sigilo das delações premiadas no âmbito da Operação Lava-Jato. Essa pauta atrai a simpatia dos políticos investigados, que têm de dar explicações sobre as denúncias de delatores. Para isso, ela defende a criação de um "protocolo de compliance" para a sistematização de informações do Ministério Público Federal, de modo a controlar quem tem acesso aos dados sigilosos.

A escolha de Raquel era considerada carta marcada no Planalto, mas havia uma divisão entre auxiliares de Temer quanto ao momento do anúncio. Prevaleceu a ala dos aliados que defendiam que Temer fizesse o anúncio o quanto antes, no intuito de enfraquecer Janot na expectativa de que a sucessora divida as atenções com o atual titular. Outra avaliação é de que essa estratégia não prospera porque de todo modo a "caneta" continua com Janot até setembro.

Temer recebeu a lista tríplice ontem de manhã das mãos do presidente da ANPR, José Robalinho, que foi ao Planalto acompanhado do ministro da Justiça.

Torquato já havia informado Robalinho que Temer, pela Constituição, poderia nomear o novo procurador-geral escolhendo entre todos os procuradores da corporação, sem obedecer a lista. A escolha de um nome da lista seria apenas uma convenção, uma prática do governo do PT.

Robalinho havia garantido, em entrevista ao Valor, que a associação que preside nunca defendeu que fosse indicado o primeiro da lista. Quem exigia que isso ocorresse, segundo ele, era outra agremiação, o Conamp, que congrega o Ministério Público estadual.

Evidentemente, contou Robalinho, a lista tríplice nunca foi organizada por ordem alfabética, e, sim, por ordem de votação recebida na eleição pelos pares. Assim, o mais votado sempre ficou em primeiro lugar. Deste modo, a ANPR ficaria confortável com a escolha de qualquer nome, desde que saísse da lista.

Desta vez, foi uma votação equilibrada. O primeiro colocado, Nicolao Dino - aliado de Janot -, obteve 621 votos. Raquel aparece em segundo lugar, com 587 votos. Em terceiro lugar veio Mario Bonsaglia, com 564 votos.

Desta vez, não ocorreu como na votação de 2015, quando Janot alcançou 799 votos para sua recondução e o segundo colocado menos de 500, uma diferença pequena mas bem mais significativa do que o placar da lista de ontem. (Colaboraram Maíra Magro e Rosângela Bittar)

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4286, 29/06/2017. Política, p. A9.