Renan deixa liderança do PMDB no Senado antes de ser destituído

Vandson Lima e Fabio Murakawa

29/06/2017

 

 

Renan Calheiros (AL) não é mais o líder do PMDB no Senado. Diante da pressão da bancada e do governo, que pretendia destituí-lo após ele anunciar que poderia trocar integrantes da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) para alterar a votação do projeto de reforma trabalhista, Renan renunciou ao posto. E saiu atirando, acusando o governo do presidente Michel Temer de ser "comandado" pelo ex-deputado Eduardo Cunha diretamente da cadeia em Curitiba.

"Como mudar o pensamento de um governo comandado por Eduardo Cunha, que, mesmo na prisão, seguia influenciando e, os fatos demonstram, até recebendo dinheiro?", acusou. A bancada do PMDB decidirá na terça-feira o novo líder. Após as recusas de Jader Barbalho (PA) e Garibaldi Alves (RN), a tendência é que Raimundo Lira (PB) assuma o posto. Ele é um nome próximo do presidente do Senado, Eunício Oliveira (CE).

Renan, que tem cogitado a possibilidade de uma aliança em 2018 com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para viabilizar sua reeleição no Senado e de seu primogênito, Renan Filho, no governo de Alagoas, acusou o presidente Michel Temer de uma "postura covarde" e de querer subjugar o PMDB. "Não detesto Michel Temer. O que eu não tolero é sua postura covarde diante do desmonte da consolidação do trabalho", disse. "O entorno do presidente apodreceu".

"Permanecer na função [de líder] significaria ceder às exigências de um governo que trata o PMDB como um departamento do Poder Executivo e optou por massacrar trabalhadores e aposentados, desviando-se do próprio programa partidário. Governo fundado num embuste, sem compromisso com programas sociais, não é governo", apontou Renan. "Não tenho a menor vocação para marionete. O governo não tem credibilidade para conduzir essas reformas exageradas, desproporcionais. Entre sociedade civil e o governo desacreditado e contraditório, fico com a sociedade civil".

Ex-presidente do Senado por quatro mandatos, Renan afirmou que a partir de agora será "independente". Em uma provocação ao líder do governo - e seu aliado ao longo dos últimos anos -, senador Romero Jucá (RR), Renan lembrou o episódio da divulgação da conversa gravada entre ele e o delator e ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado. E ironizou as previsões à época feitas pelo correligionário. "No meio daquela canalhice promovida por Machado, surgiu uma frase dita pelo Jucá, que o impeachment não saía porque eu tinha certeza de que o Eduardo Cunha mandaria no governo Temer", lembrou. "Naquela oportunidade, o meu querido Romero afirmou ao seu interlocutor que Eduardo Cunha estaria politicamente morto. Melhor se fosse assim. Ledo engano".

E arrematou: "Os últimos acontecimentos comprovam sua total influência no governo [de Cunha], recompondo lideranças no recesso do Carnaval, nomeando ministros, dando as ordens diretamente do presídio e apequenando o presidente, cuja República periclita nas suas mãos".

Com a destituição, Renan perde a prerrogativa de indicar quais pemedebistas comporão as comissões e relatarão matérias em análise pelo Congresso.

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4286, 29/06/2017. Política, p. A10.