O globo, n.30815 , 19/12/2017. SOCIEDADE, p. 24

EDUCAÇÃO EM NOVAS BASES

PAULA FERREIRA

 RENATO GRANDELLE

19/12/2017

 

 

Ênfase em competências para aplicar conteúdo é um dos principais acertos da BNCC

“É uma oportunidade para modernizar a concepção da escola para o século XXI” Anna Penido Educadora

Base Nacional Comum Curricular prevê estímulo ao uso de tecnologias digitais de comunicação de forma crítica e ética por alunos da Educação Básica. Para educadores, texto é inovador. Aprovada na semana passada após um processo de dois anos, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para a Educação Infantil e o Ensino Fundamental representa um avanço e tanto na melhoria do ensino básico no país ao dar ênfase às chamadas competências, estimulando os alunos a aplicar os conteúdos ensinados em sala de aula. É o que dizem educadores ouvidos pelo GLOBO sobre o documento, que vai nortear os currículos das escolas públicas e privadas de todo o país, provavelmente a partir de 2019. Em 466 páginas, o texto aprovado pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) e enviado para a homologação do Ministério da Educação (MEC) estabelece em detalhes o que de essencial qualquer aluno brasileiro tem que aprender em cada ano nas duas primeiras etapas da Educação Básica. A conclusão do processo da Base do Ensino Médio foi adiada para 2018, quando o MEC deverá apresentar a sua terceira versão.

A Base aprovada traz dez competências gerais a serem desenvolvidas na Educação Básica. Entre elas, está formular e defender ideias com base em fatos e informações confiáveis. O texto também estabelece o uso de tecnologias digitais de comunicação e informação de forma crítica, reflexiva e ética no cotidiano. A escola ainda terá que desenvolver o senso estético dos estudantes para reconhecer as diversas manifestações artísticas e culturais. Além das dez competências gerais, há as específicas para cada disciplina, que devem ser obtidas ao longo de cada etapa. Para educadores que analisaram o texto, a estrutura da Base é inovadora. O desafio agora será implementá-la. — Não se trata apenas de aprendizagem do conteúdo e do desenvolvimento intelectual, mas também do desenvolvimento emocional, cultural, físico e social — elogia Anna Penido, diretora do Instituto Inspirare. — Não adianta saber português e ter dificuldade de se comunicar. Ou saber matemática e não conseguir resolver um problema.

Anna lista as competências que devem ser dominadas pelo estudantes: conhecimento para intervir na realidade, pensamento científico, senso estético, comunicação, cultura digital, capacidade de argumentação, habilidade para formular um projeto de vida, ter senso de cidadania e preocupar-se com a ética inclusiva. — São mudanças conectadas com a contemporaneidade, mas ainda há desafios para saber como isso será traduzido na prática. É uma oportunidade para modernizar a concepção da escola para o século XXI — observa a educadora. A Constituição de 1988 já determinava a fixação de “conteúdos mínimos para o ensino fundamental”, mas só agora o Brasil terá uma Base Nacional Curricular. Até hoje, as instituições seguiam parâmetros emitidos pelo CNE sobre o que deveria ser ensinado em sala de aula. Ao longo dos anos, a sinalização para a confecção da Base foi reafirmada com a Lei de Diretrizes e Bases (LDB), em 1996, e o Plano Nacional de Educação (PNE), em 2014. Educadores defendem que o documento é fundamental para promover equidade no sistema de ensino do país.

A área de Matemática, um problema histórico da educação brasileira com baixo desempenho em marcadores internacionais, tem mudanças significativas na Base. Diretora do grupo Mathema, Katia Smole assinala que o documento contribui para que o estudante desenvolva autoconfiança para aprender os conteúdos da disciplina: — A Base traz uma inovação, que é trabalhar com o pensamento voltado para a álgebra desde o 1º ano do Ensino Fundamental. Não significa que vamos ensinar equações mais cedo, mas sim que vamos fazer com que as crianças comecem a desenvolver o pensamento algébrico. Isso tem um impacto importante em seu futuro: desde cedo os alunos buscarão padrões, analisarão regularidades e começarão a entender as relações numéricas. Hoje, só começam a aprender álgebra a partir do 7º ano. A abordagem de conhecimentos relacionados às novas tecnologias foi uma das principais temáticas incluídas na última versão da Base. Na área de Língua Portuguesa, por exemplo, foi incluída a necessidade de se aprender a analisar textos que circulam na internet. Diferentes tipos de linguagens, como gifs, memes e vídeos deverão ser trabalhados. A tecnologia acabou permeando o texto de outras disciplinas. Segundo Luís Carlos de Menezes, professor do Instituto de Física da USP, o ensino de Ciências também será incrementado: — Essas competências práticas servem para que o aluno julgue e tome posição