Dúvida sobre reformas é entra à retomada, diz Ipea

Juliana Schincariol

30/06/2017

 

 

O aumento das incertezas sobre a capacidade do governo conseguir aprovar as reformas e superar a questão fiscal são os maiores entraves para a retomada da economia, na visão do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). "As reformas continuam sendo fundamentais para que se consiga ter uma retomada mais consistente. Dependemos muito das expectativas que o mercado tem acerca do ajuste fiscal de longo prazo porque isso pode afetar o risco-país e taxa de câmbio", afirmou o diretor de estudos e políticas macroeconômicas do Ipea, José Ronaldo de Castro Souza Jr.

O Ipea divulgou a Carta de Conjuntura referente ao segundo trimestre de 2017. O cenário, segundo Souza Jr., já prevê uma incerteza maior e uma lentidão na aprovação das reformas. "Mas ainda considera que haverá espaço para reformas, para que se sinalize um ajuste fiscal de longo prazo", afirmou.

A expectativa é que pelo menos a reforma trabalhista deva ser aprovada. A reforma previdenciária, ainda que tenha sua tramitação no Congresso atrasada, tende a avançar. Isso, segundo o Ipea, alimenta a percepção de que as mudanças estruturais seguem seu curso, mesmo em ritmo mais lento que o desejável e com possíveis reduções de escopo.

O Ipea pondera, no entanto, que tem aumentado a preocupação com a situação fiscal, em meio a uma arrecadação de tributos decepcionante e aumento de gastos obrigatórios.

"Fica cada vez mais claro que o cumprimento da meta de déficit primário para este ano dependerá de receitas extraordinárias, o que, por sua vez, ainda exigirá mobilização do Congresso para aprovar medidas que as viabilizem, como o novo Refis e o novo programa de repatriação de ativos", diz o documento.

De acordo com o economista do Ipea Paulo Levy há necessidade de cumprir a meta fiscal, mesmo que as reformas não sejam aprovadas no tempo previsto. "Seria muito importante pelo menos cumprir a meta fiscal de 2017. Isso deve exigir um esforço do governo", afirmou, acrescentando que sem a aprovação das reformas há o risco de elevação de impostos.

O Ipea nota que o aumento da incerteza sobre a viabilidade da meta fiscal e do ajuste de longo prazo tem "turvado" um cenário que já era complexo. Os indicadores de confiança mostraram queda acentuada em junho.

Um dos maiores impactos com a divulgação do conteúdo da delação de Joesley Batista, um dos donos da JBS, foi na expectativa de retomada dos investimentos, que se esperava que fosse mais intensa. "Eles precisam de uma previsibilidade maior", afirmou Souza. Como é comum ocorrer em períodos de retomadas cíclicas, esperava-se que os investimentos fossem um dos principais guias para o crescimento da demanda, segundo o Ipea.

A entidade avalia, no entanto, que as turbulências políticas afetam negativamente a retomada econômica, mas não impedem a continuidade do processo de recuperação. Para o Produto Interno Bruto (PIB), a projeção é de crescimento de 0,3% em 2017 de 2,3% em 2018. "O crescimento em 2017 é explicado predominantemente pelo setor agropecuário", diz o Ipea. Em 2018, a expectativa é de um crescimento homogêneo entre os setores produtivos.

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4287, 30/06/2017. Brasil, p. A4.