Governo troca comando de Furnas para atender presidente da CCJ

Andrea Jubé e Raphael Di Cunto

30/06/2017

 

 

Às vésperas de o presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), definir o relator da denúncia contra o presidente Michel Temer pelo crime de corrupção passiva e conduzir a votação, o governo se movimenta para atender uma reivindicação do pemedebista e substituir o atual presidente de Furnas, Ricardo Medeiros. A mudança pode entrar na pauta da reunião do Conselho de Administração da estatal programada para hoje.

O indicado para o comando da estatal, principal subsidiária da Eletrobras, é o atual diretor de Administração, Júlio Cesar Andrade, que chegou ao cargo com apoio do senador Romário (Podemos-RJ), mas recebeu a chancela da bancada do PMDB de Minas há dois meses, por conta da insatisfação com a "falta de ajuda" de Medeiros.

O presidente da CCJ reconheceu a indicação, "apoiada por toda a bancada do PMDB de Minas", mas negou qualquer relação de favorecimento. "É muito inusitado que se esteja tratando desse assunto agora. A indicação da presidência de Furnas é do PMDB de Minas há muito tempo e o pedido de substituição também é antigo", afirmou.

O governo quer que Pacheco indique um relator contrário à denúncia, que precisa ser aprovada pelo plenário da Câmara para ser analisada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Os favoritos do Palácio são os deputados Jones Martins (PMDB-RS) e Alceu Moreira (PMDB-RS), mas o presidente da CCJ tem defendido que o relator seja independente.

"A situação do presidente da República na CCJ é muito mais ampla, é uma questão grave que tem que ser tratada com isenção. Reafirmo que não aceitarei interferência do governo em nenhuma circunstância", disse Pacheco, que escolherá o relator na terça-feira e decidirá as questões de ordem da tramitação na CCJ.

Funcionário de carreira da estatal, o indicado do PMDB foi alçado ao cargo no julgamento do impeachment no Senado. Capixaba, ele se formou em engenharia de produção por uma universidade privada de Campos de Goytacazes, no Rio de Janeiro (Isecensa-RJ), e tem pós-graduação em negócios no setor de energia elétrica na Fundação Getulio Vargas (FGV). Andrade e Romário conheceram-se numa partida de futebol em Vitória.

Medeiros é engenheiro elétrico e foi um nome técnico encontrado por Rodrigo Pacheco quando o Planalto garantiu à bancada do PMDB mineiro a indicação do cargo. Na ocasião, teve o aval dos seis deputados, além do presidente regional da sigla e vice-governador de Minas, Antonio Andrade. Agora, dos seis integrantes, apenas um é contrário à mudança do presidente da estatal, o deputado Mauro Lopes. Os demais estão dispostos a apadrinhar o indicado de Romário, considerado mais afável e atencioso com os parlamentares que o atual presidente.

A dança das cadeiras em andamento ocorre na sequência da comemoração pelo Palácio do Planalto de um ano da nova Lei de Responsabilidade das Estatais, em que Temer cobrou "responsabilidade" de toda a administração pública. Após a solenidade, o ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira, reconheceu que o governo continua recebendo indicações políticas e pode acatá-las, desde que observados os requisitos legais, como não ser dirigente partidário, e a qualificação técnica para o cargo. "Todas as nomeações hoje passam pela avaliação do cumprimento das regras da nova leis", disse.

O conselho de administração de Furnas se reunirá hoje e a substituição deve entrar na pauta, informou nesta semana o presidente da Eletrobras, Wilson Ferreira Júnior. Fontes, contudo, informaram que a troca não estava certa - funcionários da estatal apresentavam resistência.

Além da análise da denúncia pela CCJ, a troca também atende aos deputados mineiros, que reclamam que este é o primeiro governo na história que não tem um ministro do Estado. São 53 deputados que votarão pela continuidade - ou arquivamento - da denúncia. Uma maioria de insatisfeitos com a gestão de Furnas. (Colaborou Daniel Rittner)

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4287, 30/06/2017. Política, p. A6.