Título: Sob nova direção
Autor: Ribas, Sílvio
Fonte: Correio Braziliense, 10/02/2012, Economia, p. 10

Governo anuncia troca no comando da Petrobras no mesmo dia em que a empresa divulga a redução de 5% no lucro líquido de 2011. Decepção entre os investidores

O Conselho de Administração da Petrobras anunciou ontem reformulação na diretoria executiva da estatal. Além de ratificar o nome de Maria das Graças Foster como presidente da maior empresa da América Latina, confirmou a criação da diretoria Corporativa e de Serviços, que deverá ser ocupada por José Eduardo Dutra, ex-presidente da companhia e ex-comandante do PT. O cargo, porém, precisa ser submetido à deliberação dos acionistas em assembleia geral extraordinária que ainda será convocada. Se Dutra for empossado, ficará responsável pelas áreas de organização, gestão e governança; recursos humanos; segurança e meio ambiente, eficiência energética e saúde e serviços compartilhados.

Já José Alcides Santoro Martins, funcionário de carreira da companhia e gerente executivo de Operações e Participações em Energia, substituirá Graça Foster na diretoria da Gás e Energia da estatal. O engenheiro civil José Miranda Formigli Filho responderá pela diretoria de Exploração e Produção, substituindo Guilherme Estrella, que deixará a empresa. Estrella já havia manifestado interesse em se aposentar. Funcionário da Petrobras há 29 anos, Formigli ocupa, desde maio de 2008, o cargo de gerente executivo de Exploração e Produção do pré-sal.

O novo comando da estatal, sob a liderança da rígida Graça Foster, que sucederá José Sérgio Gabrielli, foi confirmado em um dia nada agradável para a Petrobras. Ontem, logo depois do fechamento do mercado, a estatal informou que registrou lucro líquido de R$ 33,3 bilhões em 2011, com queda de 5% sobre os R$ 35,2 bilhões do ano anterior. Somente no quarto trimestre, o ganho foi de R$ 5 bilhões, metade dos R$ 10,6 bilhões no mesmo período de 2010. O mercado estimava um resultado melhor, de R$ 9 bilhões.

Reunidos à tarde em São Paulo, os representantes dos acionistas acataram a indicação da executiva feita pelo presidente do conselho, o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Em 23 de janeiro, a Petrobras já havia informado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) que o governo apresentaria o nome de Graça para assumir o comando da petrolífera. A posse dela está prevista para a próxima segunda-feira, com a expectativa da presença da presidente Dilma Rousseff, sua amiga.

A confirmação da nova diretoria na mesma reunião em que se aprovaram os resultados da Petrobras deixou os números bastante ruins em segundo plano, sobretudo os de extração de óleo e gás, responsabilidade da executiva. Em nota, a Petrobras destacou que, apesar do crescimento do volume de vendas no mercado interno ter sido 6% superior a 2010, com destaque para o aumento das vendas de óleo diesel (9%), gasolina (24%) e querosene de aviação (12%), o resultado final foi prejudicado pela elevação das despesas operacionais e de maiores custos com importação de petróleo e derivados.

Segundo analistas, as ações da Petrobras caíram 18% em 2011 em razão da produção de petróleo aquém do projetado e da crescente influência do Estado sobre as decisões da companhia. As metas de produção não foram atingidas pelo segundo ano seguido, o que decepcionou os investidores. Apesar de tocar o maior plano quinquenal de investimentos de sua história, a exploração de petróleo em dezembro foi inferior à de 2010.

No ano passado, o incremento da produção foi limitado por paradas para a manutenção das plataformas da Bacia de Campos (RJ), responsável por mais de três quartos do petróleo extraído pela companhia, e pelo declínio dos campos mais antigos. As interrupções e os trabalhos de reparação, que vieram na esteira de mais exigências na segurança para os trabalhadores e de reclamações ambientais, devem continuar neste ano, mas em ritmo mais lento. A recuperação só deverá vir em 2013.

Graça Foster terá o desafio de cumprir o ambicioso plano de negócios da empresa, que até 2015 prevê investimentos de US$ 225 bilhões, e levar adiante a exploração do pré-sal. Isso implicará a necessidade de contratação pesada de recursos humanos, financeiros e tecnológicos, destacou o consultor Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE). Para ele, a escassez de mão de obra e de bens e serviços oferecidos no Brasil tornará ainda mais difícil cumprir as exigências da política de conteúdo nacional mínimo.

Outra missão especial será colocar a estatal na frente da política de regularização da oferta de gasolina, diesel e até etanol, para conter preços e evitar efeitos sobre a inflação. "Com menos dinheiro para investir, o desafio da presidente da Petrobras é, ao contrário da gestão que a antecedeu, cumprir as metas", afirmou Pires. Ontem, o Conselho de Administração aprovou a maior licitação de sondas de perfuração com produção no Brasil: 26.

Demanda menor por petróleo A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) reduziu ontem novamente sua previsão de crescimento da procura mundial em 2012. O cartel diminuiu em 120 mil barris ao dia sua estimativa de aumento, para 940 mil barris ao dia. O anúncio ocorreu quando desacelera o crescimento econômico da Índia e da China e avançam os temores em torno do Irã. A Opep já cortou em quase um terço sua expectativa de expansão este ano. No relatório, o grupo diz que os problemas nas economias desenvolvidas afetam negativamente o mercado de petróleo e geram "considerável dose de incerteza" no curto prazo. Também cita a preocupação com a capacidade de a Europa sobreviver à crise da dívida, e também o apetite menor por gasolina entre motoristas dos EUA. No geral, o grupo cortou sua previsão para o crescimento mundial em 1 ponto percentual em 2012, para 3,4%.