Corrupção na PM é alvo de megaoperação no RJ

André Ramalho

30/06/2017

 

 

A Polícia Civil do Rio de Janeiro realizou ontem, em ação conjunta com a Polícia Militar e Ministério Público, uma megaoperação para cumprir 96 mandatos de prisão preventiva contra PMs acusados de receber propina do tráfico de drogas na cidade de São Gonçalo, na região metropolitana do Rio. A Operação Calabar foi anunciada pela Polícia Civil como a maior de combate à corrupção policial da história da corporação e cumpriu mais de 80 outros mandados contra traficantes e outros criminosos envolvidos num esquema que movimentou, segundo as investigações, R$ 12 milhões ao ano.

Entre os crimes cometidos pelo grupo de policiais militares denunciados por corrupção passiva e organização criminosa, estão incluídos desde casos de revenda de armas apreendidas até sequestros de traficantes. De acordo com as investigações, o pagamento de propina era feito semanalmente por traficantes a agentes intermediários contratados pelos PMs.

As investigações tiveram início, com a prisão, em 2016, de um suspeito apontado como responsável por recolher propina para policiais. A delação premiada desse agente, que fazia o elo entre os policiais e traficantes ligados sobretudo à facção Comando Vermelho, permitiu aos investigadores interceptar mais de 200 mil ligações telefônicas entre PMs e traficantes e, assim, elaborar os inquéritos.

"Esse delator era um elo, foi contratado por policiais para ser um elo com os traficantes. Tinha a função de arrecadar valores semanais e entregar aos PMs, fazer a venda de armamentos apreendidos pelos policiais. E recebia participação dentro dos valores arrecadados [pelo esquema de propina]", disse o delegado Fábio Barucke, titular da Delegacia de Homicídios de Niterói e São Gonçalo.

Barucke mencionou que armas apreendidas eram vendidas em outras comunidades por policiais corruptos, sem que acontecesse a apresentação dos materiais em delegacias. Além disso, há ao menos três casos identificados de sequestros de traficantes.

"Sequestravam como forma de receber ainda mais rápido a propina, até mesmo aumentando o seu valor. Faziam para que não houvesse inadimplência", explica o delegado. "O que se buscava [no esquema] era uma divisão financeira dos lucros adquiridos pelos traficantes em troca de proteção e liberdade para atuar em suas áreas. Os maus policiais fechavam os olhos e deixavam traficantes atuarem livremente e, ao final, havia a divisão dos lucros", completou.

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4287, 30/06/2017. Brasil, p. A2.