Nível de incerteza econômica é o maior em 2 anos

Alessandra Saraiva

30/06/2017

 

 

A piora do ambiente político registrada a partir da divulgação da gravação de conversa entre o empresário Joesley Batista, da JBS, e o presidente Michel Temer, levou o Indicador de Incerteza da Economia (IIE), da Fundação Getulio Vargas (FGV), a atingir neste mês o maior patamar em quase dois anos.

O índice subiu 14,4 pontos ante maio, para 142,5 pontos, o mais elevado nível desde agosto de 2015 (143 pontos), poucos meses antes de o então presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB), aceitar o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), assinalou o economista da fundação Pedro Costa Ferreira.

O especialista acrescentou que o aumento de 14,4 pontos foi o mais forte para o indicador desde outubro de 2008, quando subiu 35 pontos ante setembro, para 135 pontos - época apontada como o início da crise global com a quebra do banco Lehman Brothers A série do Indicador de Incerteza da Economia começa em 2000. Para o economista, a tendência é que o índice continue em alta nos próximos meses.

O aumento do IIE-Br em junho ocorreu nos componentes mídia e expectativa. O componente que mais influenciou o aumento foi o IIE-Br Mídia, com alta de 14,8 e contribuição de 13,1 pontos para a evolução do IIE-Br no mês.

Já o IIE-Br Expectativa aumentou 11,3 pontos, contribuindo com 2,8 pontos para o crescimento do indicador agregado de incerteza. O IIE-Br Mercado foi o único componente a apresentar queda, de 12,1 pontos, e impacto de -1,5 pontos no IIE-Br.

Segundo Ferreira, em junho, houve uma ligação direta entre ambiente político e importantes decisões com impacto na economia. As reformas trabalhista e previdenciária, bem como medidas de ajuste fiscal, estão dependendo de decisões políticas, disse o economista.

"Outras crises políticas realmente não afetaram tanto o indicador de incerteza, mas, hoje, o 'econômico' está com uma ligação direta com o 'político'. Hoje, para a economia funcionar ela depende muito das condições políticas", avaliou.

Outro aspecto que conferiu maior singularidade à atual crise política foi o "fator surpresa". Ferreira observou que "ninguém esperava" uma conversa gravada que envolvesse o presidente da República em uma suspeita de corrupção passiva. "Podemos dizer que teve um 'efeito choque'. As pessoas não estavam esperando que isso acontecesse", reiterou.

O especialista não descartou a possibilidade de o indicador manter tendência de crescimento nos próximos meses. Pelas notícias mais recentes na área política esta semana, a atual crise não dá sinais de perda de fôlego. Na quarta-feira, o ministro Edson Fachin do Supremo Tribunal Federal (STF), decidiu enviar à Câmara dos Deputados a denúncia de corrupção passiva da Procuradoria-Geral da República contra Temer.

"Não está muito claro o que vai acontecer no futuro", admitiu ele, reconhecendo que os fatores, até o momento, apontam para continuidade de crescimento na incerteza na economia. O índice do mês abrange período de coleta de informações entre os dias 26 de maio a 25 de junho.

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4287, 30/06/2017. Brasil, p. A4.